quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Às vezes, quando se tem tudo, não se tem nada

Era um homem poderoso... Dele dizia-se não saber o dinheiro que tinha. Para ele as coisas não tinham valor algum, tinham apenas um valor simbólico na imensidão da sua fortuna. Os amigos, se é que lhe podia chamar assim, pouco mais custavam que um jantar de quando em vez. Dia sim muitos dias não, tinha a casa cheia de convidados vazios de vontade de estarem com ele. Nos outros dias tinha os empregados, perdidos por uma casa suficientemente grande para acolher uma aldeia inteira. Comprara tudo o que tinha e nem queria e no entanto sentia não ter nada. O dinheiro não lhe podia comprar a sincera amizade de alguém e o dinheiro fez com que fosse difícil alguém ser amigo dele. Viveu assim, como que cheio de vazio por dentro e farto de tudo por fora. Sempre que ponderava largar tudo e começar de novo pensava que era tarde demais, quando na realidade teria ido a tempo em qualquer altura que tivesse tentado. Nada fez, assim continuou. De quando em volta dava consigo perdido dentro de 4 paredes. Quando morreu perguntaram ao porteiro «Quanto é que ele deixou?» O porteiro respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos. (frase de António Lobo Antunes) No meio de tudo... viveu sempre sem nada... Acabou por deixar tudo e continuou com o nada que sempre teve.

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Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...