quarta-feira, 27 de abril de 2011

Foge foge bandido

Que ao menos a noite te nao traga os
fantasmas de um passado perdido, sem
alternativa futura num presente fugidio.
Que consigas pelo menos escapar deste
presente que te persegue, enquanto
lutas incessantemente com todos aqueles
que te querem "tal qual todos os outros".
Que no fim consigas fazer ver a todos aqueles
que te tentaram impedir de seres o que és,
por não teres medo do que nao virias a ser,
que afinal o que importa é o que podes ser.
Tu que enfrentaste o teu pequeno mundo, que
se foi tornando grande à medida que te foste
tornando diferente de todos os outros, hoje
espero que os tenhas feito perceber que afinal
o caminho diferente, pelo qual todos te
criticaram, foi a forma chocantemente subtil
de mostrar a tua diferença e superioridade
em relação aos demais. Que tenhas agora a
força suficiente para seres um exemplo
digno de toda a tua "viagem", até porque
agora todos esperam o teu mal, tao só e
apenas, para não terem de se arrepender.
Tu, sim tu, tu agora mereces o respeito
de todos aqueles que se te colocaram à
frente, a tentar impedir a tua tortuosa
caminhada em direcção ao sucesso. Bandido.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Para sempre!

Escrevemos para aqueles que nao nos querem, ou
até quem sabe, para aqueles que nao nos conseguem
ouvir. Escrevemos para aqueles que virão a seguir,
porque quem gosta de se manifestar, nao se limita
ao seu tempo, ao seu trajecto. Quem gosta de
escrever pensa que nao é totalmente compreendido,
pode eventualmente pensar que os outros nao podem
atingir a complexidade dos seus pensamentos, podem
até pensar que sao unicos e geniais. Ou entao
podem apenas estar a atirar com a eternidade para
umas quantas palavras, podem querer viver para
sempre no que acabam por idealizar pelo que escrevem,
podem querer viver a realidade que criaram no papel,
até podem querer viver no imaginário e fazerem deste
o seu mundo. Podem já ter percebido, que afinal o
segredo para a vida eterna está aqui, aqui sim,
no que acabei de escrever. Se "amanha" alguém ler
o que acabei de escrever, estarei a viver para sempre,
ou pelo menos estarei a viver bem mais que a maioria.
O que acabei de escrever, poderá levar-me a viver
mais de 2000 anos, o que acabei de escrever poderá
ter-me tornado imortal, enquanto aproveito a vida
sem me preocupar com o amanha incerto e turbulento
que se imagina. E no entanto olho para aqueles que
lutam a todo o custo para se manterem "jovens" e
reparo na rapidez com que eles envelhecem. Olho
depois para o que acabo de escrever e reparo que,
apesar da distancia entre o inicio e o fim, as
palavras em nada envelheceram, apenas se prolongaram
no tempo... Nao será isto, isto apenas viver para
sempre? Viver para sempre não será tao só manifestar
as nossas ideias para alem da nossa vida?

Dia e Noite

Reparo na lentidao com que a noite cai e
imagino as mil formas como se constroi,
para daqui a nada ser "destruída" por um
novo dia que nasce. Dia esse que acabará
com toda a construçao desta bela noite...
Noite e dia "lutam" através de sempre, e
quem sabe, para sempre, e nunca se cansam
de o fazer, até porque nem são bem opostos,
tem alturas que é quase de noite, tem alturas
que é quase de dia. Alturas há, sim, em que
sao precisamente o oposto, opostos que se
respeitam, que sabem os seus limites, que
nao se ultrapassam, que nao se invadem demais.
Temos sido assim, tu dia, eu noite, temos
enfrentado várias lutas que nos transcendem,
da mesma forma que o ano ultrapassa este
pequeno ciclo noite e dia, mas esse ano em
nada interfere com a harmoniosa forma como
dia e noite vao passando, enquanto o ano os
tenta fazer perceber a sua insignificancia.
Partimos, desde sempre, do principio que eu
era "noite" e tu "dia", só nos faltou aguentar
um ou outro "ano" que por nós foi passando.
Vencemos muitos, é certo, mas nem nos haviamos
de ter preocupado, até porque foram as coisas
insignificantes que destruiram tudo o que foi
construido entre noite e dia, e foi muito, por
muito pouco que pareça agora. Percebo agora que
tudo o que fizemos foi viver, percebo agora que
todas as nossas lutas, todas as nossas divergen-
cias, todos os nossos momentos mais criticos,
nao foram mais que uma liçao de como sempre
nos respeitamos, um exemplo de como nunca nos
excedemos, seremos para sempre "dia e noite".
Chegamos juntos à conclusao, um dia saberemos
se acertada, de que dia e noite por muito bem
que se entreguem e coexistam, nunca ficarao
juntos, nunca haverá um meio termo, para os
classificar. Ao contrario deles, nos chegamos
ao fim, chegamos ao limite das nossas lutas,
chegamos como uma bela noite de Verao em que
até a chuva foi perfeita, chegamos ao fim como
um belo dia passado algures entre nenhures, até
ter chegado a noite. Seremos sempre assim,
olharei sempre para nos como um dia, um dia
inteiro, dia e noite, o ciclo perfeito entre
ambos. Ficaremos sempre assim "dia e noite"
e sabemos que deviamos ter ficado, mas fomos
mais audazes e quisemos seguir em frente.

