Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
(...)
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Eugénio de Andrade, Já Gastámos as Palavras
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Sê inteiro
"Se fores... vai mais longe! Se fizeres... faz diferente!
Se rires... ri até chorar! Se sonhares... sonha mais alto!
Se arriscares... arrisca tudo! Se pensares... pensa por ti!
Se saíres... sai da rotina! Se mudares... muda tudo!
Se contares... CONTA COMIGO!!!"
e
"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
Se rires... ri até chorar! Se sonhares... sonha mais alto!
Se arriscares... arrisca tudo! Se pensares... pensa por ti!
Se saíres... sai da rotina! Se mudares... muda tudo!
Se contares... CONTA COMIGO!!!"
e
"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
Christmas time
"Se conseguires tocar o horizonte
estarás perto do fim da viagem..."
Enquanto nao alcançares o horizonte
vai acreditando sempre nesta altura
de magia... Sejam felizes...
Feliz Natal
Escrito na montra
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Silencio
Poema à boca fechada
"Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo."
"Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo."
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Medo
Se tenho medo, perguntaram-me e eu afim de nao parecer fraco respondi de imediato que medo era coisa que nunca sentira e na realidade era esta a ideia que tinha. vim-me embora a pensar nisto e reparei que afinal
tenho medo de nao ter feito as escolhas certas tenho medo de um dia querer que o tempovolte atras para mudar o futuro (presente) tenho medo de ficar sozinho aquele sozinho rodeado de gentetenho medo de que no fim "o todo" nao tenha valido a pena tenho medo que um dia alguém me julgue por um passado que nao posso mudar tenho medo da morte nem é só a minha tenho ainda mais medo da morte dos que me sao proximos apenas porque ainda nao fui capaz como muitos que aí andam de entender o significado da vida ou entao como outras que vivem com uma leveza invejável sem pensar no amanha tenho medo de magoar aqueles que me sao proximos, tenho medo de os afastar... Tenho, tenho medo!!
tenho medo de nao ter feito as escolhas certas tenho medo de um dia querer que o tempovolte atras para mudar o futuro (presente) tenho medo de ficar sozinho aquele sozinho rodeado de gentetenho medo de que no fim "o todo" nao tenha valido a pena tenho medo que um dia alguém me julgue por um passado que nao posso mudar tenho medo da morte nem é só a minha tenho ainda mais medo da morte dos que me sao proximos apenas porque ainda nao fui capaz como muitos que aí andam de entender o significado da vida ou entao como outras que vivem com uma leveza invejável sem pensar no amanha tenho medo de magoar aqueles que me sao proximos, tenho medo de os afastar... Tenho, tenho medo!!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A insustentavel leveza do ser
Um dos livros que mais me "ilucidou" acerca da realidade (não sei definir exatamente a sensação) e me fez olhar para o mundo de forma diferente foi o romance "A Insustentável Leveza do Ser" (existe um filme mas aconselho sem dúvida o livro, a força da história para mim reside na prosa de Kundera e na forma como o mesmo nos leva aos bastidores do romance). A seguir aos dois primeiros capitulos que introduzem um debate cujo os personagens serão as “cobaias” da experiencia a fim de atingir as respostas. Lembro-me que nessa época eu estava a começar a ler Nietzsche o que me fez ler com mais afinco.
1A idéia do eterno retorno é uma idéia misteriosa, e uma idéia com a qual Nietzsche muitas vezes deixou perplexos outros filósofos: pensar que tudo se repete da mesma forma como um dia o experimentamos, e que a própria repetição repete-se ad infinitum! O que significa esse mito louco?
De um ponto de vista negativo, o mito do eterno retorno afirma que uma vida que desaparece de uma vez por todas, que não retorna, é feito uma sombra – sem peso, morta de antemão; quer tenha sido horrível, linda ou sublime, um horror, sublimidade ou beleza não significam coisa alguma. Uma tal vida não merece atenção maior do que uma guerra entre dois reinos africanos no século XIV, uma guerra que nada alterou nos destinos do mundo, ainda que centenas de milhares de negros tenham perecido em excruciante tormento.
"Algo ira ser alterada nessa guerra entre dois reinos africanos do século XIV, se ela por acaso acontecer eternamente?
