domingo, 29 de setembro de 2013

Quando o universo não chega

Sentara-se, fazia já algum tempo, junto à janela de sempre... Era a janela de sempre, mas por alguma razão, oculta ainda, tudo parecia diferente. Não se sentia perdido na escuridão lá de fora, como sempre se sentia... Era como que se a vida tivesse ganhado sentido. Um sentido que não conhecia. Da janela de sempre, não havia nada igual, seria de afirmar que aquela não era a sua janela, aquela janela discreta virada para o céu estrelado quando as nuvens se escondem da lua. Uma incomum nostalgia invadia-o. E, à medida que as horas se iam acumulando à janela, a nostalgia parecia envolvê-lo cada vez mais... Ao fim de algum tempo, o tempo necessário para perceber que aquela nostalgia que abraçava como sua mais não era que a sua imaginação a viajar por um mundo que não era seu, o tempo necessário para perceber que era apenas ele a viajar, talvez, por uma realidade que pertencia a qualquer outra pessoa, sentiu-se invadido por um sentimento de perda, um sentimento de perda que também não era seu. Talvez tivesse apenas sonhado acordado, talvez. Mas foi um sonho que quase conseguia agarrar se a janela não estivesse fechado (raio de chuva miudinha e insignificante). 
Dava consigo agora na janela de sempre, onde sempre se perdera, mais perdido ainda. Agora dentro de si, havia além daquela melancolia que o caracterizava já há muito, uma sensação de perda, uma sensação de que, afinal, não vivera. Percebeu que caminhava num sentido errado, talvez tenha até percebido que já alguém caminhava pela "rua" que seria dele. Perdera o caminho de si para outra pessoa qualquer. E agora, ali à janela, nada havia a fazer. Restava-lhe esperar, esperar que outra pessoa qualquer se perdesse de si e o encontrasse. Mas seria sempre mais uma pessoa perdida. Mais não seriam que pessoas à procura delas próprias. E por ali ficou até as horas o terem ludibriado com um sono leve e desaparecerem. Quando voltou a olhar pela sua janela, ela voltara a ser sua. Através dela via o mesmo de sempre, nem mais, nem menos. No entanto ainda dizem, os que conheceram a história do Sol, que a partir desse dia imperou nele a dúvida.
Dizem ainda que vai constantemente perdendo brilho, à medida que caminha perdido num caminho que nunca será seu. Tem para si todo um universo, seria capaz de fazer com que o seu brilho atingisse todo o universo. Mas pelo que dizem, o universo não lhe chega porque é muito, diz-se que quer apenas o seu caminho, o caminho que é seu. Chamam-lhe Lua e diz-se que ele poucas vezes a vê. E quando tal acontece, ela logo se apressa em desaparecer. E quando ela finalmente quer voltar, ele quer partir, talvez porque sinta que aquele caminho, o seu, já não é seu, talvez nunca tenha sido, talvez não tivera chegado a tempo. E quando se não chega a tempo, esperar já não faz sentido.   

sábado, 28 de setembro de 2013

Pesado

Enquanto fumava um leve cigarro depois de um café forte,
olhava lá para fora e via um dia cinzento, carregado por
uma chuva há muito esperada. Percebera, finalmente, que
a única coisa que lhe suportava a pesada realidade era
aquele leve cigarro. Percebia que os dias mais não eram
que leves cigarros para suportar uma realidade, cada vez
mais pesada, cada vez mais igual, cada vez mais sem sabor.
E aquele café, aquele cigarro davam um bocadinho de
sabor a uma existência tão leve como uma valsa dançada
por dois elefantes perdidos num ritmo errado. Pesado.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O inicio e o fim

Ali nos encontrávamos... mais uma vez. Cada um virado
para dentro, De costas voltadas a olhar a direito. Pareciam
mundos diferentes, Entre nós parecia adivinhar-se mais
não que um precipício. Até que num dia qualquer nos
atiramos, como se para sempre fossemos sobreviventes.

E o inicio já parecia o fim e o fim voltara a aparecer o inicio.

