Chegou o dia que tanto esperava, ali estava ela ao fundo da sala... Anos passaram até àquele momento, o momento em que olharia para ela e iria perceber que iria estar sempre tudo bem!! Estava acompanhada, seria mesmo ela? Não se sabe. Foi ali que sentiu que poderia perder tudo... Deu uns passos na sua direcção e percebeu que não era só companhia e que não era outra, era ela... Foi ali que percebeu que já tinha perdido tudo, porque o se nunca teve nunca foi dele para perder. E o tudo que parecia ter iria perder, mais tarde ou mais cedo... Poderia ter ficado destruído, no entanto sentiu-se leve, desprendido de si, por momentos sentiu os pés soltarem-se do chão!! Caiu extasiado! Ah, como era leve a sensação de não ter nada a perder, a sensação de que já perdeu tudo, a sensação de que, como uma estrela extinta há milhões de anos, poderia ter tudo que no fim não seria nada, mas poderia brilhar até ao fim, sem medo de perder, de se perder. E não era ela, apesar dela ser ela... Poderia admirá-la, pelo menos e viver outra vida que não aquela, mas seria feliz, porque já perdera tudo e nunca ganhará nada. E no fim será igual, quer fosse de uma ou outra forma. No fim será nada!!
domingo, 29 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Uma onda qualquer que não é igual a mais nenhuma
Ele tinha sonhos que não podia contar a ninguém... Todos o iriam julgar um doido, teria de encontrar alguém como ele, alguém que entendesse que barulho era mais que ruído de tudo o que nos envolvia, precisava de encontrar alguém, que como ele, quisesse entender o barulho. Precisava encontrar alguém a quem pudesse contar que ficava sentado à varanda a ouvir o bater das ondas nas pedras, não pelo facto simples de acalmar toda a gente, mas a distinguir a forma como se desfaziam, a imaginar todas as histórias que onda que acabava de se desfazer poderia contar. Teria de encontrar a pessoa a quem poderia contar que muitas vezes ficava acordado a noite inteira a contar estrelas só até cinco e depois se perdia em pensamentos vagos. Tinha de descobrir alguém que compreendesse que a magia existia se acreditássemos nela, se não a tentássemos destruir, queria acreditar com alguém em histórias de fantasmas e ter medo e demorar a adormecer. Mas não, não poderia mostrar isso ao mundo, esse seu lado seria a autoestrada da sua destruição. Não. Vivia atrás de uma máscara, uma máscara de pessoa racional, que não acredita no poder da imaginação, que não se atreve a pensar mais que o vizinho do 3ºESQ. Cumpria tudo o que a sociedade há muito o havia tentado convencer a cumprir sem o atrevimento de questionar. Esquecido já da sua verdadeira essência, enganado pela máscara que criou para os outros, acreditou que era o homem da máscara e casou, diz-se que com uma mulher fantástica, daquelas que têm uma carreira fantástica e cozinham e arrumam a casa e só resmungam ao Domingo porque a novela dá muito tarde. Ele, o homem mascarado que se tornou na máscara um dia descobriu que ainda conseguia sonhar. Mas agora, agora já era tarde para sonhar, o tempo havia passado e sonhar já não fazia sentido. Tirava a máscara de quando em vez na varanda a ouvir as ondas baterem desesperadas contra as rochas, como as suas ideias batiam desorientadas contra a muralha que criou para o seu mundo. Agora, agora é tarde pensava a vizinha do 3ºESQ que também havia descoberto há alguns dias que ainda conseguia sonhar. Diz quem os conhece que nunca chegaram a falar sequer, não deviam gostar da máscara um do outro. Porque sem as máscaras teriam vivido as mais loucas aventuras que já se haviam contado. Juntos teriam voado, teriam acreditado, teriam uma vida mágica. Assim, assim mais não foram que dois desconhecidos, mascarados, longe da essência, longe deles próprios. Ah se eles soubessem que eram iguais e que podiam tirar a máscara um para o outro talvez ainda descobrissem o que aquela última onda teria para contar. É tarde, tão tarde. Mais uma onda, mais uma história, menos tempo, sempre menos tempo a cada onda.
domingo, 22 de dezembro de 2013
Gostar é
"Gostar é tão simples como teres uma caixa vazia e meteres lá alguma coisa... Deixa de estar tão vazia, e quanto mais se gosta, menos vazio há!"
Boas festas!!!
Em tempos de pouca esperança todos procuram uma saída , saída essa que incessantemente se procura e não encontra. E é nesta ânsia de procura descontrolada que se perdem as coisas mais pequenas e tão maiores. Portanto neste Natal não procuremos a felicidade de olhos fechados, sejamos atentos às pequenas acções, aos gestos tímidos de quem faz mais do que parece poder e lhe parece pouco, recebamos de sorriso aberto as prendas “pequenas” que enchem o coração de quem as dá. Não esperemos muito dos outros, façamos!! Feliz Natal.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Às vezes, quando se tem tudo, não se tem nada
Era um homem poderoso... Dele dizia-se não saber o dinheiro que tinha. Para ele as coisas não tinham valor algum, tinham apenas um valor simbólico na imensidão da sua fortuna. Os amigos, se é que lhe podia chamar assim, pouco mais custavam que um jantar de quando em vez. Dia sim muitos dias não, tinha a casa cheia de convidados vazios de vontade de estarem com ele. Nos outros dias tinha os empregados, perdidos por uma casa suficientemente grande para acolher uma aldeia inteira. Comprara tudo o que tinha e nem queria e no entanto sentia não ter nada. O dinheiro não lhe podia comprar a sincera amizade de alguém e o dinheiro fez com que fosse difícil alguém ser amigo dele. Viveu assim, como que cheio de vazio por dentro e farto de tudo por fora. Sempre que ponderava largar tudo e começar de novo pensava que era tarde demais, quando na realidade teria ido a tempo em qualquer altura que tivesse tentado. Nada fez, assim continuou. De quando em volta dava consigo perdido dentro de 4 paredes. Quando morreu perguntaram ao porteiro «Quanto é que ele deixou?» O porteiro respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos. (frase de António Lobo Antunes) No meio de tudo... viveu sempre sem nada... Acabou por deixar tudo e continuou com o nada que sempre teve.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Dias Diferentes
O dia de repente tornara-se mais escuro... Talvez começasse a anoitecer mais cedo em dias mais vazios, fazia sentido... Era estranho, nada fazia sentido agora... Foi por ali, por aquela altura, que entendeu que ela lhe fazia falta, não precisava de ser muito, bastava estar, atirar-lhe com a culpa volta e meia, dividir o tempo consigo a toda a hora. Sobravam minutos nas horas sem ela. Os caminhos não eram nada mais que sítios por onde se perdia onde antes foi na direcção de alguma coisa. A chuva que se lhe fazia cair nos ombros lembrava-o que um dia já dançara à chuva. Foi ali que percebeu que lhe fazia falta o mundo, o mundo dela, deles e de outros tantos. Foi ali que percebeu que sozinho nunca seria feliz para sempre. Foi ali que percebeu que não havia para sempre... E foi feliz.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Se o tempo fizesse todo o sentido
Num sereno fim de tarde ali se encontrava à porta de casa. Era estranho, sentia que não morava ali, não conseguia perceber porquê mas parecia-lhe fazer sentido morar na casa ao lado. Naquele preciso momento sentiu-se envolvido por uma estranha sensação de que todos os lugares que um dia foram seus, eram agora de outra pessoa qualquer, sentia-se ao lado, ao lado de casa, talvez ao lado de si. No entanto sentia-se perto de todos os sítios, sentia-se até perto de si, até perto de casa. A noite foi-lhe inundando o dia e o dia que antes fora seu desapareceu e passou para um dia de tanta gente. Olhava para si e não parecia ele. Era uma estranha sensação que não o deixava mover, por ali ficou... petrificado, assustado? Não conseguia entender, a única coisa que percebia é que não conseguia sair dali, de frente daquela casa que já não lhe parecia sua. Aos poucos e à medida que conseguia abrir espaço na mente, foi abraçando a noite. Talvez a noite lhe trouxesse respostas que o dia acabou por levar consigo. E por ali ficou até ser dia e a noite lhe fugir por entre os braços. Perdeu a noite... Em vão? Não... Durante a noite percebeu que aquele dia que foi e que lhe deixou a sensação de que ele não era ele, de que a casa dele não era sua, de que as suas memórias lhe não pertenciam. Esse tal dia que o deixou ali, à frente da porta da casa que fora dele, mostrou-lhe que estava à frente da sua casa, da que fora sempre sua. O que simplesmente desapareceu e lhe dava a sensação que nada era seu como já fora foi o passado. Entrou com coragem e encontrou o passado em gavetas pequenas, aconchegadas para serem esquecidas. Foi ali, naquele momento que se tornou imortal, foi ali que percebeu que as suas memórias eram passado, foi ali que percebeu que aquela era a sua casa de hoje e de amanhã. E de repente abriram-se todas as gavetas e perdeu-se na confusão. Confundiu o ontem com o hoje e amanhã já era tarde para ir dormir. Adormeceu. Ontem vai acordar e perceber que tudo não mais é que um sonho ou então vai perceber hoje que o sonho sempre foi real amanhã. Não se sabe, talvez ontem tudo faça sentido. Por agora deixa-mo-lo descansar até ontem e perguntamos-lhe o que aconteceu aos sapatos. Por amanhã fica assim descalço de memórias, ontem é um novo dia!!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
É só
Para ele escrever mais não era que ficar sempre que partia, era viajar pelo mundo inteiro sentado ao lume que lhe aquecia os pés frios, era voar sem tirar os pés do chão, era estar onde nunca estivera, era sair de onde sempre esteve. para ele escrever mais não era que amar sem nunca ter amado, era morrer e acordar amanhã. Para ele escrever era descansar quando estava cansado e cansar-se quando ainda não o estava. Era pensar sem pensar e esquecer de escrever e pensar porque escrevia. Era viver uma vida que não era sua, se calhar nem era a do vizinho, era inventar o mundo que nunca ninguém vivera. Escrever mais não era que ocupar o espaço vazio no papel, era um fugir do mundo sentado numa nuvem que se não via nem ouvia, era chover ao sol escaldante. Escrever, escrever era viver o que jamais poderá viver. Escrever não era muito mais que viver numa vida que era mais feliz, outras vezes mais triste, era manter o equilíbrio, escrever era o que o prendia ao chão. Escrever era o que o fazia voar até nunca ninguém voara, escrever era cair para cima. Era ir ao centro do mundo e voltar antes do pequeno almoço. Escrever era não acordar antes de adormecer. Era um viver sem limites, era limitar a imaginação. Escrever, escrever era só isso. Uma outra forma de vida que não é, tal como não ser, escrever não era nada.Também ele não seria nada. Se a escrita não o fizesse ser alguma coisa, todos os dias. Escrever é ser, é ficar, é existir para lá do tempo, para lá do mundo, para lá do amor e para lá de tudo o que se sabe. Escrever é só de um, mesmo quando é de muitos. Escrever é perder-se nas palavras e não se encontrar em pontos finais. Escrever... Ah... Escrever, escrever é cansar a alma até sossegar o desassossego. E escrever, escrever é só isso. Não morrer todos os dias.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Do medo sabe-se muito depois de se perder