Sim: ela vai tornar-se uma massa sólida, constantemente protuberante, irreparável na sua inanidade.
Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, os historiadores franceses sentiriam menos orgulho de Robespierre. Como, porém, lidam com algo que jamais se repetirá, os anos sangrentos da Revolução transformaram-se em meras palavras, teorias e discussões; tornaram-se mais leves que plumas, incapazes de assustar quem quer que seja. Há uma diferença infinita entre um Robespierre que ocorre uma única vez na história e outro que retorna eternamente, a decapitar cabeças francesas.
Concordemos, pois, em que a idéia do eterno retorno implica uma perspectiva a partir da qual as coisas se mostrem diferentes de como as conhecemos: mostram-se privadas da circunstância atenuante da sua natureza transitória. Essa circunstância atenuante impede-nos de chegar a um veredicto. Afinal, como condenar algo que é efêmero, transitório? No ocaso da dissolução, tudo é iluminado pela aura da nostalgia, até mesmo a guilhotina.
Não faz muito tempo, dei comigo a experimentar uma sensação absolutamente inacreditável. Folheando um livro sobre Hitler, comovi-me com alguns dos seus retratos: lembravam-me a minha infância. Eu cresci durante a guerra; vários membros de minha família pereceram nos campos de concentração de Hitler; mas o que foram suas mortes comparadas às memórias de um período já perdido de minha vida, um período que jamais retornaria?
Essa reconciliação com Hitler revela a profunda perversidade moral de um mundo que repousa essencialmente na inexistência do retorno, pois, num tal mundo, tudo é perdoado de antemão e, portanto, cinicamente permitido.
2Se cada segundo de nossas vidas repete-se infinitas vezes, somos pregados à eternidade feito Jesus Cristo na cruz. É uma perspectiva aterrorizante. No mundo do eterno retorno, o peso da responsabilidade insuportável recai sobre cada movimento que fazemos. É por isso que Nietzsche chamou a idéia do eterno retorno o mais pesado dos fardos.
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, então nossas vidas contrapõem-se a ele em toda a sua esplêndida leveza.
Mas será o peso de fato deplorável, e esplêndida a leveza?
O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, fazendo-se tanto mais reais e verdadeiras.
Inversamente, a ausência absoluta de um fardo faz com que o homem se torne mais leve do que o ar, fá-lo alçar-se às alturas, abandonar a terra e sua existência terrena, tornando-o apenas parcialmente real, seus movimentos tão livres quanto insignificantes.
O que escolheremos então? O peso ou a leveza?
Parmênides levantou essa mesma questão no sexto século antes de Cristo. Ele via o mundo dividido em pares opostos: luz/escuridão, fineza/rudeza, calor/frio, ser/não-ser. A uma metade da oposição, chamou positiva (luz, fineza, calor, ser); à outra, negativa. Nós poderíamos achar essa divisão em um pólo positivo e outro negativo infantilmente simples, não fosse por uma dificuldade: qual é o positivo, o peso ou a leveza?
Parmênides respondeu: a leveza é positiva; o peso, negativo.
Tinha ou não razão? Essa é a questão. Certo é apenas que a oposição leveza/peso é a mais misteriosa, a mais ambígua de todas.
Milan Kundera."
1A idéia do eterno retorno é uma idéia misteriosa, e uma idéia com a qual Nietzsche muitas vezes deixou perplexos outros filósofos: pensar que tudo se repete da mesma forma como um dia o experimentamos, e que a própria repetição repete-se ad infinitum! O que significa esse mito louco?
De um ponto de vista negativo, o mito do eterno retorno afirma que uma vida que desaparece de uma vez por todas, que não retorna, é feito uma sombra – sem peso, morta de antemão; quer tenha sido horrível, linda ou sublime, um horror, sublimidade ou beleza não significam coisa alguma. Uma tal vida não merece atenção maior do que uma guerra entre dois reinos africanos no século XIV, uma guerra que nada alterou nos destinos do mundo, ainda que centenas de milhares de negros tenham perecido em excruciante tormento.
"Algo ira ser alterada nessa guerra entre dois reinos africanos do século XIV, se ela por acaso acontecer eternamente?