Karma

And just like they said... Yeap... "karma is a bitch"!!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Adeus ao poeta António Ramos Rosa

Morre o poeta, julga-se morta a alma. "O que foi feito morre com
ele!!" grita um daqueles que não sabe o que diz. E no entanto todos
sabem que a alma fica e o espírito nos há-de invadir muitas vezes.

"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração."

E ele lá se passeará por nós, lá se mostrará a quem ainda não
o conhece. Surpreenderá ainda muitos que não o viram... 
Apresentar-se-à a outros tantos que não o conheceram...

E é assim...


Grandes dúvidas

Às vezes sou invadido por grandes questões. E nem
Sempre consigo chegar a uma conclusão com sentido.
Por exemplo, quando aquelas pessoas que ligam para
fazer questionários e perguntam se temos tempo, quando
ligam aos velhinhos será que também lhes perguntam o
mesmo?? É que a probabilidade de eles dizerem
"tenho mas, tenho pouco" há-de ser muito grande.

sábado, 21 de setembro de 2013

Uma pausa

E eu saio, porque tenho de sair, porque escrever
salva-me e eu tenho de me perder, perder-me
de mim, encontrar quem me tentou não esconder.
Não que prometa voltar, mas prometo encontrar-me.

Até já... E se me encontrar, um breve até logo!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013


Seremos mais um desses amores que seria, se
ser não fosse tanto. E ultrapassados pelo que somos,
acabaremos por ser apenas mais uma pequena
acrobacia arriscada num mar agitado por segurança.
E sem medo de ser quem somos, deixamos passar
mais uma vida, com a certeza de que uma outra vida
um dia virá, e seremos mar calmo em tempestade.

O segundo

E por caminhar perdido num mundo há muito escurecido
bato contra mim num caminho já há tanto percorrido.
Cego por uma escuridão que me foi sempre alumiando
bato contra ti ainda desorientado e continuo como ando.
Tento convencer-me que nem reparo nesse doce olhar
que me cativa. Só para não ter de voltar a pensar que
batemos de frente nesse caminho já esquecido e perdido.
Um caminho que poderá ter sido apagado por uma
toda estrada que se lhe atravessa. Mesmo antes do
caminho ter sido considerado como passagem. Somos
caminhos secundários em estradas todas principais.


Imprecisos

(Da noite, há.de sempre nascer um novo dia.
E estranho é sonhar contigo de dia e querer esperar
por ti de noite; É um querer tanto que até alivia,
quando o acertado seria esquecer-te até te amar.)

E se só o amor chegasse, dar-te-ia o paraíso
e a vida mais não seria, para nós, que mais um fim.
Mas como ninguém o coração comanda, enfim...
mais não seremos que mais um amor impreciso.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

...

"Mal sabes, nem eu posso descrever-te
Esta minha fatal melancolia;
Não me lembra de ver romper o dia;
Nesta alma é sempre noite! Mas ao ver-te,
Porque será que a mim se me converte
A noite em luz e a mágoa em alegria?
Não serás tu o Sol que me alumia?"

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Folha que mata

Escrevia... Não havia percebido que à media que as suas frases ganhavam  forma,
inventava uma realidade, Uma realidade que se não conhecia, que se não imaginava.
Acaba de criar mais uns quantos medos que desconhecia. Acabou por perceber
outros tantos amores que temia serem tanto. À medida que o texto ganhava forma
a sua vida perdia sentido. E ele, coitado, continuava a escrever, não se sabe ser
por curiosidade, se por vontade de saber a quem amar. Diz-se que endoideceu,
diz-se também que não morreu de explosão de coração. Não se sabe de nada.

Nunca ninguém o alertara para o poder do olhar, do ver o que se imagina, ali,
escrito em folha de papel para matar. Não percebia que o amor ganhava forma,
porque já há muito o era. E só se perceba a intensidade quando se atira para
um papel e as palavras correm soltas para uma frase com sentido, com sentido
ali, e na outra realidade. Nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer que descrever
os medos é dar-lhes vida, uma vida maior, maior que nós. Estar ali, na folha que
mata dá a entender que o medo tem forma e se se consegue descrever é porque
quase que se consegue ver. E apesar de o sentir intensamente, julgava-o sem forma.