Era qualquer coisa maior que ele, tinha a certeza. Pelo menos mais pesada que a sua existência. Sentia o peso a empurrá-lo para trás, como que se aquilo, o que era maior que ele, não quisesse que fosse tão para a frente. De todas as vezes que tentava atirar-se para um lugar desconhecido aquela coisa impedia-o, puxava-o para cima e deixava-o cair antes num chão pouco longe do que conhecia. Aos poucos foi aceitando aquele peso, aquela coisa que não conhecia. Mesmo ao deitar-se para descansar as pernas já adormecidas de tanto peso dava conta de que aquilo ia com ele para a cama e se fazia pesar agora no seu peito. Mal conseguia respirar. Aquela coisa começava a afirmar-se em todos os sítios que outrora foram leves. Antigamente só o impedia de ir mais longe, agora não o deixava sequer estar perto de si. Os momentos bons começaram a assumir a figura do peso que carregava. Os amigos começavam a ficar para trás, ou escondidos atrás daquela coisa enorme que se não via mas não deixava ver. O trabalho, esse ficou cada vez mais automático até o perder. A rotina foi trocada por outra, uma mais pequena, afinal agora não podia fazer tanto, carregava aquilo consigo e não podia ir tão longe. Com o passar do tempo a coisa maior que Ele tornou-se gigante. Não sabia o que era. Talvez aquela coisa tivesse sido sempre assim pesada. Se calhar já fora mais forte... Não conseguia entender. Ficou muitas vezes acordado a tentar ver o que nunca conseguira. Como seria possível ser tão maior que ele e ser invisível? Há muito deixara de acreditar na invisibilidade. Aos poucos foi-se questionando, começou a aceitar que poderia haver fantasmas, vidas mortas que vagueiam pelo seu caminho perdidas. Seria o cansaço do que carregava que já o obrigava a ponderar todas as possibilidades, mesmo as que nunca as seriam. Aos poucos a sua vida limitou-se a um ir assustado ao supermercado e a um tímido bom dia à vizinha da frente. Perdera tudo menos aquele peso que a cada dia se mostrava maior e mais insustentável. Um dia qualquer, já sem forças nem opções conseguiu ver o que o esmagara contra a realidade, conseguiu perceber o que o prendeu ao chão com correntes de ar. Correntes de ar daquelas que se ouvem quando se deixa a janela aberta e se não fecha a porta. Percebeu que aquela coisa maior que ele, maior que o mundo, maior que tudo era só o seu medo, a sua culpa. Não sabia por onde começar, mas sabia que havia uma saída. Aos poucos ensinou o caminho aos fantasmas que encontrou perdidos, aos outros disse para desistirem e aceitarem que não havia caminho com saída para eles. Aos poucos ficou leve, aos poucos voltou a aprender a viver. Aos poucos voltou a criar fantasmas que lhe alimentavam o medo. Mas agora já percebera que a vida é uma estada de um sentido só e deixava que os fantasmas o seguissem até se perderem. Sabia que o único peso que carregava era o seu. O medo e as decisões já não lhe pesavam nada. Os fantasmas não tinham peso, eram só isso, fantasmas pesados, perdidos, mortos.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Portishead - Roads
E todos por aí nos acusam de sermos a geração, dita, rascas. O que nem todos entendem é que, até hoje, fomos a melhor geração de sempre. O que nem todos entendem é que somos simplesmente as vítimas de umas gerações anteriores que não nos quis aproveitar, ou, no mínimo, não nos conseguiu garantir um futuro à nossa altura. Teríamos sido a geração mais capaz e mais eficaz num mundo, agora perdido, num mundo onde tudo o que se aprende tem de ser esquecido pelo caminho. Num mundo onde tudo o que se fez não serve de muito para o mundo onde nos querem inserir. Não somos maus. Somos bons, naquilo em que seria suposto sermos. Talvez nos pudessem criticar por não sermos capazes de aceitar o básico e o implementado socialmente, talvez... Mas... assim sendo, porque nos deram tanto acesso à informação? Bastava limitarem-nos e não seríamos mais do que o que os outros foram. Só não nos peçam para sair, quando somos mais capazes do que os que nos impedem de ficar.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
De madrugada
Era de madrugada. Acordou, como todos os dias, para volta a adormecer e acordar mais tarde. Por alguma razão que se não sabe, não voltou a adormecer... Ao contrário de todos os outros dias tinha tempo para ponderar toda a sua viagem até ali... Por ali pensava em como se esquecia o que ficou para trás, em como se larga o que se queria e se queria outra coisa que ainda se não queria. Percebia também que não percebia ainda o que poderia vir a querer mais do que o que queria. Talvez nem soubesse ser possível deixar de amar o que se ama para amar o que não se conhece ainda. Convencia-se de que, como a morte, também os amores têm de acabar. E tal como morrer na altura certa, não se deve deixar de amar na altura errada. Não conseguia entender como partira quando só queria ter ficado. Era quase como partir e deixar a alma lá atrás, mal arrumada, e chegar sozinho a outro lado qualquer. Talvez tenha mesmo de esquecer, talvez tenha só deixar de se lembrar. Talvez se não voltasse a ficar acordado a alma voltasse, ou se não voltar, pelo menos não se notará a sua ausência. Há que esquecer devagarinho, pensava. Talvez pudesse construir toda uma nova alma, talvez a alma nunca o tenho abandonado, talvez só tenha deixado para trás o que a tornava brilhante e quente. Bastava talvez voltar a enchê-la, não sabe com o quê... Tentava desesperadamente enchê-la de nada, só para se não sentir vazio. "tenho de aguentar este nada que me leva tudo" dizia de si para a alma distante e adormecida. Será que estaria doente?? Será que, tal como o corpo, a alma ficava mais fraca quando ferida? Voltou a adormecer, quando acordou não se lembrava porque tinha acordado... E tudo o que lhe varreu o pensamento foi perdido ao primeiro gole de café quente. Não se sabe se foi feliz, sabe-se que parte da sua alma ficou, como sangue fica quando se é ferido.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Monotonia
Se não fosse o nascer e o morrer, a vida mais não seria que como ir ao cinema e ver sempre o mesmo filme... Para sempre..
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Dos caminhos diz-se pouco
Ali se encontrava novamente aquele senhor sentado. Sentado naquela paragem frente a um muro alto. Todos os dias ali estava, todos os dias todos passavam indiferentes. "Talvez fosse doido" dizia de si para si toda a gente. "podia sentar-se na paragem à frente, é que nem 50 metros são" dizia uma ou outra pessoa que já não o estranhava ali, naquele mesmo sítio. Naquele dia não teve coragem de o interpelar. Continuou a sua viagem de sempre para o trabalho de algum tempo. Num outro qualquer dia, caminhava com mais tempo e menos orientação, a sua mente viajava para lá do seu caminho. Ali o viu novamente, chovia... Foi então que decidiu questioná-lo e confrontá-lo, afinal já chegava de olhar sempre para o mesmo muro!!
- Olhe, tenho passado cá todos os dias e encontro-o sempre aqui, de olhar parado naquele muro, o que faz aqui se não vê nada para lá do muro?
- Boa tarde rapaz, também te vejo passar todos os dias. Respondeu o senhor num tom meigo.
- Sim, mas eu passo e continuo o meu caminho, não fico a admirar uma parede branca, suja pela chuva e pelo pó.
- Continuas o teu caminho e o que vês para além do mesmo caminho de sempre? Lembras-te da última vez que aconteceu alguma coisa de diferente nessa tua viagem de todos os dias?
- O caminho é sempre diferente, nunca encontro as mesmas pessoas, nunca encontro as coisas no mesmo sítio, há sempre alguma coisa diferente.
- E alguma dessas coisas te prende a atenção, além do tempo que demoras a atravessá-la? Espera, não respondas, não há nada, bem o sei, já fui como tu, mais um "a caminho". Este caminho não mais é que o teu sítio, é como estar aqui, mas a andar. Também não vejo sempre a mesma parede, todos os dias há uma sombra diferente, todos os dias passa um carro que não é o mesmo, todos os dias esta parede é diferente, alguma coisa se atravessa de novo entre mim e ela. Podemos dizer que são formas diferentes de ver coisas diferentes todos os dias. Mas, À primeira vista, esta parede branca suja prende-me tanto a atenção como o caminho aberto que fazes todos os dias meu jovem.
- Sim, consigo perceber o que quer dizer... Mas podia, por exemplo espera na paragem da frente, é pertinho.
- Podia, podia ver a praia, o mar não era? Podia ver as pessoas a passearem à beira mar, podia ver tanta coisa. No entanto o que quero é ficar só aqui, longe dos olhos dos que poderia ver.
- Então está a esconder-se do mundo? Tem medo que o critiquem por o observar??
- Que me critiquem? Meu jovem, posso estar velho, mas não estou parvo, esteja onde estiver serei sempre criticado, não é isso que me inquieta. Estou bem aqui. Sabes? Vou contar-te algo que poucos sabem e outros tantos nem querem saber. Há muito tempo, há uns 30 anos, talvez... Costumava vir aqui, não havia ainda muro. A mulher com quem partilhei a minha vida murava aqui em frente. Ficava horas a percorrer esta rua até perceber que ela saía ou chegava. Continuava a caminhar, só para que ela não percebesse que a esperava.
- Entendo... Então a senhora de que fala já faleceu, era a sua esposa...
- Não meu jovem, essa senhora é a dona daquele café ali atrás.
- Mas... Essa senhora sempre foi casada com o dono do café, o senhor Joaquim!!
- Eu não disse que não fora, só disse que vinha para aqui para a observar. Acho que perdi tempo demais a escolher a melhor forma de lhe dizer bom dia, quando percebi já ela me tinha dito Adeus! Portanto, estar aqui, ou estar ali é a mesma coisa. A única coisa que devia mudar era a atitude. E como vês aqui estou, continuo sem falar com ninguém. E o resultado é o mesmo. O tempo é um caminho nesse caminho vamos encontrando uma ou outra paragem, ou podemos encontrar a casa. E para percorrer o tempo não precisámos de andar, precisámos de agir. E eu... Sou velho demais para agir e fui inocente durante tempo a mais enquanto jovem. Portanto meu jovem, não caminhes, age!!
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Jardim
Era um homem feliz... Acreditava que o amor um dia o levaria a uma casa... À casa que seria sua por direito, por amor... O que nunca havia compreendido é que o amor era apenas o meio para chegar a uma casa, depois de lá chegado, seria com amor e verdadeira dedicação, talvez algum sacrifício que construiria um lar, o que, ao fim de contas, procurava... Foi tarde que descobriu que o amor não chegava para construir um lar, foi tarde que percebeu que a casa nunca passaria disso só, de uma casa... Independentemente do seu tamanho, da sua fachada, da sua imponência, seria sempre uma casa, sem o amor que esperava como seu, como de direito... E assim foi até ao fim, uma fachada que escondia um amor que nunca seria. um lar que nunca existiria, nunca se percebeu se feliz se triste... Sabe-se apenas que foi sempre construindo mais uma coisa aqui, outra ali. No fim, a casa era um palácio... Tenho para mim que a grandeza exterior servia só para esconder o vazio de dentro. Mas esta é só a minha opinião, os outros quase todos acreditam que foi feliz. Toda a gente adoraria ter um lago no meio da sala. Ainda poucos sabiam que o jardim era a felicidade e que o resto eram só flores!
domingo, 17 de novembro de 2013
"Será chuva, será gente??" A felicidade não será certamente!!
À noite custava-lhe adormecer... Parecia ouvir passos na casa vazia, casa essa que já foi cheia, até o tempo lhe ter levado a alegria. Todas as noites ouvia os passos, era como que se alguém andasse por ali, perdido, desorientado. Os passos eram incertos, umas vezes mais seguros, outras vezes "assustados", como que se quem caminhava não tivesse a certeza de onde ia colocar o pé. Às vezes, durante o dia, tinha a mesma sensação. Por entre o silêncio daquela casa vazia estranhos barulhos faziam-se ouvir. Chegou, algumas vezes, a chamar os vizinhos que ficavam ali algumas horas, em silêncio, a tentar ouvir os barulhos. Nada ouviam. Nem os vizinhos nem ele. Era quase como que se quem por ali andava tivesse vergonha, ou só se sentisse à vontade com ele. Ou então, quem sabe, só queriam que o julgassem doido. Fantasmas... Talvez. Peritos foram chamados, nada encontraram. Mudou de casa. Os mesmos barulhos na outra casa. Aos poucos foi percebendo que era o passado que o atormentava e se fazia passear pela casa. Era o arrependimento a bater portas por todas as vezes que ele não as abrira. Era a felicidade, agora triste, a chapinhar na água da banheira. Era o amor a morrer a cada bocadinho. Era a chama da vida a apagar-se com o vento frio da sua alma que não chorava para fora. Eram os seus fantasmas a passearem-lhe pelo pensamento. Restava-lhe viver com eles ou não viver. Viveu assim até morrer, ou... talvez os tenha enfrentado, porque dele diz-se que meia e volta sorria e volta e meia parecia um sincero sorriso.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
"aquele que se..."