Sim: ela vai tornar-se uma massa sólida, constantemente protuberante, irreparável na sua inanidade.
Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, os historiadores franceses sentiriam menos orgulho de Robespierre. Como, porém, lidam com algo que jamais se repetirá, os anos sangrentos da Revolução transformaram-se em meras palavras, teorias e discussões; tornaram-se mais leves que plumas, incapazes de assustar quem quer que seja. Há uma diferença infinita entre um Robespierre que ocorre uma única vez na história e outro que retorna eternamente, a decapitar cabeças francesas.
Concordemos, pois, em que a idéia do eterno retorno implica uma perspectiva a partir da qual as coisas se mostrem diferentes de como as conhecemos: mostram-se privadas da circunstância atenuante da sua natureza transitória. Essa circunstância atenuante impede-nos de chegar a um veredicto. Afinal, como condenar algo que é efêmero, transitório? No ocaso da dissolução, tudo é iluminado pela aura da nostalgia, até mesmo a guilhotina.
Não faz muito tempo, dei comigo a experimentar uma sensação absolutamente inacreditável. Folheando um livro sobre Hitler, comovi-me com alguns dos seus retratos: lembravam-me a minha infância. Eu cresci durante a guerra; vários membros de minha família pereceram nos campos de concentração de Hitler; mas o que foram suas mortes comparadas às memórias de um período já perdido de minha vida, um período que jamais retornaria?
Essa reconciliação com Hitler revela a profunda perversidade moral de um mundo que repousa essencialmente na inexistência do retorno, pois, num tal mundo, tudo é perdoado de antemão e, portanto, cinicamente permitido.
2Se cada segundo de nossas vidas repete-se infinitas vezes, somos pregados à eternidade feito Jesus Cristo na cruz. É uma perspectiva aterrorizante. No mundo do eterno retorno, o peso da responsabilidade insuportável recai sobre cada movimento que fazemos. É por isso que Nietzsche chamou a idéia do eterno retorno o mais pesado dos fardos.
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, então nossas vidas contrapõem-se a ele em toda a sua esplêndida leveza.
Mas será o peso de fato deplorável, e esplêndida a leveza?
O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, fazendo-se tanto mais reais e verdadeiras.
Inversamente, a ausência absoluta de um fardo faz com que o homem se torne mais leve do que o ar, fá-lo alçar-se às alturas, abandonar a terra e sua existência terrena, tornando-o apenas parcialmente real, seus movimentos tão livres quanto insignificantes.
O que escolheremos então? O peso ou a leveza?
Parmênides levantou essa mesma questão no sexto século antes de Cristo. Ele via o mundo dividido em pares opostos: luz/escuridão, fineza/rudeza, calor/frio, ser/não-ser. A uma metade da oposição, chamou positiva (luz, fineza, calor, ser); à outra, negativa. Nós poderíamos achar essa divisão em um pólo positivo e outro negativo infantilmente simples, não fosse por uma dificuldade: qual é o positivo, o peso ou a leveza?
Parmênides respondeu: a leveza é positiva; o peso, negativo.
Tinha ou não razão? Essa é a questão. Certo é apenas que a oposição leveza/peso é a mais misteriosa, a mais ambígua de todas.
Milan Kundera."
domingo, 12 de dezembro de 2010
Há dias
Há dias que nos vao caindo à frente
e fazem questao de nos questionar
acerca de todas as opçoes que fomos
tomando ao longo dos anos, dos meses,
do dia, da vida, enfim...
E é precisamente nesses dias que nos
cai tudo em cima... Coisas faceis de
resolver, noutros dias, mas nestes,
nestes custa e parece impossivel
e nao da vontade nenhuma...
Nao me lembro, sinceramente, de um
dia que me tivesse chateado tanto como
o de hoje, nao lembro...
E sao estes dias que provavelmente
nos levam a ponderar outras opçoes,
outras realidades, e o passado inteiro...
Nem eu mesmo me tenho reconhecido nestes
dias... A tomar decisoes que me nao sao
usuais... Sim, toda a gente tem um ou
outro momento de sensibilidade, mas mesmo
nessas situaçoes costumo a ser mais ponderado.