Talvez eu construa à noite aquilo que deves
destruir durante o dia, talvez nos completemos
desta forma, talvez... Mas ficamos bem assim,
separados, cada um no seu devido lugar, sem
pensar que deviamos continuar numa luta desigual,
numa luta que nao é nossa... Talvez o tal "ano"
nos faça perceber, que afinal as pequenas coisas
afinal é que constroem o ano, ate porque um ano
é uma distancia percorrida por dias e noites que
vao de mao dada até ao seu destino, talvez sejamos
assim... Apenas caminhamos distanciados, iguais
a nos mesmos, como sempre, a construir na incerteza,
a destruir na duvida, chegaremos ao fim do caminho.
Por enquanto... Por enquanto ainda falta muito.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Just dream

Será que desistiram? Será que nao aguentam?
Será que afinal nao são assim tão más?
Será que sempre foi assim, desonesto,
manipulador, egoísta, será que nunca se
importou realmente com o mal que fazia
crescer à sua volta? Será que nunca pensou
em todos aqueles que desapontou, será que
se lembra das vidas que foi destruindo à
sua vergonhosa passagem? Ou será que afinal,
até era boa pessoa e aquela foi a forma de
atingir os objectivos que tinha traçado,
desde pequenino, como quem sonha ser bombeiro,
e foi "obrigado" a agir sempre sem pensar em
todos os que o rodeavam? Será que se arrepende,
agora, dos amigos que deixou às suas "sortes",
dos colegas que ajudou a desempregar, será que
se lembra das famílias que prejudicou, será que
se lembra daquele pequeno menino que um dia quis
ser engenheiro e se "limitou" a ir para as obras,
será que... Será que repara que de cada vez que
prejudicou alguém foi afastando todos os que
lhe ocupavam o coraçao, sem pagar dai perceber o
afastamento, será que agora, agora que todos
o ignoram, independentemente da sua fantástica
carreira profissional, da sua invejável e
luxuosa forma de vida(Sim porque este homem,
na realidade, nao vive, tem uma estranha e
miseravel forma de vida, é um destruidor).
Será esta a definiçao uma vida cheia
de nada, uma vida cheia de desilusão, de
desiludidos, uma vida cheia e farta de peso,
peso de consciencia, consciencia e confusao,
uma vida cheia de tempestades, onde a bonança,
ao contrário do que se diz, já nao vem, porque
até ela desistiu dele quando ele, ele destruiu
todos os portos seguros, que o seguravam,
como quem segura um bebé, que o protegia das
"chuvas" mais rigorosas. Será este o homem que
sonhou no que hoje acabou por se tornar,
antes de ter pensado no que realmente gostava de ser?
Será que a realizaçao de um sonho chega? Será
que nao foi este sonho que acabou por o destruir?
Um sonho, um sonho deve ser sempre seguido,
mas nao deixes que esse "sonho" te corrompa,
te cegue, te torne insensível, nao deixes que
te destrua a longo prazo. Um sonho deve ser
construido, bem o sei, mas tem cuidado com
aquilo que sonhas, porque podes perfeitamente
estar a construir a tua destruição. Que é a
unica coisa digna que terás, a tua destruiçao
através da tua propria construçao.
Nao escrevo para ninguem em particular, muito
menos de alguem que conheça, queria apenas realçar
uma ideia, um pensamento, "Muitas mais lágrimas
são derramadas pela concretizaçao de desejos,
do que pela sua nao realização..."

quinta-feira, 7 de abril de 2011

De: Sylvia Beirute "Um outro poema de amor"

UM OUTRO POEMA DE AMOR


o nosso amor não tem cultura,
não tem competências ou uma só entidade
que possa ser contactada
em caso de pré-morte;
não contempla todas as regiões
de um sábado ao fim da tarde, sinos
que reverberam na lembrança
imediatamente anterior, fazendo
ligar todo o tempo.
o nosso amor não tem inesquecibilidades
penduradas ao pescoço, um coração
cercado por uma bênção branca,
não tem categorias vocais,
fundamentalismos que sejam passagens
e pontes, transições para registos
graves e inerentes à singularidade
de um perceber-se a si mesmo
em cada segundo-ilha.
o nosso amor não tem amor
e mesmo a palavra que o assinala
vai perdendo as suas sílabas.


