sexta-feira, 28 de março de 2014

viagem

Muitas vezes não percebia se miragem era o rio se a margem, apenas se sabe que do rio fez a sua viagem...

terça-feira, 25 de março de 2014

Em P3

"Não faço anos hoje, nem amanhã nem sequer para o mês que vem. Ainda assim, há aniversários a toda a hora à minha volta e, como diz o povo, ninguém está a ficar mais novo. Eles, como eu, estão a aproximar-se perigosamente dos trinta anos – aquela idade que, em miúdo, achava eu que já se estava acabado para a vida. Que já se começavam a fazer os planos para a reforma. Que ter trinta anos era a fronteira da estabilidade: a partir daqui, cuida-se dos filhos, entra-se às nove e sai-se às seis e os dias pouco passam disto. Naturalmente, estava redondamente enganado.

É certo que os tempos mudaram demasiado desde o início dos anos noventa para cá, mas hoje, chegar aos trinta parece-me o maior desafio das nossas vidas. É a era do tudo ou nada. Em que olhamos para trás e as conquistas nos parecem sempre poucas. Apontamos, por isso, os binóculos para a frente e observamos as miragens das ambições de sempre. Se não for nesta década, dizemos ingénuos a nós mesmos, podemos esquecer. Aos quarenta já se é velho para ter sucesso, julgamos.

Chegar aos trinta é um inchar peito à espera que as balas não nos acertem. É tomar fôlego apesar de não haver muito oxigénio ao dispor de quem tenta inspirar. É achar que os anseios e desejos hão-de tocar à campainha sem ter de esperar muito para que lhes abramos a porta.

Chegar aos trinta é temer o falhanço e, ainda assim, fazer uma lista do que ainda se espera. Como se fosse a derradeira década. Quero filhos, quero emprego, quero dinheiro, quero sucesso, quero ser amado, quero ir às ilhas Virgens, quero descobrir a fórmula da Coca-Cola, quero compor um “hit” mundial, quero escrever coisa mais bela que o Cântico dos Cânticos, quero marcar golos melhores que o Ronas, quero ter a minha cara por toda a Nova Iorque. Quero, quero, quero. Menos que isto é zero.

Chegar aos trinta também é assistir às primeiras cedências anatómicas. É ver os cabelos agarrar na trouxa e partir para longe. Os que ficam decidem fazer um “extreme makeover” e, aos poucos, empalidecer. Aqui e acolá, mais um branco para a colecção. É também perceber que a gravidade é a força mais poderosa do universo e que a flacidez também pode ter o seu quê de belo. Chegar aos 30 é um relembrar de que a idade é o temporizador da não existência: quanto mais avança, menos falta para se ir desta para melhor.

Chegar aos 30 é ver alguns amigos já casados, de recém-nascidos nos braços, mostrando ao mundo que os projectos de vida são reais e, embora nunca sejam lá muito planeáveis, são verdadeiramente realizáveis. É ver que à nossa volta, o que sobra são os solteiros exigentes e os pavores do compromisso. É apreciar as evoluções e conquistas dos nossos mais íntimos com sincero orgulho e secretíssima inveja.

Chegar aos 30 é saber que já muito se fez e que muito há ainda por fazer. É praticamente o meio-termo entre a loucura da juventude e a circunspecção da vida adulta. Acima de tudo, chegar aos trinta é não querer ter os trinta de mais ninguém."

http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/11356/chegar-aos-30

segunda-feira, 24 de março de 2014

Talvez

Antes sonhara toda a vida. Imaginara como seria o amanhã e o depois e o entretanto... Imaginara todas as conquistas que alcançaria um dia. Imaginava uma vida perfeita, uma vida única, julgava ter a capacidade de ser diferente de todos e adorado por outros tantos... À medida que os dias que um dia imaginara se lhe esbarravam com a vida começou a perceber que talvez tudo o que imaginou mais não era que o que toda a gente imaginara também... Lá atrás, onde sonhava de olhos abertos, julgava-se diferente e no fundo nunca foi diferente... A diferença talvez fosse que nunca partilhara o seu mundo com ninguém, os seus sonhos, os seus objectivos e como se dizia já há muito, um sonho que não é partilhado mais não é que isso mesmo, um sonho... Os dias iam passando e ia coleccionando derrotas, leves, pesadas... Das vitórias todas que tinha imaginado juntou derrotas e à medida que o tempo ia passando as derrotas pequenas quase eram como vitórias... Agora, de cada vez que viajava para o futuro mais não via que derrotas, cada vez mais derrotas, cada vez mais igual a todos, cada vez mais incapaz de ser diferente... Talvez um dia, mais lá para a frente o futuro o voltasse a surpreender e em vez das derrotas já imaginadas e quase vividas chegassem inesperadas vitórias. Talvez... O tempo, esse que se diz tudo ensinar a quem lhe conseguir resistir, ensinou-lhe que não se pode viver para a frente nem para trás e que o "dia mais importante da história de cada pessoa é hoje", talvez um dia aprenda a não viajar para onde não se sabe... Talvez não venha a ser feliz.. Talvez... Mas por enquanto, por enquanto mais vale não ser já infeliz... Talvez...