Mas o que enfim se não entende é que aquele que se prende a nós é quem nos prende a nós . ...
Em: oui je suis...noir:
Em: oui je suis...noir:
domingo, 10 de novembro de 2013
Era um político
Ele só poderia ser boa pessoa. Não o conheciam bem, mas não havia por onde questionar a sua bondade!! Todos sabiam que já havia comprado um daqueles presentes da missão sorriso, isto porque se fazia passear com ele na parte de cima da mala do carro. Volta e meia aparecia lá na Igreja e rezava junto com os outros, com a concentração de quem absorve cada palavra. Era visto constantemente no banco alimentar. Era visto muitas vezes a carregar o saco da D. Carlota quando voltava das compras. Não se sabia bem o que fazia, mas seria, com toda a certeza, um trabalho muito honesto e bem remunerado, a sua aparência não deixava margem de dúvida, era de certeza alguém socialmente importante e no entanto carregado de bondade. A forma como tentava ajudar todos os outros voltava a evidenciar esse aspecto...
E ao fim de tantos e tantos anos as pessoas voltavam a enganar-se, voltavam a acreditar na aparência deste senhor que poderia perfeitamente ser o pior de todos os homens. Dele sabiam que dava sempre uma moeda ao sem abrigo lá do sítio e que oferecia roupa velho a gente nova. O que nunca entenderam que isto era uma imagem que se poderia vender... Enganou toda uma sociedade cansada, toda uma sociedade que se diz ilumunada, toda uma sociedade inteligente. Toda uma sociedade que não foi capaz de ir mais longe que do óbvio. Ninguém desconfiou da sua perfeição, ninguém reparou na sua falta de carácter. Ninguém duvidou, todos se deixaram levar. E quando, por fim, roubou todas as casas de todos os habitantes daquela cidade, deram conta que já lhes haviam roubado o orgulho, a dignidade, o dinheiro, esse pouco importava agora. Roubaram tudo o que tinham de importante e agora ficavam sem nada. Até os seus mais queridos foi roubando, incentivando-os a deixar esta cidade e a ir para outro país. Foi um sem vergonha o que os roubou, enganou-os a todos com a imagem das boas acções que vendia a cada esquina. Agora era tarde e estes, os que se achavam muito inteligentes, estavam agora completamente perdidos. E aquele homem, nunca mais o viram. Juraram não se voltar a deixar enganar. E agora sabem que não vai acontecer, agora anda ali um jovem que lhes prometeu não deixar o outro fugir impune. A D. Carlota também está muito feliz, este até a leva de carro à farmácia comprar pomada para o joelho!!
Não sabia muito
Era um senhor... Os cabelos grisalhos faziam perceber que já algum tempo havia passado por ele. Carregava consigo toda a felicidade do mundo, sabia-o porque se notava o mais sincero e aberto sorriso que se lembra ter visto e começou aos poucos a perceber que esse sorriso se carregava mais de alegria quando se aproximava a visita de uma menina... Saltitante, estacionava o carro à sua porta e entrava, o senhor lá a esperava, de sorriso rasgado no rosto. Talvez adivinhasse de antemão que seria mais um momento perfeito na presença daquela enigmática menina. De lá, de longe, parecia-lhe uma menina discreta, parecia bonita, parecia querer passar pela vida sem dar nas vistas dos que não interessam, sabia-o pela forma como o senhor ficava antes da sua chegada. Para os outros, os que não a conheciam, nada simbolizava, para ele era como se mais a perfeita e harmoniosa pessoa do mundo entrasse por aquela porta, era como que se a solução de todos os seus problemas entrasse aos pulinhos alegres e contagiantes. À medida que o tempo foi passando, não se foi aproximando do senhor, afinal nunca o havia visto, só o havia imaginado. Mas foi conhecendo a menina discreta que lhe incendiava a felicidade. Agora percebia a alegria do senhor que nunca vira. Ela era capaz de transformar mais um dia no dia mais incrível de sempre, fazia-o fazendo pouco, sorrindo só, brincando com as palavras, arrancando o sentido bom de tudo o que os rodeava. Esta menina que queria passar ao lado dos olhares que lhe pouco importavam tinha a capacidade de nos fazer querer viver mais, cada vez mais, tinha a capacidade de nos fazer acreditar de que se poderia sonhar como outrora, fazia com que o mundo não parecesse apenas um lugar escuro e sombrio que nos arrastaria sempre para um buraco... Um simples abraço dela conseguia abrandar a velocidade a que a terra girava, um pequeno sorriso tímido fazia com que se fizesse parar o tempo ali, naquele momento, a leveza da sua genialidade fazia-nos andar para trás, até quando se acreditava na inocência. Era para ele evidente, para o senhor de cabelo gasto pelo tempo, que de cada vez que estacionava o carro à sua porta, nem que fosse para lhe dar um beijinho fugaz, todo aquele tempo, que poderia aos outros parecer quase nada, fosse mais um pedaço de felicidade que o alegraria até uma próxima visita. E seria sempre feliz enquanto soubesse que ela voltava... Dele sabia apenas que era mais feliz por ela... E sabe-se agora que continuará a ser feliz enquanto a vida o deixar e ela voltar... E sabe que hoje voltou a ser mais feliz.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
São os pilares.
E aos poucos foi-se apercebendo de que os pilares que sustentavam o seu mundo eram fortes, muito fortes. Seriam, talvez os únicos pilares capazes de o aguentar. E foi também aos poucos que se apercebeu que, apesar da força dos pilares, o seu mundo ia ruindo, devagarinho, quase como que a escorregar. Não caía, descia levemente, quase como se o mundo nunca tivesse sido pesado. Talvez tenha percebido nessa altura que tentava atirar o seu mundo para cima de pilares que não eram para o seu mundo. Mesmo assim, noutro qualquer mundo, os pilares nunca o deixaram cair desamparado, sustentaram e suportaram a sua queda e lá se mantiveram, fortes, indestrutíveis, inabaláveis. Eram sem dúvida pilares muito fortes, os mais fortes, só não eram seus.
Mais uma tarde no parque
Sentou-se, como há muita fazia, no banco de jardim gasto pelo tempo e pelo tempo que as pessoas ficavam por lá sentadas, a observar o mundo que se lhes atravessava à frente. Era um banco que teria histórias de gente nova, gente mais velha, gente que já não era e daqueles que nunca chegariam a ser gente. E era seu também, pelo menos por enquanto, sabia que não seria para sempre, mas durante aquele momento seria seu e aquele momento poderia prolongar-se por quanto tempo quisesse. Dali via uma criança a brincar com uma senhora, talvez fosse mãe, dali não se percebia. De mais perto também não, não os conhecia. Pareciam felizes mesmo quando a criança caía e chorava até a alma da mãe gritar de pânico mudo. Mais perto de si um senhor, rico imaginava, vestia-se bem e mexia freneticamente no telemóvel, como que se estivesse a fechar mais um grande negócio. Volta e meia ouvia-o gesticular e via-o falar e não, não era ao contrário, o barulho que fazia era gestual, as palavras saiam quase como que gestos discretos, daqueles que não se deve prestar atenção. Dali, de longe, tudo parecia perfeito, mesmo o não senso daquelas 3 pessoas. Dali a vida parecia o milagre que muitos dizem ser. Dali não ser percebia que era só um casal e o seu filho. Um casal que se não ouve, um casal distante próximo de uma criança. Dali não se imagina que fala ao telemóvel com os amigos, uma amiga, quem sabe, para combinar mais uma noite fora de casa, para compensar o tempo que passou ali, no jardim, longe da sua família. Não passava de uma forma de estar ainda mais distante deles. Dali não se conseguia perceber que a criança chorava sozinha e os gritos mudos da mãe nada tinham a ver com o choro ensurdecedor da criança. Eram gritos pelas palavras gestuais do seu marido, que não eram camuflados pelas palavras mudas dele. E assim crescerá mais uma criança perto dos pais e longe do afecto. Assim crescerá mais uma criança com um pai ausente, presente no trabalho e na vida dos amigos. Assim crescerá uma criança com os olhos postos na mãe sufocada por gestos que ainda não compreende e que um dia mais tarde virá a repetir, como se nunca os tivesse visto. E assim cresce o mundo à velocidade que se impôs.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Somos tudo, somos nada!!
Foram indestrutíveis durante tempo demais. Juntos formavam uma gota do tamanho do oceano. Juntos eram uma estrela do tamanho do universo. Era quase como que se todos lhes pudessem tocar e ninguém os conseguisse alcançar. Era como que olhar de longe e perderem-se na imensidão dos dóis. Assim foram até ser tarde demais. Afastaram-se do mundo, tornaram-se maiores, superiores pensavam, tornaram-se os donos da razão sem querer, enfim, tornaram-se insuportáveis. Diriam os mais distraídos que foram vítimas da sua própria intangibilidade. Cansaram-se um do outro, como o oceano se cansa de cada gota e o universo se perde por cada estrela. Aos poucos foram caindo, sozinhos, longe um do outro. Já não eram um oceano, agora mais não seriam que uma gota pequena, insignificante, perdida. Não seriam mais que uma estrela que ainda parecia brilhar lá ao longe, mas que ali ao perto era um pedaço de pedra em decomposição, uma implosão para fora que ninguém via. E assim... Sozinhos... Perderam-se num universo que nunca teria sido demais para eles se se não tivessem deixado afundar num pequeno oceano que não engolia o universo.
sábado, 2 de novembro de 2013
É para ganhar
Fazia de conta que não se importava com o que o rodeava. Era um fazer de conta tão bom que até a si se convencera. Parecia que não queria saber, parecia que não queria lutar, ouvia-se dizer muitas vezes que gostava de dar tempo às coisas e o que fosse seu a si viria. E assim viveu até dar conta de que se não lutasse haveriam coisas das quais nunca conseguiria chegar perto. Sempre fez de conta que não lutaria por amor, até perceber que o amor sente paixão por guerreiros. Sempre quisera esperar, nunca quis provocar. E ao que parece, assim quis continuar a viver. Voltava a ver-se numa situação igual e a fazer o mesmo de sempre, a perder, a deixar ir até perder de vista. Mais uma vez a ficar. Dele diz-se que nunca ganhou, mas também se diz que nunca perdeu. Ninguém consegue entender porquê, mas ele continuava a sorrir como se sempre tivesse ganho, quando todos sabem que sempre perdera. E de cada vez que olham para ele não entendem que sorri porque não tem mais nada a perder.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
A luz ao fundo do túnel
Todos falavam de uma luz. Da luz ao fundo do túnel. Pelo que entendia era quase como que encontrar a solução para todos os problemas. Todos diziam procurá-la, no trabalho, em casa, até no pequeno restaurante de todos os dias a procuravam. Encontravam-se todos envoltos em escuridão, calculou. Via neles uma esperança, quase como que uma veneração por essa luz. Um dia deu consigo a querer encontrar essa luz também. O problema que acabou por se lhe colocar é que a vida dele era só luz. Não havia nada que o puxasse para a escuridão, para conseguir encontrar a luz teria de arranjar forma de transformar o seu mundo em negro. Um mundo que sempre fora luz teria de se tornar em escuro, só para encontrar a "bendita" luz. Não sabia bem como havia de começar esta transformação. Começou por pequenas falhas no emprego, que em pouco tempo se tornaram grandes e ao fim de uns meses insustentáveis, foi despedido. De início perder o emprego não lhe parecia suficiente, teria também de perder alguns amigos. Começou a portar-se como as pessoas que sempre criticou, mesmo assim eles foram ficando, começou a comportar-se pior ainda, aos poucos perdeu-os. Continuava a ter luz na sua vida, a sua mulher continuava a apoiá-lo incondicionalmente, talvez fosse ela que ainda o suportasse. Decidiu trair-lhe a confiança, nada demais, uma mentira aqui, outra acolá. Envenenou-os aos dois, afastaram-se. Mesmo assim o escuro parecia não o atingir. Decidiu desistir da luz ao fundo do túnel. Decidiu voltar à vida que sempre fora sua. Quando voltou a si, voltou sozinho ninguém o esperava como sempre. Os seus amigos tornaram-se meros conhecidos em fuga, a sua mulher aproximara-se de um dos amigos que se afastava, até no trabalho, onde sempre fora considerado um funcionário exemplar o rejeitaram. Agora que desistira da escuridão parecia ter sido abalroado por ela. Mas se no caso dos outros todos que procuravam a luz havia esperança, no seu caso não havia esperança alguma, foi ele que destruiu tudo propositadamente. Não há, agora para onde voltar, nem para onde ir. Destruiu todos os caminhos, tapou todas as portas com aquela cega vontade de entrar no túnel. Antes de se ter perdido completamente no túnel escuro, sombrio e húmido deu por si a pensar que não valia mais a pena a viagem. O seu destino era este, o túnel. Sabia que nunca voltaria a encontrar luz. Deixou-o escrito pouco antes de se ter atirado de um baixo 14º andar, baixo porque não lhe parecera suficientemente alto para ter tempo de abraçar a morte, a morte que brilhava lá ao fundo. Era esta a sua luz, estava tão perdido que o fim da escuridão por fechar os olhos para sempre lhe serviu de luz. Dizem ainda que por um breve momento voltou a ser feliz, soube ali que tudo chegara ao fim. Não se sabe se percebeu que o escuro não se procura, acaba por se encontrar sem querer e acaba por se ficar até não querer mais. Uns aguentam, outros tropeçam, outros fazem por cair.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Para onde?