Nesta realidade nova, da folha que mata, acabara por perceber que nunca amou
a pessoa certa e aquela que julgava ser só outra, era a pessoa que lhe mordia
o coração, agora moribundo. Esteve ali, sempre ao lado dela a vê-la cair de pé,
sempre. Até ter chegado ali, à folha que mata, e a ter descrito é que percebeu que
a amava. Admirava-a há tanto tempo que estava cego por ela e não a conseguia
ver. E mesmo sem a ver conseguiu descrevê-la. Nesta tal folha, percebeu que a
vida só teria feito sentido se lhe tivesse dado o sentido certo quando deixou de ver.
Agora, que voltou a abrir os olhos e voltou a ver, agora que ela já não o cegava,
apenas brilhava como sempre fora, percebeu que era tarde para eles.

E foi nessa altura que o que seria só uma carta se transformou numa carta que mata.

Foi encontrada ao lado do seu corpo morto, de coração moribundo e alma perdida.

sábado, 14 de setembro de 2013

Somos barquinho de papel

E quando deixarmos de ser barquinho de papel a flutuar
seremos barquinho de papel afundado, mergulhao no
turbilhão das águas, seremos barquinho de papel submerso.
mas barquinho de papel continuaremos a ser, porque
podemos até não ter a força da água que nos puxa para
baixo, mas seremos sempre barquinho de papel resistente
como as pedras e vales que traçam o caminho das águas,
nunca deixaremos de traçar o nosso caminho, à superfície
ou mergulhados nas águas turvas e violentas de um rio
que corre sempre para o mesmo sítio. Para o fim.
E serenos estaremos sempre, para deixar o barquinho
quando faltar o ar, porque somos sempre livres de nós,
mesmo dentro do barquinho que seria nosso. Porque
este barquinho um dia pode deixar de ser nosso para
ser meu ou teu, neste rio violento a que chamam vida.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Gregório Duvivier faz piadas com violão no Programa do Jô - 02/08/2013

Novas medidas de austeriadade

Novas medidas do governo, são aplaudidas um pouco por toda a Europa. Por exemplo:

- Utentes que recorram às urgências em caso de doença e preferirem o suicídio (e no caso de não conseguirem forem abatidos a tiro pelo segurança) ficam isentos do pagamento de taxa moderadora.

- Alunos que abandonem a escola na primária terão 2 anos de isenção fiscal.

- Famílias que preferirem cremar os seus entes falecidos na fornalha lá de casa poderão colocar flores na porta de entrada em vez de terem de se deslocar ao cemitério. (a igreja não gostou tanto da ideia. Para irem buscar uns troquinhos têm de dar missas ao domicílio, famílias com crianças com menos de 4 anos têm direito a desconto). No caso de familiares cremados em vida foi também sugerida a oferta de uma coroa em nome da freguesia.

Estas foram as medidas sugeridas na apresentação ao tribunal constitucional. No caso destas serem chumbadas serão entregues novamente com uma nova alínea. O tribunal constitucional será extinto e no caso de se impor, os membros serão mortos pelo exército ao pontapé para poupar dinheiro em balas.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Só mais um dia

E é só mais um ano dizem todos... E no fim de contas, é só mais um dia... Um dia mais cheio, por palavras mais doces, algumas sinceras, outras nem tanto. Mas depois de se perceber as que são verdadeiras, acabamos embalados por uma doce música que nos eleva ao melhor de nós. E acabamos por flutuar acima do mundo, acima de tudo, porque nos sentimos aconchegados.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

WTC



E aquelas que foram as torres gémeas tornaram-se num ground zero.
Ou num grande zero... Tem um quê de irónico...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Seremos... Fomos...