E é nestas alturas que me fazia falta
alguem que me dissesse, "va, vai ficar
tudo bem", é nestas alturas que damos
conta daqueles que passam e deviam ter
ficado. Demorei, mas percebi...
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
so pretty
Porque uma musica nunca será apenas uma
Musica... Esta musica traz-me, sempre
que a ouço alguém, um passado, uma
"aventura", uma aventura que ficou e
que vai e volta e vai ficando...
Just become inflatable for you
domingo, 28 de novembro de 2010
Ir e voltar
Mordeste-me o coraçao, é certo, partiste sem que eu te tivesse dito, também é certo... Nunca pensei que
me tivesses mordido o suficiente para ainda hoje reparar que foi uma mordidela tao funda que ainda nao sicratizou... E se o tempo cura tudo, nao cura, por certo, coraçoes mordidos... Nao se esqueça o como doi
levarem uma parte de nós e nao é facil voltar a arriscar que mais alguem chegue ao coraçao para nos voltar a morder com força. Talvez seja esse receio, esse bocadinho que levaste de mim que me nao permita voltar a deixar alguém entrar para me voltar a morder... Ou entao continuo a acreditar que, como das outras vezes, voltes com o meu pedacinho e me digas que afinal partir nao foi o melhor que tinhas a fazer... E volto a deixar-te morder-me o coraçao, quando no fundo descubro que vinhas apenas devolver-me o bocadinho que me tinhas roubado, enquanto, parado, te vejo partir novamente para onde tens de ir... Já devia ter percebido que se partes para onde tens de estar, nao te devia deixar voltar, para no fim levares mais um bocadinho de mim para onde, no fim tens de estar. Sem dar conta noto que uma grande parte de mim continua onde tens de estar, enquanto eu fico aqui, incompleto... E quando voltares sei que vou voltar a acreditar que no fim de tudo, o teu lugar é aqui, onde vens quando precisas e que farás de mim, por fim, completo... Esqueço-me claro que de cada vez que voltas e voltas a partir, mais um bocadinho de mim fica contigo e fazes com que se torne cada vez mais dificil deixar alguem ocupar o espaço que me levas de todas as vezes que voltas... Esqueço-me também que o tempo passa e que com esse passar de tempo, um dia vai ser tarde demais para deixar alguem entrar e assim sendo, vou ficando cada vez mais vazio... Vazio de mim, vazio de ti e um dia nem tu mesmo poderás voltar...
me tivesses mordido o suficiente para ainda hoje reparar que foi uma mordidela tao funda que ainda nao sicratizou... E se o tempo cura tudo, nao cura, por certo, coraçoes mordidos... Nao se esqueça o como doi
levarem uma parte de nós e nao é facil voltar a arriscar que mais alguem chegue ao coraçao para nos voltar a morder com força. Talvez seja esse receio, esse bocadinho que levaste de mim que me nao permita voltar a deixar alguém entrar para me voltar a morder... Ou entao continuo a acreditar que, como das outras vezes, voltes com o meu pedacinho e me digas que afinal partir nao foi o melhor que tinhas a fazer... E volto a deixar-te morder-me o coraçao, quando no fundo descubro que vinhas apenas devolver-me o bocadinho que me tinhas roubado, enquanto, parado, te vejo partir novamente para onde tens de ir... Já devia ter percebido que se partes para onde tens de estar, nao te devia deixar voltar, para no fim levares mais um bocadinho de mim para onde, no fim tens de estar. Sem dar conta noto que uma grande parte de mim continua onde tens de estar, enquanto eu fico aqui, incompleto... E quando voltares sei que vou voltar a acreditar que no fim de tudo, o teu lugar é aqui, onde vens quando precisas e que farás de mim, por fim, completo... Esqueço-me claro que de cada vez que voltas e voltas a partir, mais um bocadinho de mim fica contigo e fazes com que se torne cada vez mais dificil deixar alguem ocupar o espaço que me levas de todas as vezes que voltas... Esqueço-me também que o tempo passa e que com esse passar de tempo, um dia vai ser tarde demais para deixar alguem entrar e assim sendo, vou ficando cada vez mais vazio... Vazio de mim, vazio de ti e um dia nem tu mesmo poderás voltar...