E ali estava, mais uma vez. Parecia que todas as circunstâncias o faziam caminhar naquela direcção, sempre. Às vezes perguntava-se, meio desorientado, porque é que ia sempre para ali, mesmo sabendo que aquele caminho não o levava a parte alguma, ou, se quisermos, não o levava no sentido que um dia traçara como seu, era como se caminhasse no sentido de outra pessoa qualquer. Ao caminhar para ali, apesar de o fazer aproximar-se dele, afastava-o do seu sentido. Era quase como caminhar para "trás" dele, sentia que ao ir naquele sentido, apesar de ir para a frente recuava. Por ali ficou até ser tarde, porque a vontade de ficar vencia sempre toda a razão, ou não razão, como quisermos. Ficou, foi ele, foi feliz, foi simples... Sabe-se que não caminhou para onde sempre quis, mas sabe-se pelo menos que foi sempre ele, apesar de não ter ido longe, nem ter chegado onde um dia quisera, foi feliz. E enquanto assim foi, ficou. Ficou até o deixarem ficar, dali não se sabe se conseguiu seguir o caminho de sempre, não se sabe nada, não se sabe se foi a tempo, se foi tarde, se chegou a ir, ou até se depois de tudo aquele ainda era o caminho. Sabe-se que foi feliz, por um momento, por um breve e marcante momento. Se se perdeu, perdeu-se em felicidade!
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Memória
O cérebro humano é capaz de armazenar milhares de memórias que englobam gestos indispensáveis ao dia-a-dia, lembranças de caras e lugares, palavras, coordenadas, isto num aparente caos de sinapses e electricidade mas onde tudo tem o seu lugar e onde parece caber sempre mais qualquer coisa. Perante isto, saber que se caiu no esquecimento de alguém deve ser das coisas mais tristes que podemos experimentar e sentir. A irrelevância perante a memória do outro, a noção de que não marcámos, que nada mudámos. É como se não tivéssemos existido.
“Não te esqueças de mim” é uma das expressões mais carregadas de significado que conheço. Está para mim a par dum “tenho saudades tuas” ou um “amo-te”, talvez, porque consegue encerrar em si tanto de tudo do que as outras expressões são. Não é a qualquer um que pedimos para não ser esquecidos, por norma, só o pedimos a dois tipos de pessoas: às que amamos muito e às que detestamos muito. Às primeiras, as amadas, pedimos para ser lembrados pois em nós, já sabemos que elas vão existir para sempre, independentemente dos anos, da distância, da inevitável perda física. Às que odiamos muito até podemos nem pedir para ser não sermos esquecidos mas estamos certos de que se elas se esquecerem de nós, perdemos o objecto do ódio e depois? Valerá mesmo a pena odiar sozinho quem nem se lembra de nós? Perda de tempo, ocupação desnecessária de gavetas que podiam estar encravadas com memórias boas.
Se há filme que me marcou neste sentido foi o "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" ("Despertar da Mente", em português) pois aborda de uma maneira sublime e extremamente bela a ideia do facilitismo aparente do esquecimento. Se no início do filme estamos desejosos de que aquele método de cura para o coração partido seja real, no fim, damos por nós a viver as “dores” de Joel, a torcer pela sua escapatória à ruína das ternas memórias que tem com Clementine, a miúda do cabelo azul que fez o que ele não foi capaz de fazer: esqueceu-o. O ser humano tem destas coisas, na hora de esquecer agarra-se ao mau, às lágrimas, às discussões, alimenta ódios e raivas ignorando por completo que a melhor maneira de se superar algo (um amor, uma morte, etc.) é deixar que as memórias boas se instalem, ocupem lugar, curem, libertem.
A memória do aroma do sabonete da mãe far-nos-á para sempre usar essa marca lá por casa. Ouvir uma música por acaso e jurar que se sentiu a presença da pessoa com quem a ouvíamos. As fotos engalanadas com sorrisos, belas paisagens ou até um postal tornam-se eternas pois materializam o que “cá dentro” aconteceu. Saramago disse e com razão que “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir”. Sou por isso responsável pelos que faço existir em mim, simplesmente, não os esquecendo.
“Não te esqueças de mim” é uma das expressões mais carregadas de significado que conheço. Está para mim a par dum “tenho saudades tuas” ou um “amo-te”, talvez, porque consegue encerrar em si tanto de tudo do que as outras expressões são. Não é a qualquer um que pedimos para não ser esquecidos, por norma, só o pedimos a dois tipos de pessoas: às que amamos muito e às que detestamos muito. Às primeiras, as amadas, pedimos para ser lembrados pois em nós, já sabemos que elas vão existir para sempre, independentemente dos anos, da distância, da inevitável perda física. Às que odiamos muito até podemos nem pedir para ser não sermos esquecidos mas estamos certos de que se elas se esquecerem de nós, perdemos o objecto do ódio e depois? Valerá mesmo a pena odiar sozinho quem nem se lembra de nós? Perda de tempo, ocupação desnecessária de gavetas que podiam estar encravadas com memórias boas.
Se há filme que me marcou neste sentido foi o "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" ("Despertar da Mente", em português) pois aborda de uma maneira sublime e extremamente bela a ideia do facilitismo aparente do esquecimento. Se no início do filme estamos desejosos de que aquele método de cura para o coração partido seja real, no fim, damos por nós a viver as “dores” de Joel, a torcer pela sua escapatória à ruína das ternas memórias que tem com Clementine, a miúda do cabelo azul que fez o que ele não foi capaz de fazer: esqueceu-o. O ser humano tem destas coisas, na hora de esquecer agarra-se ao mau, às lágrimas, às discussões, alimenta ódios e raivas ignorando por completo que a melhor maneira de se superar algo (um amor, uma morte, etc.) é deixar que as memórias boas se instalem, ocupem lugar, curem, libertem.
A memória do aroma do sabonete da mãe far-nos-á para sempre usar essa marca lá por casa. Ouvir uma música por acaso e jurar que se sentiu a presença da pessoa com quem a ouvíamos. As fotos engalanadas com sorrisos, belas paisagens ou até um postal tornam-se eternas pois materializam o que “cá dentro” aconteceu. Saramago disse e com razão que “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir”. Sou por isso responsável pelos que faço existir em mim, simplesmente, não os esquecendo.
Os dias não são todos iguais
Olhou para o relógio, já era tarde, no entanto o dia parecia não ter ainda nascido. A sua mulher dormia ainda profundamente ao seu lado, coisa que àquela hora não era habitual, ela saía muito antes dele e nunca adormecera até então. Algo parecia estar errado, seria um problema com o relógio? Seria um problema com o dia? Será que nasceu com a luz apagada hoje? Nada parecia fazer sentido, levantou-se. Caminhou lentamente pela casa. Veio à porta, na rua ninguém parecia apressado como de costume, pelo contrário, dedicavam-se a tarefas caseiras, jardinagem, brincar com os miúdos, não se sentia o peso dos dias, como de costume. Quis trocar uma ideia com alguém que passasse, mas todos pareciam fugir-lhe. Decidiu então acordar a mulher, isto não era normal, este dia não era igual aos outros, nada fazia sentido. Acordou-a, ternamente para não a assustar, sussurrou-lhe que era tarde e devia ir trabalhar. Ela respondeu-lhe baixinho que era Sábado e que passaram o dia a dormir... Era o primeiro Sábado dele naquela casa. Os dias já não eram iguais... E amanhã, será que se lembraria ser Domingo? Seriam os dias iguais ali, naquela casa? Seriam todos diferentes? Como é que iria conseguir distingui-los como sempre fizera antes? Foram perguntas destas que o foram transformando num prisioneiro do tempo e ele, coitado, nunca chegou a perceber que não era livre. Ia dormir agora... Amanhã seria outro dia... Não se sabe qual, mas seria outro e não seria igual a mais nenhum, nem se voltaria a repetir, já aprendera isso, pelo menos.
domingo, 27 de outubro de 2013
"Choose a side to be on" he said
Dele diz-se ter sido compositor, daqueles que marcam toda uma geração. Também tocava guitarra, bem pelo que dizem.. Morreu, sabe-se que o fígado teve de ser trocado e sabe-se que a genialidade morre agora com ele... Fica a música, que se não sabe se meio popular se o verdadeiro e puro rock, sabe-se apenas ser genial. Eu conheço pouco. Portanto deixo o mais comercial.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Nunca viram tal
Uma vez um senhor virou-se para um grupo de cegos e disse:
- O que chegar primeiro a mim, farei com que volte a ver.
Todos correram na direcção da voz, menos um. Todos caíram
a uma vala e morreram menos um. O que via um bocadinho
ficou ali, apenas, à beira do precipício, sem conseguir chegar
ao homem. Apesar de todos os outros terem morrido, dizem
ter sido este o que ficou mais longe de voltar a ver claramente!
- O que chegar primeiro a mim, farei com que volte a ver.
Todos correram na direcção da voz, menos um. Todos caíram
a uma vala e morreram menos um. O que via um bocadinho
ficou ali, apenas, à beira do precipício, sem conseguir chegar
ao homem. Apesar de todos os outros terem morrido, dizem
ter sido este o que ficou mais longe de voltar a ver claramente!
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Escolhas
Soube há pouco que ela já lhe tinha marcado as férias e traçado o destino. Era sempre assim, nem sabia como ainda se surpreendia. Estava decidido, partiam dali a cinco dias para Málaga. Não valia a pena tentar outro destino de praia, era tudo muito caro. Ele até queria ir visitar uma cidade com um bocadinho de história e sem bonecos de praia que correm para a areia aos primeiros raios de sol. Malas feitas e desfeitas de seguida por ela lá foram. Pensava agora na viagem que além de não escolher para onde ia, nem sequer teve hipótese de escolher o que vestir para se despir da sua vida de todos os dias. E enquanto este pensamento lhe varria o pensamento ela já lhe havia pedido um café... Nem isso escolheu, começava a ficar um bocadinho incomodado, parecia que todas as decisões já estavam tomadas antes de lhe aparecerem. Por lá ficaram uns longos 9 dias e que longos. Ao chegar deparou-se com mais uma surpresa, parece que decidiram pintar a casa por fora, faltava ver por dentro. O mesmo, tudo novo, tudo diferente. Era como voltar para uma casa que há muito não conheciam, mas só se tinham passado 9 dias. De manhã, quando saía do banho deu conta que já tinha a roupa separada, restava-lhe ao menos escolher o pequeno almoço. Torradas com manteiga e um café morno, também já estava escolhido. Ao menos ainda poderia escolher a bomba de gasóleo para abastecer no caminho para o trabalho que ela impingiu.
- Já meti gasóleo ontem, não tens de te preocupar com nada, até logo!! - atirou ela da porta.