E enquanto felizes não formos com tudo o que a vida terá para nos 
dar, resta-nos ser felizes com as pessoas que farão da nossa vida tudo 
o que ela nos há-de trazer. e a cada trago de amizade, a cada trago de 

amor... Seremos plenos, seremos leves, voaremos... talvez e seremos sempre 
mais que a vida. Seremos vários, seremos todos, seremos tudo, seremos 
mais que o que se consegue dizer. Seremos todos, seremos um... Seremos 

música, seremos dança em dias de chuva, seremos sol em dias de noite. seremos 
todos, seremos um, seremos a felicidade um a um. E no fim mais não seremos
que o que fomos. E se felizes não fomos, fomos um entre todos. Fomos...

domingo, 8 de setembro de 2013

Medo

Tinha uma vida perfeita, julgava quem via de fora. Tinha a melhor mulher do mundo, disso até ele tinha a certeza, não precisava que lho dissessem de fora. Além disso, de dentro via-se ainda melhor. Os filhos, eram o sonho de qualquer pai. Não, não estou a dizer que eram perfeitos, ou melhores que os filhos de outra pessoa qualquer. Estou só a dizer que para ele eram perfeitos. E não vou falar das coisas a que outros tantos dão valor, tais como trabalho, situação financeira. Não, fala-se apenas do que é importante, não quero com isto dizer que a vida deles não corressem bem nesses campos, também corria bem, muito bem. Poderia então afirmar-se com toda a certeza que eram felizes, que nada se lhes atravessava na felicidade.
No entanto, este homem que tinha uma vida perfeita (e tem) não se orgulhava de algo que havia feito no passado, era quase como que arrependimento, um peso de consciência. Não havia um dia que fosse que esse arrependimento não invadisse o seu pensamento e lhe desse vontade de gritar ao mundo que não merecia ser assim tão feliz. Não se sabe do que este homem se arrepende, nunca nos contou, sabemos apenas que se arrependia. Sempre que olhava para a sua mulher a brincar com os seus filhos recordava-se que não merecia estar ali, o que nos leva a pensar que aquilo de que se arrependia não seria muito leve. O tempo foi passando e o arrependimento começou a ser mais forte, começou a ganhar forma, quase tomava conta dele, sentia-se culpado. Num dia, pelo que se sabe de chuva vento e trovoada percebeu que não se arrependia, tinha sim medo de que um dia se descobrisse e tinha medo de que tudo o que tinha construído através dos anos lhe fugisse por entre as mãos por um erro que cometera. Não era arrependimento, era medo, medo só. Descobriu ao fim de todo este tempo que afinal apenas se arrependia de não ter dado a oportunidade ao tal "erro" que cometera e descobrir se não seria ainda mais feliz. No entanto era tarde para voltar atrás e a vida corria-lhe bem era feliz. Só tinha aquele pequeno arrependimento. E agora, se por acaso se soubesse as repercussões desse erro seriam destrutivas e ele não mais poderia voltar a cometer o tal "erro". Descobriu, ao fim de tanto tempo que se arrependia apenas de ter optado por esta vida... E agora tinha medo.

The Soundtrack of Our Lives - Second Life Replay

Gibran Khalil Gibran

Há sete séculos, sete pombas brancas levantaram voo de um vale profundo rumo aos cumes cobertos de neve. Um dos sete homens que as viram disse: Vejo uma pinta negra na asa da sétima pomba. Hoje, naquele vale, as pessoas falam de sete pombas negras que levantaram voo rumo aos cumes da montanha nevada.

sábado, 7 de setembro de 2013

"A verdade é um cobertor que deixa sempre os pés frios", mas dá para dormir bem com os pés frios!!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Pessoas

Pessoas. Todas elas diferentes, todas elas à procura de igualdade. Não, talvez nem todas procurem igualdade, talvez nem todas sejam muito parecidas. Tão depressa encontrámos alguém que se atira para o chão e espera a "misericórdia" de alguém que a levante, como vemos alguém que, com forças que ainda se não conhecem, se levantam como se nunca tivessem caído, como encontrámos aquelas que caem e precisam, de facto, de ajuda para se levantar. E depois, por entre elas, encontrámos uma ou outra que nunca cai. A esses custa mais, nunca saberão o que custa cair e nunca irão saborear o prazer de voltar a estar de pé. Mas pelo menos estas, as que nunca caem, nunca terão de sentir o sabor da misericórdia dos outros, dos que caem porque querem e são levantados... Um ser levantado só porque está ali, no chão e até estorva um bocadinho a quem quer passar. Esses não sentem o sabor de estar de pé, sentem apenas aquele bocadinho em que estão a ser levantados, onde as pessoas lhe colocam a mão, a força, e os levantam, depois não sentem mais nada e deixam-se cair outra vez, só para voltar a sentir "aquela" mão nas costas. A essas pessoas dói sempre. É uma ferida que não sara, só sara quando se está no chão... E assim é difícil ficar de pé. 

