quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Mais uma tarde no parque

Sentou-se, como há muita fazia, no banco de jardim gasto pelo tempo e pelo tempo que as pessoas ficavam por lá sentadas, a observar o mundo que se lhes atravessava à frente. Era um banco que teria histórias de gente nova, gente mais velha, gente que já não era e daqueles que nunca chegariam a ser gente. E era seu também, pelo menos por enquanto, sabia que não seria para sempre, mas durante aquele momento seria seu e aquele momento poderia prolongar-se por quanto tempo quisesse. Dali via uma criança a brincar com uma senhora, talvez fosse mãe, dali não se percebia. De mais perto também não, não os conhecia. Pareciam felizes mesmo quando a criança caía e chorava até a alma da mãe gritar de pânico mudo. Mais perto de si um senhor, rico imaginava, vestia-se bem e mexia freneticamente no telemóvel, como que se estivesse a fechar mais um grande negócio. Volta e meia ouvia-o gesticular e via-o falar e não, não era ao contrário, o barulho que fazia era gestual, as palavras saiam quase como que gestos discretos, daqueles que não se deve prestar atenção. Dali, de longe, tudo parecia perfeito, mesmo o não senso daquelas 3 pessoas. Dali a vida parecia o milagre que muitos dizem ser. Dali não ser percebia que era só um casal e o seu filho. Um casal que se não ouve, um casal distante próximo de uma criança. Dali não se imagina que fala ao telemóvel com os amigos, uma amiga, quem sabe, para combinar mais uma noite fora de casa, para compensar o tempo que passou ali, no jardim, longe da sua família. Não passava de uma forma de estar ainda mais distante deles. Dali não se conseguia perceber que a criança chorava sozinha e os gritos mudos da mãe nada tinham a ver com o choro ensurdecedor da criança. Eram gritos pelas palavras gestuais do seu marido, que não eram camuflados pelas palavras mudas dele. E assim crescerá mais uma criança perto dos pais e longe do afecto. Assim crescerá mais uma criança com um pai ausente, presente no trabalho e na vida dos amigos. Assim crescerá uma criança com os olhos postos na mãe sufocada por gestos que ainda não compreende e que um dia mais tarde virá a repetir, como se nunca os tivesse visto. E assim cresce o mundo à velocidade que se impôs.

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