E foi ali que tudo acabou, naquele até logo que se tornou num até nunca mais. Acabou por falta de opções, quando afinal tinham havido tantas. Sabe-se que durante vários dias vagueou pela vida sem saber por onde ir, afinal tinha de voltar a aprender a fazer tudo. Dela sabe-se que lá encontrou alguém que controlaria como sempre fizera, sem que todos o percebessem, às vezes nem ela.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
A terra é quadrada
Sentou-se na mesa do café onde habitualmente se sentava com o seu melhor amigo, onde tantas vezes o tentara convencer de que o mundo era quadrado e nunca conseguira. Mas, desta vez, tinha uma nova estratégia, uma estratégia que talvez resultasse. Trazia consigo uma pequena bola. Ao fim de algum tempo conseguiu convencer o amigo de que a bola era um quadrado. Com isto e sabendo que o amigo já tinha descoberto pela televisão a forma da Terra, conseguiu que ele concordasse consigo de que a terra era mesmo quadrada convencendo-o de que uma bola era um quadrado. Daí para sempre teimava com toda a gente de que a terra era quadrada e não dava margem para discussões, porque ele sabia que a terra assim, só não sabia de que uma bola não é um quadrado. Mas sabia da verdadeira forma do mundo. E devia ser algures por aqui que todos os alguéns se deviam convencer de que ninguém está nunca absolutamente errado, às vezes só não lhe explicaram bem as formas e os contornos do que realmente conhecem.
domingo, 20 de outubro de 2013
Boa noite
Naquele dia, foi dia até ser noite. Costuma ser sempre assim, mas só naquele dia é que percebeu que era daquela forma que os dias acabavam, era sempre dia até ser noite. Todos os dias fazia o mesmo caminho de casa, saía do carro, esperava para ouvir o portão bater e ter a certeza de que fechou e sentir-se assim protegido do mundo lá fora. Um dia, de dia entrou em casa, na casa que sempre fora sua, saiu ainda de dia para um sítio que se sabe ser costume visitar. À noite quando voltou o portão, como sempre, abriu-se e ele entrou. Quando chegou a casa descobriu que já não era a sua casa e já ali não pertencia. Era estranho, parecia que sempre fora dali, nunca tinha percebido que tentava construir a sua casa onde já havia existido outra. Dava conta agora que ficou sempre ali, ao portão, noite e dia. E foi só agora que percebeu que existem os dois e que um não substitui o outro, acabam apenas por se completar. Foi aí que decidiu que não precisava de uma casa, pelo menos de uma casa qualquer. Diz-se que começou a viver mais à noite, não se sabe se pelo coração ser escuro, se por não gostar da verdade da luz. Tornou-se escuro e não é triste, só não é tão feliz.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Papel gasto pela vida
Escrevia para ela todos os dias. Mesmo depois de tudo, mesmo depois do fim. Todos os dias tentava encontrar dentro de si tudo o que o puxava para ela. Ao fim de algum tempo começou a perceber que tudo o puxava para ela, começou a perceber que todo o seu mundo orbitava à volta dela. "Seria ela a sua estrela?", escrevera uma vez... Dias, meses, anos se passaram sem se tocarem, nem num breve olá. E em todos esses dias lhe escreveu. Ao fim de muito tempo olhou para trás e percebeu que ela mais não era que o que escrevia, percebeu por fim que ela era perfeita porque ele a escrevera assim. percebeu finalmente que não gostava tanto dela quanto seria de esperar. Não sentia sequer a falta dela, sentia apenas a falta da pessoa para quem escrevia todos os dias, no fundo, essa pessoa nunca existira. Do que ele gostava mesmo era de escrever. Desde aí escreveu sempre, não para ela, mas para ele. Ela não mais fora que o que ele inventara dela em papel gasto pela vida. E o seu amor mais não é agora que uns quantos pedaços de papel.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Tristeza nos olhos mais alegres
E depois, ao fim de muito tempo, deu consigo a ter saudade do seu país... É muito mais difícil construir uma vida num país que não é o nosso, descobriu agora, com um certo assombro. À medida que se ia afastando nem deu conta de para onde caminhava, pensava que tudo seria igual. Talvez não fosse preciso mudar os costumes, talvez os amigos se fossem continuando a encontrar como sempre, talvez conseguisse manter os hábitos que tão familiares lhe eram. Talvez... Foi com esta mentalidade que foi abandonando o seu país. Não sabia que ao mudar de país, por muito gradual e subtil que a mudança fosse, tudo o que tinha como real, mais não seria que uma longínqua recordação de como bom era viver naquele país que sempre fora o seu. A realidade caiu-lhe aos pés como uma pedra grande atirada de um arranha-céus. As pessoas lá, no outro país, eram mais tristes, a sua aura era mais cinzenta, as gargalhadas do seu país foram, aos poucos, transformando-se em lamurias, os grandes projectos tornaram-se em pequenas conquistas perdidas pouco depois. Lá, nesse país para onde viajara, não imperava a alegria e o espírito do seu país natal. Lá, nesse país tudo era desgraça e nada parecia ter tendência a melhorar.
Quando deu conta deparou com uma triste e estridente realidade... Não foi ele que mudou de país, foi o país que mudou dele. Perguntava-se agora como é que chegou ali, àquele país que não era dele, sem nunca ter saído do mesmo sítio. Tentava culpar um ou outro mas ninguém o ouvia, no fundo já ninguém ouvia ninguém. O país que sempre fora acolhedor parecia querer mandá-lo embora... E como se só isso não fosse suficiente, aqueles que tomaram conta daquele país que fora seu, ainda o incentivavam a sair, como se alguma vez fosse possível, naquele país de outros tempos, uns quantos senhores bem vestidos e bem remunerados, expulsar todo um povo lutador e sonhador. Pegou no carro, com vontade de espalhar por todos os cantos do país que um dia também fora dele, mas ao fim de uns quantos metros desistiu porque sozinho não faria a diferença num país agora cinzento, cansado e com medo de sonhar. Talvez um dia, aquele povo que um dia habitou o seu país, acorde do pesado pesadelo e consiga voltar o país que no fundo sempre foi dele. Até lá... Tristeza nos olhos mais alegres.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Silêncio, que se vai ficar calado
Diz-se muito, ainda, daqueles que dizem pouco. Talvez porque confunda as pessoas haver alguém que não tem sempre de dizer alguma coisa. As pessoas habituaram-se de tal forma a ouvir sempre a mesma coisa que não aceitam o silêncio dos outros. Pelo contrário, olham para ele com um certo receio. Ainda acerca do silêncio ou do falar demais tenho a dizer que...
sábado, 12 de outubro de 2013
Uma questão de tempo
Corriam todos na sua direcção... Parecia que o mundo se queria aproximar dele, decidiu esperar... Vinham de todas as direcções, vinham longe, decidiu esperar, mas ainda estavam todos muito longe, tão longe que ao ao fim de 3 longos dias ainda pareciam estar no mesmo sítio. E ao fim desse tempo, todos pareciam à mesma distância, ou então seria da fome, sede não seria que tinha uma garrafa de água que ia bebendo lentamente, como que a adivinhar que demorariam muito. Continuou à espera, mais tarde ou mais cedo chegariam à beira sua beira e trariam, com certeza, comida, bebida e ofertas várias. No fim de contas ele era o centro do mundo e todos vinham na sua direcção. Ao fim de uns quantos dias, não se sabe bem quantos caiu. Diz-se agora que morreu ao fim de uns 8 dias. Diz quem o conhece que se julgava importante, talvez o centro do mundo e de todas as suas atenções. Morreu sem perceber que as pessoas iam e vinham, na sua rotina habitual e nem deram pela sua presença no centro de um verde parque. Quem o conhecia disse também que mesmo que lhe dissessem que ninguém vinha na sua direcção ele teria continuado à espera porque também se julgava o dono da razão. E assim viveu e assim morreu, sempre dono da razão... E se não fosse a sua razão estar errada, teria vivido com sentido. Os que não o conheciam disseram que quando percebeu que ninguém vinha para si tentou ir para os outros, mas andou às voltas porque não conseguiu perceber quem tinha mais perto e esquecendo-se de que o caminho deve ser sempre em frente, sempre que lhe parecia ter alguém mais perto voltava para trás, para os que pareciam mais perto. E assim morreu, longe dos que teria alcançado se tivesse continuado.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Levado à letra
Entraram para a sala de teatro, assim quase como que a correr. Tinham-se atrasado, cruzaram-se com uns amigos que iam,com toda a certeza ver outra peça qualquer, lembraram-se pouco antes do fim. Sentaram-se na primeira fila e por ali ficaram durante toda a peça. Às vezes um ou o outro vinha cá fora comprar alguma coisa para lhes alimentar a fome que se fazia sentir nas cenas que pareciam iguais a outras que já tinham visto. Mal se davam conta de que a peça a que assistiam nada mais era que a vida de outra pessoa qualquer, que a viam a partir de casa, do café, do trabalho, de qualquer sítio assistiam ou discutiam a vida desse homem anónimo, com uma vida como tantas outras, com rotinas inquebráveis, hábitos inquestionáveis, vícios recrimináveis. Mal se davam conta que enquanto assistiam à vida, ou peça de teatro do outro a sua própria vida era esquecida, tornaram-na menos importante que o teatro do outro. E aos poucos a cortina foi-se fechando e nunca tiveram a oportunidade de afirmar que "A vida é uma peça de teatro" mais não era que um cliché a cair em desgaste. Acabadas as suas vidas, fechadas as suas cortinas, o teatro do outro homem lá continuou com todos os defeitos que lhe apontaram sempre, a fazer o que os outros, os que assistiam não faziam... A viver.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Chove cá dentro... "Faz sol lá fora"
Lá fora sentia-se um vento, não se sabe se frio se quente, lá dentro o calor fazia-se cuspir por um daqueles aparelhos de aquecimento que se amontoam agora pelas divisões da casa. Talvez fosse frio... O vento. Lá dentro todos se sentiam protegidos, sem frio, aconchegados. A casa era grande e eles eram só dois. Cá fora, ao vento, estava aqueles que não tinham casa. Amontoavam-se cá fora à falta de dinheiro para um tecto. Mesmo a comida se fazia escassa por estes dias. Foram vítimas de um país que os arruinou. Os outros, os da casa grande e vazia de sentimento ignoravam os gritos mudos dos que tinham fome e não tinham força. Dali, aconchegados, riam, quase como que para aquecer a alma fria e oca. O calor podia aquecer-lhes os pés, mas nunca lhes aqueceria a alma. Há muito haviam deixado de sentir para serem felizes. Os outros, os que tinham fome cá fora ainda sentiam, ainda davam valor, ainda dividam o nada que tinham pelos muitos que eram.
Os da casa e os da rua julgavam-se sem esperança. Os da casa viviam só porque parecia mal morrerem porque quiseram, afinal tinham de manter a imagem de sempre. Os da rua imaginavam-se a morrer ali, ao frio, pelo menos ninguém lhes diria que estavam gordos (era uma piada que usavam, para ao menos morrerem com dignidade). Um dia, o calor que se fazia sentir vindo da lareira atirou-se aos cortinados queimou-lhes a casa, não os matou. Com a casa tudo o que tinham desapareceu e nenhum daqueles que um dia frequentaram a casa, nenhum daqueles a quem queriam mostrar a felicidade que não tinham, nenhum desses os ajudou. Ajudaram-nos sim os da rua. Não, não os mataram (isso seria ajudar demais), aceitaram-nos apenas na rua e deixaram-nos viver. Diz-se quem viu de perto que lhes deram um cantinho junto deles. E o que eles mais queriam era um cantinho longe do mundo. E por ali ficaram até perceberem que este nada que tinham era mais real do que tudo o que tiveram quando viviam na casa, quando viviam para os outros. E por momentos chegaram a amar-se, a amar-se como nunca se tinham amado antes. Aos poucos foram aceitando o olhar reprovador de todos os outros, não fosse a fome e talvez tivessem sido felizes...