Nunca mais lhe escreveu

Durante muito tempo, talvez tempo a mais. Talvez já não valesse a pena escrever-lhe, talvez ela já o deixasse de ler há muito. Não sabia... Continuava a escrever... Dizia-lhe a palavras meias que sentia a sua falta, tentava explicar-lhe que o pouco sentido que encontrara para a sua miserável existência, muitas vezes mais não era que escrever-lhe. Sussurrar-lhe ao coração o que não conseguia exprimir... As palavras continuavam meias. Talvez porque as palavras não chegassem, talvez o sentimento não chegasse para as palavras, ou então o sentimento não era tão forte como as palavras o faziam parecer. Não sabia. Hoje, ou naquele dia não lhe escreveu. Escreveu para dentro, para si... Segredou ao seu próprio coração o que sentia. E o coração respondeu-lhe a meio batimento, como que se o sentimento não fosse suficiente para o coração bater mais depressa. Foi nesse dia que percebeu que se tivesse escrito para dentro há muito teria percebido que o coração não batia como parecia. E o sentimento há muito se perdera. O que se manteve foi a vontade de escrever, sem sentido, percebia agora. Nunca mais lhe escreveu.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Do princípio ao fim, antes do fim

"No princípio" julgavam-se parecidos. Ambos frequentavam os mesmos sítios, o que os levara a pensar que gostavam das mesmas coisas. De início parecia não haver diferenças. Com o passar do tempo começaram a descobrir algumas. Um dia deitaram-se cá fora, as horas foram caindo e rapidamente o dia se transformou em noite. Ela via as estrelas, a lua, imaginava as outras galáxias, os outros planetas, tentava entender vida em outros sítios, longe dali. Um mundo todo ele novo, cheio de coisas que se não conheciam. Imagina outros seres, muito diferentes de nós, a tentarem ver vida para além deles. Imagina outros seres à procura da mesma coisa que ela. Imaginava como viveriam, o que comeriam, se comeriam, se respiravam, se não. A sua imaginação não encontrava obstáculos. Voava por esta noite encandeando a escuridão com o brilho da sua curiosidade. Ele só vi escuridão, falta de luz, sentia-se agoniado por não perceber como iria chegar a casa se a única coisa que os seus olhos viam era escuro. Não pensava em mais nada, não queria olhar para cima, os seus olhos queriam habituar-se ao escuro para conseguir voltar para casa. Ele sabia que se ficasse muito tempo no escuro, aos poucos ia conseguindo encontrar os contornos da natureza que os rodeava. Ela tentava explicar-lhe que a escuridão era o que se via quando se não olhava para longe, quando a imaginação se prendia a um bocadinho de musgo. Ele tentava convencê-la de que se calcassem esse bocadinho de musgo poderiam cair e magoar-se, talvez até perderem-se para sempre. Foi ali, naquele momento, que perceberam que olhavam para sítios muito diferentes. Viram, mas não quiseram saber, os velhos hábitos continuavam a colocá-los no mesmo sítio. E, pelo que se diz por lá, nunca foram muito felizes, mas viveram bem, tristes, mas bem. No entanto, os dois equilibravam-se. Ele sempre muito preso ao chão, ela sempre muito agarrada às nuvens. E ficavam ali, no meio. Não foram felizes... Foram... Eles nunca quiseram contar se lhe chegou existir apenas, mas diz-se que ele foi mais feliz. Conseguiu tirar os pés do chão, coisa que nunca conseguiria sem ela. Diz-se que ela não foi tão feliz, diz-se que passou uma vida inteira presa à vida. Quando o que queria era descobrir o universo. Diz-se que o seu fim começou ali, naquela noite em que não caíram no musgo. Mas é o que se diz e nunca ninguém poderá ter a certeza.

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...