sábado, 13 de setembro de 2014

Vendo ir

E às vezes é só assim... Um baixar os braços, um desistir, um deixar ir... E esperar que, de alguma forma, um dia, a vida lhe va piscar o olho e dizer "anda ser feliz"... E é com essa estranha confiança que vai continuando a viver como quem ainda não morreu... Mas, sabem os outros que aquele viver já não é de quem ainda vive, percebem que é um viver de quem ainda não morreu...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Palavras leva-as o vento

Pediu-lhe baixinho que o ouvisse, pelo menos desta vez... Não é que desta vez o que tinha a dizer fosse mais importante que de todas as outras vezes, talvez fosse apenas porque sentia que aquele era o momento de dizer tudo o que havia a ser dito, como que se o que fosse dizer desta vez e mais uma vez, fosse ter um efeito diferente do que teve de todas as outras vezes... Esquecera-se, por aquele instante, que se não pode esperar reacções diferentes com a mesma "mistura de palavras" de sempre... Sentia de repente que pouco a pouco seria esquecido, sentia que nunca mais seria procurado, aos poucos sentia-se como se não mais fosse ser encontrado... A inquietude do esquecimento fazia com que a brisa que lhe varria o pensamento de quando em volta se transformasse numa tempestade de proporções nunca antes sentidas... As palavras voavam a uma velocidade incontrolável, o pensamento, esse, perdia-se nas palavras e não se encontrava na razão... Sentia como que, se não dissesse tudo agora, ficaria sempre à margem do coração, à margem da vida, à margem do tempo, à margem do mundo... E as palavras voavam soltas, sem direcção... Perdido em pensamentos e em palavras perdidas deixou-se ficar calado... E pediu-lhe baixinho, como quem já não tem força para dizer nada, como quem se perdeu no meio da tempestade, como quem deixa de acreditar no sentido e se deixa levar por um mar de emoções até bater num oceano de desilusões... "Não me ouças... Sente-me, não há nada que diga que faça mais sentido que sentir"... E sorriu, não havia muito mais a fazer que sorrir... E assim, assim se deixou levar pela tempestade carregada de palavras tontas... Palavras que a tempestade lhe arrancava do pensamento, pensamentos que se perdiam em gritos mudos, à margem do tempo, à margem da vida, à margem deles...

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...