Afinal não precisavam de tanto, só precisavam de uma ou outra refeição e um do outro... Agora era tarde para ser feliz... E tarde para ter fome.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
O homem que se fez
Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, cavadas na terra, sem mais nada... Daquelas escadas que se a passada fosse mais forte se desfaziam e a queda seria o destino mais provável. No entanto, mesmo com essas escadas, as pessoas não tinham tanto medo de cair como agora, nas escadas fortes e seguras que construíram para evitar uma queda, que até sabia bem e arrancava uma gargalhada. Dali conseguia ouvir o rio correr, correr para o mesmo sítio de sempre, ainda não sabia que o mesmo sítio de sempre podia ser sempre diferente. Desta janela imaginava lutas intermináveis contra monstros nunca vistos, imaginava-se capaz de voar um dia, correr o mundo como corria pelos quintais à volta de casa, porque o mundo era pequenino só para quem sabia voar. Dali imaginou que seria diferente de toda a gente, que iria muito mais longe, dali, daquela janela conseguia perceber que não havia país que o dissesse como seu, não haveria limites nem obstáculos para as suas vontades. Seria livre, livre como nunca ninguém foi, ditaria o seu próprio destino, sem medo de opiniões, sem regras que o guiassem. Enfim, seria ele, ele próprio, como nunca ninguém se atrevera a ser.
Depois, um dia, muitos anos depois... Já tinha cumprido a escolaridade obrigatória, já o tinham ensinado a não voar, cortaram-lhe as asas e deram-lhe um trabalho, que lhe impôs as regras que imaginara nunca ter. Durante algum tempo nem ia pelas escadas, subia de elevador, agora tinha medo que o elevador parasse e já temia cair escadas abaixo. Comprou um apartamento rés do chão com uma janela virada para o fim e uma gaiola para prender a imaginação. E o "era uma vez" tornou-se num "até ao fim" e por ali ficou até perceber que nunca tivera asas, tinha sim uma enorme vontade de voar, presa agora numa gaiola enferrujada...
Imagem sugerida por je suis... noir |
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Do amor pouco fica
Era um dia quente de Maio, ou seria Junho, perdeu-se no tempo havia muitos anos, e por arrasto ou encantamento esqueceu-se também de que se perdia no tempo. Mas este pequeno pormenor não é importante para a história. Nesse tal dia que se não lembra viu-a a passar, disso tinha a certeza, ela passou, não sabe quando e não tem bem a certeza de onde. Sabe que a voltou a encontrar noutro lado, talvez um mês depois, talvez nem tenha sido tanto tempo. Encontrou-a, dirigiu-se a ela e perguntou-lhe se nunca se haviam conhecido. Também se não lembrava muitas vezes que se esquecia de coisas importantes. Ela respondeu-lhe que sim, que foram casados e as coisas não tinham corrido bem. Não lhe quis perguntar porquê. Saiu. Triste, pelo que se lembrava. Como poderia alguém deixar de amar alguém com aquelas feições. Via nela a sua alegria, a sua razão. Não lhe perguntou se foram casados muito tempo. Ou se já tinham seguidos caminhos diferentes há muito. Depois, deu conta de que esta história não era sua, talvez fosse só a sua imaginação. Também não se lembrava que era doido. Agora percebe-se porque se esquecia tanto, era a sua defesa contra a vida.
domingo, 29 de setembro de 2013
Quando o universo não chega
Sentara-se, fazia já algum tempo, junto à janela de sempre... Era a janela de sempre, mas por alguma razão, oculta ainda, tudo parecia diferente. Não se sentia perdido na escuridão lá de fora, como sempre se sentia... Era como que se a vida tivesse ganhado sentido. Um sentido que não conhecia. Da janela de sempre, não havia nada igual, seria de afirmar que aquela não era a sua janela, aquela janela discreta virada para o céu estrelado quando as nuvens se escondem da lua. Uma incomum nostalgia invadia-o. E, à medida que as horas se iam acumulando à janela, a nostalgia parecia envolvê-lo cada vez mais... Ao fim de algum tempo, o tempo necessário para perceber que aquela nostalgia que abraçava como sua mais não era que a sua imaginação a viajar por um mundo que não era seu, o tempo necessário para perceber que era apenas ele a viajar, talvez, por uma realidade que pertencia a qualquer outra pessoa, sentiu-se invadido por um sentimento de perda, um sentimento de perda que também não era seu. Talvez tivesse apenas sonhado acordado, talvez. Mas foi um sonho que quase conseguia agarrar se a janela não estivesse fechado (raio de chuva miudinha e insignificante).
Dava consigo agora na janela de sempre, onde sempre se perdera, mais perdido ainda. Agora dentro de si, havia além daquela melancolia que o caracterizava já há muito, uma sensação de perda, uma sensação de que, afinal, não vivera. Percebeu que caminhava num sentido errado, talvez tenha até percebido que já alguém caminhava pela "rua" que seria dele. Perdera o caminho de si para outra pessoa qualquer. E agora, ali à janela, nada havia a fazer. Restava-lhe esperar, esperar que outra pessoa qualquer se perdesse de si e o encontrasse. Mas seria sempre mais uma pessoa perdida. Mais não seriam que pessoas à procura delas próprias. E por ali ficou até as horas o terem ludibriado com um sono leve e desaparecerem. Quando voltou a olhar pela sua janela, ela voltara a ser sua. Através dela via o mesmo de sempre, nem mais, nem menos. No entanto ainda dizem, os que conheceram a história do Sol, que a partir desse dia imperou nele a dúvida.
Dizem ainda que vai constantemente perdendo brilho, à medida que caminha perdido num caminho que nunca será seu. Tem para si todo um universo, seria capaz de fazer com que o seu brilho atingisse todo o universo. Mas pelo que dizem, o universo não lhe chega porque é muito, diz-se que quer apenas o seu caminho, o caminho que é seu. Chamam-lhe Lua e diz-se que ele poucas vezes a vê. E quando tal acontece, ela logo se apressa em desaparecer. E quando ela finalmente quer voltar, ele quer partir, talvez porque sinta que aquele caminho, o seu, já não é seu, talvez nunca tenha sido, talvez não tivera chegado a tempo. E quando se não chega a tempo, esperar já não faz sentido.
sábado, 28 de setembro de 2013
Pesado
Enquanto fumava um leve cigarro depois de um café forte,
olhava lá para fora e via um dia cinzento, carregado por
uma chuva há muito esperada. Percebera, finalmente, que
a única coisa que lhe suportava a pesada realidade era
aquele leve cigarro. Percebia que os dias mais não eram
que leves cigarros para suportar uma realidade, cada vez
mais pesada, cada vez mais igual, cada vez mais sem sabor.
E aquele café, aquele cigarro davam um bocadinho de
sabor a uma existência tão leve como uma valsa dançada
por dois elefantes perdidos num ritmo errado. Pesado.
olhava lá para fora e via um dia cinzento, carregado por
uma chuva há muito esperada. Percebera, finalmente, que
a única coisa que lhe suportava a pesada realidade era
aquele leve cigarro. Percebia que os dias mais não eram
que leves cigarros para suportar uma realidade, cada vez
mais pesada, cada vez mais igual, cada vez mais sem sabor.
E aquele café, aquele cigarro davam um bocadinho de
sabor a uma existência tão leve como uma valsa dançada
por dois elefantes perdidos num ritmo errado. Pesado.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
O inicio e o fim
Ali nos encontrávamos... mais uma vez. Cada um virado
para dentro, De costas voltadas a olhar a direito. Pareciam
mundos diferentes, Entre nós parecia adivinhar-se mais
não que um precipício. Até que num dia qualquer nos
atiramos, como se para sempre fossemos sobreviventes.
E o inicio já parecia o fim e o fim voltara a aparecer o inicio.
para dentro, De costas voltadas a olhar a direito. Pareciam
mundos diferentes, Entre nós parecia adivinhar-se mais
não que um precipício. Até que num dia qualquer nos
atiramos, como se para sempre fossemos sobreviventes.
E o inicio já parecia o fim e o fim voltara a aparecer o inicio.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Adeus ao poeta António Ramos Rosa
Morre o poeta, julga-se morta a alma. "O que foi feito morre com
ele!!" grita um daqueles que não sabe o que diz. E no entanto todos
sabem que a alma fica e o espírito nos há-de invadir muitas vezes.
"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração."
ele!!" grita um daqueles que não sabe o que diz. E no entanto todos
sabem que a alma fica e o espírito nos há-de invadir muitas vezes.
"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração."
E ele lá se passeará por nós, lá se mostrará a quem ainda não
o conhece. Surpreenderá ainda muitos que não o viram...
Apresentar-se-à a outros tantos que não o conheceram...
Grandes dúvidas
Às vezes sou invadido por grandes questões. E nem
Sempre consigo chegar a uma conclusão com sentido.
Por exemplo, quando aquelas pessoas que ligam para
fazer questionários e perguntam se temos tempo, quando
ligam aos velhinhos será que também lhes perguntam o
mesmo?? É que a probabilidade de eles dizerem
"tenho mas, tenho pouco" há-de ser muito grande.
Sempre consigo chegar a uma conclusão com sentido.
Por exemplo, quando aquelas pessoas que ligam para
fazer questionários e perguntam se temos tempo, quando
ligam aos velhinhos será que também lhes perguntam o
mesmo?? É que a probabilidade de eles dizerem
"tenho mas, tenho pouco" há-de ser muito grande.
sábado, 21 de setembro de 2013
Uma pausa
E eu saio, porque tenho de sair, porque escrever
salva-me e eu tenho de me perder, perder-me
de mim, encontrar quem me tentou não esconder.
Não que prometa voltar, mas prometo encontrar-me.
Até já... E se me encontrar, um breve até logo!
salva-me e eu tenho de me perder, perder-me
de mim, encontrar quem me tentou não esconder.
Não que prometa voltar, mas prometo encontrar-me.
Até já... E se me encontrar, um breve até logo!
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Seremos mais um desses amores que seria, se
ser não fosse tanto. E ultrapassados pelo que somos,
acabaremos por ser apenas mais uma pequena
acrobacia arriscada num mar agitado por segurança.
E sem medo de ser quem somos, deixamos passar
mais uma vida, com a certeza de que uma outra vida
um dia virá, e seremos mar calmo em tempestade.
O segundo
E por caminhar perdido num mundo há muito escurecido
bato contra mim num caminho já há tanto percorrido.
Cego por uma escuridão que me foi sempre alumiando
bato contra ti ainda desorientado e continuo como ando.
Tento convencer-me que nem reparo nesse doce olhar
que me cativa. Só para não ter de voltar a pensar que
batemos de frente nesse caminho já esquecido e perdido.
Um caminho que poderá ter sido apagado por uma
toda estrada que se lhe atravessa. Mesmo antes do
caminho ter sido considerado como passagem. Somos
caminhos secundários em estradas todas principais.
bato contra mim num caminho já há tanto percorrido.
Cego por uma escuridão que me foi sempre alumiando
bato contra ti ainda desorientado e continuo como ando.
Tento convencer-me que nem reparo nesse doce olhar
que me cativa. Só para não ter de voltar a pensar que
batemos de frente nesse caminho já esquecido e perdido.
Um caminho que poderá ter sido apagado por uma
toda estrada que se lhe atravessa. Mesmo antes do
caminho ter sido considerado como passagem. Somos
caminhos secundários em estradas todas principais.
Imprecisos
(Da noite, há.de sempre nascer um novo dia.
E estranho é sonhar contigo de dia e querer esperar
por ti de noite; É um querer tanto que até alivia,
quando o acertado seria esquecer-te até te amar.)
E se só o amor chegasse, dar-te-ia o paraíso
e a vida mais não seria, para nós, que mais um fim.
Mas como ninguém o coração comanda, enfim...
mais não seremos que mais um amor impreciso.
E estranho é sonhar contigo de dia e querer esperar
por ti de noite; É um querer tanto que até alivia,
quando o acertado seria esquecer-te até te amar.)
E se só o amor chegasse, dar-te-ia o paraíso
e a vida mais não seria, para nós, que mais um fim.
Mas como ninguém o coração comanda, enfim...
mais não seremos que mais um amor impreciso.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
...
"Mal sabes, nem eu posso descrever-te
Esta minha fatal melancolia;
Não me lembra de ver romper o dia;
Nesta alma é sempre noite! Mas ao ver-te,
Porque será que a mim se me converte
A noite em luz e a mágoa em alegria?