quarta-feira, 19 de março de 2014

"Onte"

Ver demais é um problema de visão mais grave que qualquer outro, ou outro qualquer... Não há ainda solução para aqueles que vêem para além do horizonte, não há ainda quem nos consiga fazer parar de olhar para lá de "onte"!!

domingo, 16 de março de 2014

Vai vento que a tempestade é uma criança

Vivia ao sabor do vento!! Diziam todos os que para ele olhavam com olhos de quem vê passar uma estrela cadente lá no horizonte... Os que viam mais de perto percebiam que às vezes o sabor do vento lhe dava vontade de ir contra ele. Às vezes quando tudo seria mais simples deixando-se levar impunha-se e tentava contrariar a corrente, de nada poderia valer para o mundo, mas fazia-o sentir-se solto no seu... Livre de correntes que prendiam os outros todos ao chão. Às vezes bastava-lhe perceber como seria a vida se a vida não fosse assim! às vezes sentia que tudo seria de uma outra forma qualquer, mas logo percebia que era assim porque os ventos nem sempre levam a sítios seguros e nem sempre levam a tempestades inultrapassáveis... Ficava ali, no meio, entre a felicidade e a tristeza, era como que estar no meio de um rio e olhar para as duas margens e não perceber para onde se devia remar. Era para ele fácil perceber que teria uma vida perfeita daquele lado, ou uma vida miserável do outro lado. Ficava ali, no meio, onde tudo poderia acontecer dependendo do rumo que desse ao barco, à vida, como queiramos chamar-lhe. Estava entre dois mundos, muitos diriam que dividido, poucos compreenderiam que estava decidido e sabia o porquê de não querer sair dali. Ali, naquele sítio, era onde a magia acontecia, era de onde conseguia vislumbrar futuros que nunca seriam.. E dali vivia outra vida, a sua, a única possível, uma vida incompleta, talvez, uma vida inteira de certezas que nunca seriam. Dos ventos pouco se sabia, nem se sabia se existiam, sabia-se que volta e meia o barco se aproximava de uma ou outra margem, mas ele conseguia sempre voltar ao meio, a si, ao seu mundo... Quase se deixava ir uma ou a outra margem mostrava-lhe e provava-lhe que não pertencia ali, que pertencia a outro lado. Não se sabe para onde o vento o levou. O que se sabe agora é que ali nunca houve rio, nunca houve barco, nunca houve margens. Mas sabe-se que existiu, só se não sabe onde, nem como, nem quando. Existiu só... E no fim é o que acontece a todos que se perdem num mar de memórias, de recordações, de doces pedaços de vida eternos. Talvez tenha sido isso, talvez tenha chegado a esse mar, temido por uns, desejado por outros, vivido por tantos. Nem sempre os ventos são bons ventos, nem sempre as tempestades são grandes tragédias, tudo depende da forma como enfrentamos um ou outro... às vezes temos de nos deixar ir, outras vezes temos de aguentar e ficar... Dele dizia-se ter sabido sempre quando ir ou não ir e acredita-se também que muitas vezes foi quando devia ficar e muitas vezes ficou quando devia ir. Podiam apontar-lhe isso, mas não lhe podiam provar que estava enganado. Mesmo que quisessem, já ninguém sabia dele... Perdera-se do mundo, encontrava-se no seu mundo... Imaginava-se...

domingo, 9 de março de 2014

Cartas anónimas


"Amor, ao leres esta carta vai para o meio do jardim, dá um beijo numa flor julgando que dás em mim; Vai-te carta voando, cada uma diz o que quer, mas eu queria muito que fosses minha mulher..  Passei à tua porta estava dizendo teu pai "Tantas tantas têm caído, mas minha filha não cai!!"... Por teres sido enganada tens andado a cismar, andas toda aferrada, ninguém te pode aturar. Neste dia 1 de Abril, dia da brincadeira, só penso em ti e gostava de estar sempre à tua beira. Tristes dias eu senti, duro é o meu viver, ter-te junto a mim era o meu maior prazer. Queres saber quem eu sou mesmo, hoje podes saber e chorar por toda a vida sem nunca me chegares a ver. Se vires o mar vermelho não te assustes que é sagrado, são as lágrimas de sangue que por ti tenho chorado. 
Ai amor não tenhas pena de não saberes quem eu sou, pensa bem e imagina quem já tanto te amou.
Sou todo teu para sempre, muitas e muitas felicidades... (deste que sempre te ama) "