Sylvia Beirute
inédito

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desculpem-me

Se compreendo aquelas pessoas que estranhamente
conseguem ser felizes só com o facto de estarem
a prejudicar alguém?? Compreendo claro!!
Percebo perfeitamente que em vez dessas pessoas
viverem a sua miseravelzinha vida, se queiram
meter na vida de outra pessoa qualquer, nem que
seja apenas para tentar afectar um bocadinho o
mundo dessa mesma pessoa, que por acaso se abstém
um bocadinho do que os outros fazem ou deixam de
fazer. Pois bem, essa outra pessoa que os pequeninos
miseráveis a muito custo tentam afectar por norma
não obtêm grande sucesso, bem pelo contrário,
geralmente acabam por ser vitimas dos seus próprios
esquemazinhos básicos, até porque esse outro,
aquele que evita meter-se na vidinha doutros, tem
por norma nao ter problema em admitir os "erros",
se assim lhes pudermos chamar, que vai cometendo.
Pois bem, queria apenas frisar que por muito que
tentem virar o meu mundo, ele já por si só vira,
mas vira para o lado que quero, nao deixo que
me empurrem para aí, para onde me desejas "ter".
É com muita pena minha que desiludo aqueles que
tentam "prejudicar-me", até porque se o fazem
é porque realmente não devem ter muito que fazer
além disso detesto desiludir os que me são próximos,
mesmo que sejam proximos apenas para me prejudicar,
porque de qualquer forma nao me deixam de ser
importantes, mas tenho mesmo mesmo de o fazer.
Desculpem...

Saramago

"Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.
O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.
Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.
O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso."
"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."
"Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala."
"O Socialismo não produziu socialistas".
"O Socialismo é um estado de espírito".
"É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido."
"Aprender com a experiência dos outros é menos penoso do que aprender com a própria"(José Saramago)
"Sou um sobrevivente por ter conseguido manter alguns valores éticos"
"Toda verdade instalada, mesmo aquela a que aderi, é suspeita"
"A nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida."


Dedicado a esse senhor grande e grande senhor,
José Saramago

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Resta-te

Todos os dias damos um pequeno passo
em direcçao ao futuro, futuro esse
incerto apesar do passo firme que
acabamos de dar. Na incerteza do amanha
só nos resta tornar o hoje suportável.
Sei que muitos me chamam inconsequente
por nao pensar o suficiente no amanha,
sei que me apontam pela espontaneidade
de um ou outro acto, acto esse a que
voces acabam por chamar irreflectido.
Sim, porque isso a que "voces" vao
acabando por classificar de inconsequente,
ou irrefelectido para mim não passa apenas
de mais "um acto"ponderado, pensado e
devidamente avaliado num curto espaço
de tempo. Sei que se caminhasse pelo
caminho trilhado teria um futuro muito
mais certo, mas no entanto tao mais
igual a tantos outros que o olhamos
com ar de desprezo, chamamos "aborrecido"
e acabamos ainda por dizer que nao
queriamos nada parecido para nós.
E no fim, bem lá no fim, acabas por
reparar que esse exemplo para o qual
olhaste, um dia, nao é nada mais nada
menos que o teu passado, que acaba por
continuar no presente e pela tua falta
de vontade de voltar a tudo fazer de
novo se prolongará no futuro...

Estranho este mundo em que acabamos
um dia mais tarde por querer ter cometido
todos os erros e todas as más escolhas
que apontamos outrora a uma ou outra pessoa
que nada mais fazia senao,
Marcar o presente, dar um passo certo
para o futuro, sem a real noçao de que podia
eventualmente pisar o nada e cair inevitavelmente
no precipicio que no final de contas nunca
apareceu... E hoje olhas com desdem
aqueles que tiveram a ousadia de pisar sem
receio, até porque o que te mais chateava
era que mesmo que esse abismo tivesse aparecido
essa pessoa teria tido a força para se voltar
a levantar...

Descobres agora, com uma certa
tristeza e um certo sentido de culpa, que
afinal tudo o que sentiste durante todo
este tempo foi a inveja daquele que caminhava
em direcçao ao incerto sem medo, aquele que
ao contrário de ti nao teve medo de arriscar.

E agora, para te consolares, acabas por
aceitar a monotonia, como um prémio por
tudo aquilo a que abdicaste por esse medo
sem sentido do incerto, só porque te
preocupaste demais com o que os outros pensavam.

Resta-te suportar todo um passado que nao
consegues aceitar, resta-te conformares-te
com o tempo perdido, ou para atenuar,
o tempo que nao empregaste da melhor forma,
resta-te viver e esperar que um dia aquele
que continua a caminhar "inconsequentemente"
caia finalmente no tal abismo e se nao volte
a erguer... É essa invejosa esperança que
te continua a dar a força suficiente para
suportar mais uma noite que se aproxima.

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...