Não serás tu o Sol que me alumia?"
Não me lembra de ver romper o dia;
Nesta alma é sempre noite! Mas ao ver-te,
Porque será que a mim se me converte
A noite em luz e a mágoa em alegria?
Não serás tu o Sol que me alumia?"
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Folha que mata
Escrevia... Não havia percebido que à media que as suas frases ganhavam forma,
inventava uma realidade, Uma realidade que se não conhecia, que se não imaginava.
Acaba de criar mais uns quantos medos que desconhecia. Acabou por perceber
outros tantos amores que temia serem tanto. À medida que o texto ganhava forma
a sua vida perdia sentido. E ele, coitado, continuava a escrever, não se sabe ser
por curiosidade, se por vontade de saber a quem amar. Diz-se que endoideceu,
diz-se também que não morreu de explosão de coração. Não se sabe de nada.
Nunca ninguém o alertara para o poder do olhar, do ver o que se imagina, ali,
escrito em folha de papel para matar. Não percebia que o amor ganhava forma,
porque já há muito o era. E só se perceba a intensidade quando se atira para
um papel e as palavras correm soltas para uma frase com sentido, com sentido
ali, e na outra realidade. Nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer que descrever
os medos é dar-lhes vida, uma vida maior, maior que nós. Estar ali, na folha que
mata dá a entender que o medo tem forma e se se consegue descrever é porque
quase que se consegue ver. E apesar de o sentir intensamente, julgava-o sem forma.
Nesta realidade nova, da folha que mata, acabara por perceber que nunca amou
a pessoa certa e aquela que julgava ser só outra, era a pessoa que lhe mordia
o coração, agora moribundo. Esteve ali, sempre ao lado dela a vê-la cair de pé,
sempre. Até ter chegado ali, à folha que mata, e a ter descrito é que percebeu que
a amava. Admirava-a há tanto tempo que estava cego por ela e não a conseguia
ver. E mesmo sem a ver conseguiu descrevê-la. Nesta tal folha, percebeu que a
vida só teria feito sentido se lhe tivesse dado o sentido certo quando deixou de ver.
Agora, que voltou a abrir os olhos e voltou a ver, agora que ela já não o cegava,
apenas brilhava como sempre fora, percebeu que era tarde para eles.
E foi nessa altura que o que seria só uma carta se transformou numa carta que mata.
Foi encontrada ao lado do seu corpo morto, de coração moribundo e alma perdida.
inventava uma realidade, Uma realidade que se não conhecia, que se não imaginava.
Acaba de criar mais uns quantos medos que desconhecia. Acabou por perceber
outros tantos amores que temia serem tanto. À medida que o texto ganhava forma
a sua vida perdia sentido. E ele, coitado, continuava a escrever, não se sabe ser
por curiosidade, se por vontade de saber a quem amar. Diz-se que endoideceu,
diz-se também que não morreu de explosão de coração. Não se sabe de nada.
Nunca ninguém o alertara para o poder do olhar, do ver o que se imagina, ali,
escrito em folha de papel para matar. Não percebia que o amor ganhava forma,
porque já há muito o era. E só se perceba a intensidade quando se atira para
um papel e as palavras correm soltas para uma frase com sentido, com sentido
ali, e na outra realidade. Nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer que descrever
os medos é dar-lhes vida, uma vida maior, maior que nós. Estar ali, na folha que
mata dá a entender que o medo tem forma e se se consegue descrever é porque
quase que se consegue ver. E apesar de o sentir intensamente, julgava-o sem forma.
Nesta realidade nova, da folha que mata, acabara por perceber que nunca amou
a pessoa certa e aquela que julgava ser só outra, era a pessoa que lhe mordia
o coração, agora moribundo. Esteve ali, sempre ao lado dela a vê-la cair de pé,
sempre. Até ter chegado ali, à folha que mata, e a ter descrito é que percebeu que
a amava. Admirava-a há tanto tempo que estava cego por ela e não a conseguia
ver. E mesmo sem a ver conseguiu descrevê-la. Nesta tal folha, percebeu que a
vida só teria feito sentido se lhe tivesse dado o sentido certo quando deixou de ver.
Agora, que voltou a abrir os olhos e voltou a ver, agora que ela já não o cegava,
apenas brilhava como sempre fora, percebeu que era tarde para eles.
E foi nessa altura que o que seria só uma carta se transformou numa carta que mata.
Foi encontrada ao lado do seu corpo morto, de coração moribundo e alma perdida.
sábado, 14 de setembro de 2013
Somos barquinho de papel
E quando deixarmos de ser barquinho de papel a flutuar
seremos barquinho de papel afundado, mergulhao no
turbilhão das águas, seremos barquinho de papel submerso.
mas barquinho de papel continuaremos a ser, porque
podemos até não ter a força da água que nos puxa para
baixo, mas seremos sempre barquinho de papel resistente
como as pedras e vales que traçam o caminho das águas,
nunca deixaremos de traçar o nosso caminho, à superfície
ou mergulhados nas águas turvas e violentas de um rio
que corre sempre para o mesmo sítio. Para o fim.
E serenos estaremos sempre, para deixar o barquinho
quando faltar o ar, porque somos sempre livres de nós,
mesmo dentro do barquinho que seria nosso. Porque
este barquinho um dia pode deixar de ser nosso para
ser meu ou teu, neste rio violento a que chamam vida.
seremos barquinho de papel afundado, mergulhao no
turbilhão das águas, seremos barquinho de papel submerso.
mas barquinho de papel continuaremos a ser, porque
podemos até não ter a força da água que nos puxa para
baixo, mas seremos sempre barquinho de papel resistente
como as pedras e vales que traçam o caminho das águas,
nunca deixaremos de traçar o nosso caminho, à superfície
ou mergulhados nas águas turvas e violentas de um rio
que corre sempre para o mesmo sítio. Para o fim.
E serenos estaremos sempre, para deixar o barquinho
quando faltar o ar, porque somos sempre livres de nós,
mesmo dentro do barquinho que seria nosso. Porque
este barquinho um dia pode deixar de ser nosso para
ser meu ou teu, neste rio violento a que chamam vida.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Novas medidas de austeriadade
Novas medidas do governo, são aplaudidas um pouco por toda a Europa. Por exemplo:
- Utentes que recorram às urgências em caso de doença e preferirem o suicídio (e no caso de não conseguirem forem abatidos a tiro pelo segurança) ficam isentos do pagamento de taxa moderadora.
- Alunos que abandonem a escola na primária terão 2 anos de isenção fiscal.
- Famílias que preferirem cremar os seus entes falecidos na fornalha lá de casa poderão colocar flores na porta de entrada em vez de terem de se deslocar ao cemitério. (a igreja não gostou tanto da ideia. Para irem buscar uns troquinhos têm de dar missas ao domicílio, famílias com crianças com menos de 4 anos têm direito a desconto). No caso de familiares cremados em vida foi também sugerida a oferta de uma coroa em nome da freguesia.
Estas foram as medidas sugeridas na apresentação ao tribunal constitucional. No caso destas serem chumbadas serão entregues novamente com uma nova alínea. O tribunal constitucional será extinto e no caso de se impor, os membros serão mortos pelo exército ao pontapé para poupar dinheiro em balas.
- Utentes que recorram às urgências em caso de doença e preferirem o suicídio (e no caso de não conseguirem forem abatidos a tiro pelo segurança) ficam isentos do pagamento de taxa moderadora.
- Alunos que abandonem a escola na primária terão 2 anos de isenção fiscal.
- Famílias que preferirem cremar os seus entes falecidos na fornalha lá de casa poderão colocar flores na porta de entrada em vez de terem de se deslocar ao cemitério. (a igreja não gostou tanto da ideia. Para irem buscar uns troquinhos têm de dar missas ao domicílio, famílias com crianças com menos de 4 anos têm direito a desconto). No caso de familiares cremados em vida foi também sugerida a oferta de uma coroa em nome da freguesia.
Estas foram as medidas sugeridas na apresentação ao tribunal constitucional. No caso destas serem chumbadas serão entregues novamente com uma nova alínea. O tribunal constitucional será extinto e no caso de se impor, os membros serão mortos pelo exército ao pontapé para poupar dinheiro em balas.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Só mais um dia
E é só mais um ano dizem todos... E no fim de contas, é só mais um dia... Um dia mais cheio, por palavras mais doces, algumas sinceras, outras nem tanto. Mas depois de se perceber as que são verdadeiras, acabamos embalados por uma doce música que nos eleva ao melhor de nós. E acabamos por flutuar acima do mundo, acima de tudo, porque nos sentimos aconchegados.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
WTC
E aquelas que foram as torres gémeas tornaram-se num ground zero.
Ou num grande zero... Tem um quê de irónico...
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Seremos... Fomos...
E enquanto felizes não formos com tudo o que a vida terá para nos
dar, resta-nos ser felizes com as pessoas que farão da nossa vida tudo
o que ela nos há-de trazer. e a cada trago de amizade, a cada trago de
amor... Seremos plenos, seremos leves, voaremos... talvez e seremos sempre
mais que a vida. Seremos vários, seremos todos, seremos tudo, seremos
mais que o que se consegue dizer. Seremos todos, seremos um... Seremos
música, seremos dança em dias de chuva, seremos sol em dias de noite. seremos
todos, seremos um, seremos a felicidade um a um. E no fim mais não seremos
que o que fomos. E se felizes não fomos, fomos um entre todos. Fomos...
domingo, 8 de setembro de 2013
Medo
Tinha uma vida perfeita, julgava quem via de fora. Tinha a melhor mulher do mundo, disso até ele tinha a certeza, não precisava que lho dissessem de fora. Além disso, de dentro via-se ainda melhor. Os filhos, eram o sonho de qualquer pai. Não, não estou a dizer que eram perfeitos, ou melhores que os filhos de outra pessoa qualquer. Estou só a dizer que para ele eram perfeitos. E não vou falar das coisas a que outros tantos dão valor, tais como trabalho, situação financeira. Não, fala-se apenas do que é importante, não quero com isto dizer que a vida deles não corressem bem nesses campos, também corria bem, muito bem. Poderia então afirmar-se com toda a certeza que eram felizes, que nada se lhes atravessava na felicidade.
No entanto, este homem que tinha uma vida perfeita (e tem) não se orgulhava de algo que havia feito no passado, era quase como que arrependimento, um peso de consciência. Não havia um dia que fosse que esse arrependimento não invadisse o seu pensamento e lhe desse vontade de gritar ao mundo que não merecia ser assim tão feliz. Não se sabe do que este homem se arrepende, nunca nos contou, sabemos apenas que se arrependia. Sempre que olhava para a sua mulher a brincar com os seus filhos recordava-se que não merecia estar ali, o que nos leva a pensar que aquilo de que se arrependia não seria muito leve. O tempo foi passando e o arrependimento começou a ser mais forte, começou a ganhar forma, quase tomava conta dele, sentia-se culpado. Num dia, pelo que se sabe de chuva vento e trovoada percebeu que não se arrependia, tinha sim medo de que um dia se descobrisse e tinha medo de que tudo o que tinha construído através dos anos lhe fugisse por entre as mãos por um erro que cometera. Não era arrependimento, era medo, medo só. Descobriu ao fim de todo este tempo que afinal apenas se arrependia de não ter dado a oportunidade ao tal "erro" que cometera e descobrir se não seria ainda mais feliz. No entanto era tarde para voltar atrás e a vida corria-lhe bem era feliz. Só tinha aquele pequeno arrependimento. E agora, se por acaso se soubesse as repercussões desse erro seriam destrutivas e ele não mais poderia voltar a cometer o tal "erro". Descobriu, ao fim de tanto tempo que se arrependia apenas de ter optado por esta vida... E agora tinha medo.