Isto, pelo que eles contam, porque em Abril se trocavam cartas de amor anónimas... Diz que o meu pai escrevia para a minha mãe! Diz que casaram no primeiro de Abril!

quarta-feira, 5 de março de 2014

Era uma vez...

Não foram poucas as vezes que me questionei acerca do que seria eterno, do que será ser para sempre... Há muito me indagava se havia algum significado em eternidade, se valeria a pena ser eterno... As dúvidas nunca se dissipavam completamente... Às vezes parecia absurdo pensar que sim, não fazia sentido a memória, a intensidade da vivência, da convivência, da entrega, tudo isto parecia não fazer sentido, tudo isto parecia vazio de conteúdo, tudo isto mais não era que um pensamento confortável para aligeirar a vida tantas vezes, aparentemente, vã, vazia, fugaz, efémera... Outras vezes, dias mais solarengos talvez, a eternidade fazia algum sentido, haveria sempre memórias que se prolongariam para sempre, haveria com toda a certeza alguém que, mesmo deixando de estar fisicamente presente, viveria para sempre dentro de nós, nos sussurraria ao ouvido com aquela palavra que nos recordava novamente do propósito da vida, do verdadeiro propósito da partilha, da entrega, da felicidade já dividida... Tudo isto foi, para mim, uma incógnita... Uma questão para a qual precisaria de muito tempo, precisaria de viver, de perceber, de cimentar... Até lá seria sempre dúvida... Até que um dia um homem fantástico, há muito entregue a um amor que não conhecia barreiras, há muito inteiro, um amor que o construiu e que o levou, talvez, ao homem fantástico que é... Para si a sua "princesa", como carinhosamente a trata, é maior que tudo, mais forte que todos, mais capaz que ele próprio e será sempre maior que o mundo!! Será para ele o mundo deles, para sempre... Vi-o carinhosamente dizer "até já meu amor", como nunca havia ouvido alguém dizer, com sinceridade, a entrega, o amor, o carinho que tanto os caracteriza... Foi nesse homem que entendi que a eternidade não é uma brincadeira, não é um refúgio dos sentidos quando nos perdemos nos dias mais escuros, não é uma palavra oca, não é uma promessa... É sim a conquista de quem soube sempre o que é, de quem sabe a quem pertence, de quem sabe sempre para onde voltar... De quem sabe que a presença de alguém será para sempre, de quem entende que viverão para sempre, mas agora só nele... Para sempre vão ficar os momentos, as recordações, o que construíram e que nunca poderá ser destruído, para sempre será o mundo deles... Vão viver sempre os dois naquele grande coração que se tornou maior por ela... Naquele coração que será pequeno para os dois... E será sempre um coração cheio... Porque foi sempre e assim será... Porque não há nada mais eterno que a entrega verdadeira de um amor... Um amor que será sempre olhado por todos como único, como maravilhoso... E agora continuam a viver juntos, talvez ainda mais juntos, vivem num só, por enquanto... Serão sempre brilhantes!! E tal como prometido por esse grande homem à sua princesa, viverão felizes para sempre...

Para um grande senhor!

sábado, 1 de março de 2014

Pedaço de vida

Tinha uma vontade incontrolável de fazer, pensando bem ainda não tinha construído nada e o que tentava construir mais tarde ou mais cedo caíria... Tinha também uma vontade enorme de que as coisas corressem bem, como sempre haviam corrido até então... Não era infeliz, pelo contrário, sentia bem o sabor da felicidade, não era tudo, mas caminhava para o todo que seria. Tinha uma vontade insaciável de viver!! Tinha uma vontade incontrolada, ainda, de conquistar o mundo... O seu mundo... Decidiu então escrever num papel em branco todos os objectivos, decidiu espelhar o seu futuro num papel branco, um simples papel que mais não seria que o sítio para calcular o futuro... Não conseguiu escrever nada, nada do que pensava lhe parecia fazer sentido, nada lhe parecia possível escrever, como que se escrever destruísse cada objectivo calculado... E tudo voltou a fazer sentido, o futuro não se adivinha... E a folha em branco serviu apenas para adivinhar o passado. 

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...