Gibran Khalil Gibran
Há sete séculos, sete pombas brancas levantaram voo de um vale profundo rumo aos cumes cobertos de neve. Um dos sete homens que as viram disse: Vejo uma pinta negra na asa da sétima pomba. Hoje, naquele vale, as pessoas falam de sete pombas negras que levantaram voo rumo aos cumes da montanha nevada.
sábado, 7 de setembro de 2013
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Pessoas
Pessoas. Todas elas diferentes, todas elas à procura de igualdade. Não, talvez nem todas procurem igualdade, talvez nem todas sejam muito parecidas. Tão depressa encontrámos alguém que se atira para o chão e espera a "misericórdia" de alguém que a levante, como vemos alguém que, com forças que ainda se não conhecem, se levantam como se nunca tivessem caído, como encontrámos aquelas que caem e precisam, de facto, de ajuda para se levantar. E depois, por entre elas, encontrámos uma ou outra que nunca cai. A esses custa mais, nunca saberão o que custa cair e nunca irão saborear o prazer de voltar a estar de pé. Mas pelo menos estas, as que nunca caem, nunca terão de sentir o sabor da misericórdia dos outros, dos que caem porque querem e são levantados... Um ser levantado só porque está ali, no chão e até estorva um bocadinho a quem quer passar. Esses não sentem o sabor de estar de pé, sentem apenas aquele bocadinho em que estão a ser levantados, onde as pessoas lhe colocam a mão, a força, e os levantam, depois não sentem mais nada e deixam-se cair outra vez, só para voltar a sentir "aquela" mão nas costas. A essas pessoas dói sempre. É uma ferida que não sara, só sara quando se está no chão... E assim é difícil ficar de pé.
Nunca mais lhe escreveu
Durante muito tempo, talvez tempo a mais. Talvez já não valesse a pena escrever-lhe, talvez ela já o deixasse de ler há muito. Não sabia... Continuava a escrever... Dizia-lhe a palavras meias que sentia a sua falta, tentava explicar-lhe que o pouco sentido que encontrara para a sua miserável existência, muitas vezes mais não era que escrever-lhe. Sussurrar-lhe ao coração o que não conseguia exprimir... As palavras continuavam meias. Talvez porque as palavras não chegassem, talvez o sentimento não chegasse para as palavras, ou então o sentimento não era tão forte como as palavras o faziam parecer. Não sabia. Hoje, ou naquele dia não lhe escreveu. Escreveu para dentro, para si... Segredou ao seu próprio coração o que sentia. E o coração respondeu-lhe a meio batimento, como que se o sentimento não fosse suficiente para o coração bater mais depressa. Foi nesse dia que percebeu que se tivesse escrito para dentro há muito teria percebido que o coração não batia como parecia. E o sentimento há muito se perdera. O que se manteve foi a vontade de escrever, sem sentido, percebia agora. Nunca mais lhe escreveu.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Do princípio ao fim, antes do fim
"No princípio" julgavam-se parecidos. Ambos frequentavam os mesmos sítios, o que os levara a pensar que gostavam das mesmas coisas. De início parecia não haver diferenças. Com o passar do tempo começaram a descobrir algumas. Um dia deitaram-se cá fora, as horas foram caindo e rapidamente o dia se transformou em noite. Ela via as estrelas, a lua, imaginava as outras galáxias, os outros planetas, tentava entender vida em outros sítios, longe dali. Um mundo todo ele novo, cheio de coisas que se não conheciam. Imagina outros seres, muito diferentes de nós, a tentarem ver vida para além deles. Imagina outros seres à procura da mesma coisa que ela. Imaginava como viveriam, o que comeriam, se comeriam, se respiravam, se não. A sua imaginação não encontrava obstáculos. Voava por esta noite encandeando a escuridão com o brilho da sua curiosidade. Ele só vi escuridão, falta de luz, sentia-se agoniado por não perceber como iria chegar a casa se a única coisa que os seus olhos viam era escuro. Não pensava em mais nada, não queria olhar para cima, os seus olhos queriam habituar-se ao escuro para conseguir voltar para casa. Ele sabia que se ficasse muito tempo no escuro, aos poucos ia conseguindo encontrar os contornos da natureza que os rodeava. Ela tentava explicar-lhe que a escuridão era o que se via quando se não olhava para longe, quando a imaginação se prendia a um bocadinho de musgo. Ele tentava convencê-la de que se calcassem esse bocadinho de musgo poderiam cair e magoar-se, talvez até perderem-se para sempre. Foi ali, naquele momento, que perceberam que olhavam para sítios muito diferentes. Viram, mas não quiseram saber, os velhos hábitos continuavam a colocá-los no mesmo sítio. E, pelo que se diz por lá, nunca foram muito felizes, mas viveram bem, tristes, mas bem. No entanto, os dois equilibravam-se. Ele sempre muito preso ao chão, ela sempre muito agarrada às nuvens. E ficavam ali, no meio. Não foram felizes... Foram... Eles nunca quiseram contar se lhe chegou existir apenas, mas diz-se que ele foi mais feliz. Conseguiu tirar os pés do chão, coisa que nunca conseguiria sem ela. Diz-se que ela não foi tão feliz, diz-se que passou uma vida inteira presa à vida. Quando o que queria era descobrir o universo. Diz-se que o seu fim começou ali, naquela noite em que não caíram no musgo. Mas é o que se diz e nunca ninguém poderá ter a certeza.
domingo, 1 de setembro de 2013
sábado, 31 de agosto de 2013
Ameaçara-o partir um dia... Disse-lho mil e oito vezes, contara-as uma a uma, como que se fosse a última vez... Fê-lo hoje... Não deixara de o amar, mas às vezes o amor não chega. Já há muito a deixara de a fazer rir, pensou que o sorriso sempre fora dela, mas afinal, ela devia-lho. Pensou em deixar-lhe uma carta... Uma carta de despedida, afinal todo o tempo que passaram juntos foi o suficiente para a vida de quem se contentasse com pouco. Queria deixar bem explícito, de forma a não lhe deixar a dúvida de que o amor não desaparecera, apenas se tornara insignificante. Não sabia bem como começar, afinal foram 9 anos de eternas promessas, promessas sinceras. Promessas que se não perdem nem se esquecem, promessas que ainda o poderiam vir a ser. Podia não ser um fim, embora parecesse uma despedida. Queria salientar que ele fez dela a pessoa mais feliz do mundo durante aquele tempo. Só deixou de fazer sentido, quando o sentido dele não era fazê-la feliz. Então escreveu "Para sempre" e nunca mais voltou.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Tem dias que sim, tem dias que não, mas tem dias
Às vezes diz-se uma coisa e sente-se outra, outras vezes não se sente e diz-se sentir, outras vez sente-se e não se diz nada... E inconscientemente dizemos o que não queremos, sentimos o que não dizemos, dizemos o que não sentimos. E no meio de tudo isso, não se diz, não se sente e não se quer! E assim se vive como se se não quisesse. E assim se morre como se se não tivesse vivido!
Wanna be a writer??
"Se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve."
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve."
Charles Bukowski
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Um obrigado
Era uma noite, uma noite como tantas outras que passaram a contar estrelas por entre as nuvens, quase como que incendiadas pelo luar forte de uma noite quente de Verão. Deitados em cima do carro lá continuavam a contar estrelas, que se perdiam por entre aquelas nuvens pesadas, alaranjadas, quase como labaredas. Juravam o seu amor às estrelas, para que fossem testemunhas daquele momento, outro momento. Distraídos em cima do carro, mal se apercebiam de que as nuvens, afinal mais não eram que uma cortina de fumo, fumo próximo, o calor fazia-se sentir e assustados percebiam que não era do momento. Quando desceram das estrelas, perceberam que afinal se encontravam cercados por um fogo... Um fogo provocado por mais um delinquente que achou ser um bom dia para incendiar o céu que lhe não pertencia, era deles, dos que estavam em cima do carro. Estavam agora no chão, encurralados, o fogo havia-os cercado, afinal, estiveram ali horas a contemplar as nuvens, as estrelas, para tarde perceberem que a beleza daquelas nuvens mais não eram que a doce imagem que os embalou até ao seu fim. Embalados por uma cortina de fumo, que se não fazia cheirar. Distraídos, gritaram, sem esperança, quase como que num grito de Adeus, quase como que para se despedirem do mundo, dum mundo, onde o seu assassino sairia, mais uma vez, impune. Já haviam aceitado o seu triste fim, respirar já lhes não era fácil, caíram. Perderam os sentidos, ao menos morreriam inconscientes, inconscientes como aquele delinquente anónimo que o será para sempre, enquanto eles seriam notícia de um jornal durante uns dias. Até que uns super heróis, desconhecidos, porque ninguém os quer conhecer, heróis que usam máscara e se mostram ao mundo. Anónimos, desvalorizados e no entanto a lutar. Os bombeiros. Os bombeiros a que até este casal não daria valor algum. Chegaram, atravessaram um mar de chamas, sem medo, sem ondas, só com monstros e fantasmas de outros que não tiveram tanta sorte nesta luta desumana. Salvaram-nos. Devolveram-nos às suas promessas às estrelas, sem pedir nada em troca, só por vontade e prazer de salvar, aqueles que lhes não dão valor algum. Diz-se também que o próprio incendiário foi por eles salvo, acabou por se perder no caminho de casa. Mas ninguém sabe, porque nem notícia de jornal chegou a ser. Estes heróis desmascarados continuaram anónimos. E voltaram para mais lutas injustas, para salvar mais uns quantos, só porque sim. A vocês todos... Um obrigado!!
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
"Ainda que tu estejas aí e tu estejas aí e
A letra é propositadamente pequena, porque o
significado é, de facto enorme, obrigado...
eu esteja aqui estaremos sempre no
mesmo sítio se fecharmos os olhos
serás sempre tu e tu que me ensinarás
a nadar seremos sempre nós sob
o sol morno de julho e o véu ténue
do nosso silêncio será sempre o
teu e o teu e o meu sorriso a cair
e a gritar de alegria ao mergulhar
na água ao procurar um abraço que
não precisa de ser dado serão
sempre os teus e os teus e os meus
cabelos molhados na respiração
suave das parreiras sempre as tuas
e as tuas e as minhas mãos que não
precisam de se dar para se sentir
ainda que tu estejas aí e tu estejas aí e
eu esteja aqui estaremos sempre
juntos nesta tarde de sol de julho
a nadarmos sob o planar sereno dos
pombos no tanque pouco fundo da
nossa horta sempre no tanque fresco
da horta que construíram para nós
para que na vida pudéssemos ser
mana e mana e mano sempre".
A letra é propositadamente pequena, porque o
significado é, de facto enorme, obrigado...
sábado, 24 de agosto de 2013
Sentido
Perdes-te, a vida parece querer enganar-te, os que te rodeiam parecem não te dar sentido, confundem-te. Os dias caem uns a seguir aos outros e o caminho parece não se revelar. Aos poucos vais desistindo, vais-te deixando perder, porque nada parece fazer sentido. És enganado mais um dia... E outro. Mais dias caem, nós já não nos levantámos tanto. E o tempo passa, foge, parece que não vamos chegar a lado algum. E mesmo assim há um quê que nos vai puxando do fundo, às vezes são os que nos rodeiam e outras tantas vezes somos nós a ir buscar força àqueles que nos empurram. E ao fim, a vida fez todo o sentido. Porque às vezes a vida e só não fazer sentido. E este é o sentido que ela nos dá. E ela acaba por estar certa e nós acabamos por nunca ter acertado, porque esperávamos um destino, um destino que não era nosso e a vida só nos tentava tirar de lá. E acabámos por não ter dado um sentido digno a uma vida que sempre nos tentou salvar de uma morte à qual devíamos ter fugido. A morte da esperança!
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Felicidade
Ser feliz é estar aqui... Só aqui... Sem estar em mais lado nenhum. De cada vez que o pensamento nos levar para longe "daqui", vamos para onde não conseguimos estar... Se calhar é por aí que a tristeza começa entrar, porque deixámos de estar aqui, para estar la, onde afinal também não estamos... E a tristeza entra, porque não estamos... Viajámos para longe de nós, para trás, para a frente, ao sabor da memória e da expectativa, perdidos, talvez... Portanto, ser feliz é só isso... Ficar onde estamos... Não nos deixarmos ir com os primeiros ventos e ficar firmes nas tempestades e ficar, ficar sempre aqui, perto de nós...
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Às vezes o simples entender do andar do tempo e do desenrolar do seu processo fazia-lhe impressão ao olhar para os que lhe eram de perto......
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