Nem tudo é dias de sol
... Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
-Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E quando haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Fernando Pessoa
E a chuva, quando falta muito, pede-se
-Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E quando haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Fernando Pessoa
Charles Chaplin
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Amar é
"Amar é...
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!"
Albert Camus
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!"
Albert Camus
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Amanda Seyfried
A menina que fez o Dear John
também sabe cantar... O filme
não é genial, mas passa uma
ideia engraçada, ela canta
bem, a música nao ficou mal...
domingo, 24 de outubro de 2010
O elogio da loucura
ASSIM FALOU A LOUCURA Sobre a loucura: Quanto mais se é louco, mais se é feliz. Apenas a Loucura conserva a juventude e afugenta a importuna velhice. Quanto mais o homem se afasta de mim, menos goza a vida. Dona Natureza, genitora e criadora do gênero humano, tem o cuidado de em tudo deixar uma pitada de loucura. A Fortuna gosta das pessoas irrefletidas, das temerárias, daquelas que dizem habitualmente: “A sorte está lançada.” A Sabedoria torna tímidas as pessoas; encontrareis em toda parte sábios na pobreza, na fome e na miséria. Os loucos, ao contrário,nadam em dinheiro, tomam o leme do Estado e, em pouco tempo, são florescentes em todos os pontos. Só os loucos têm o privilégio de dizer a verdade que não ofende. A mulher: Juntar a mulher ao homem, seria, realmente, dizia eu, (criar) um animal delicioso, louco e insensato. Em vão a mulher veste a máscara, continua sempre mulher, ou seja, louca. É este dom da loucura que lhes permite ser, em muitos aspectos, mais felizes que os homens. Aliás, que mais procuram elas nesta vida, senão agradar o mais possível aos homens. O amor e a paixão: O que distingue o louco do sábio é que o primeiro é guiado pelas paixões, o segundo, pela razão. Existem paixões que ajudam os pilotos experientes a ganharem os portos. Quem não fugiria de um homem desses, fechado a todos os sentimentos, incapaz de uma emoção, alheio ao amor e à piedade? O amante apaixonado já não vive em si, mas inteirinho no objeto amado; quanto mais sai de si mesmo para se fundir neste objeto, mais se sente feliz. E quanto mais perfeito é o amor, mais forte e delicioso é seu tresvario. A vida: Se a vida permanecesse triste, não se chamaria vida. Quanto menos motivos tem o homem de prender-se a ela, mais a ela se agarra. Que importa, aliás, que morra, aquele que jamais viveu? A felicidade consiste essencialmente em querer-se ser o que é. O santo a quem tu rezas te protegerá, se tua vida se parecer com a dele. Dirão que é uma infelicidade ser enganado. Bem maior infelicidade é não o ser. É um enorme erro fazer a felicidade basear-se na realidade. Há uns que são ricos apenas de esperanças; seus sonhos agradáveis bastam para torná-los felizes. Nenhum bem satisfaz se não for compartilhado. As ciências e os sábios: As Ciências irromperam na humanidade com o resto dos seus flagelos. O homem é o mais calamitoso dos animais, porque todos aceitam viver nos limites de sua natureza, ao passo que ele é o único que se esforça por superá-la. Eis porque Deus, quando criou o mundo, proibiu provar o fruto da árvore da Ciência, como se a Ciência fosse o veneno da felicidade. O louco fala loucuras; os sábios, pelo contrário, têm duas línguas: uma para dizer a verdade, outra para dizer o que é oportuno. A pior das faltas de habilidade é ser sábio fora de hora. Tipos humanos: Os gramáticos enchem a cabeça das crianças com puras extravagâncias. Qual a necessidade da gramática, já que a língua é a mesma para todos e a única utilidade da palavra é fazer-se entender? Como se fosse motivo de guerra tirar uma conjunção do domínio dos advérbios. Alguns atores estão no palco representando seus papéis; alguém tenta tirar-lhes a máscara. Destruída a ilusão, toda a obra se estraga. Os poetas formam uma raça independente, constantemente aplicada em seduzir os ouvidos dos loucos com ninharias e fábulas completamente ridículas. Da mesma farinha são os escritores, que aspiram à fama imortal com a publicação de seus livros...O supra-sumo é cumularem-se de elogios recíprocos em epístolas e peças em versos. O escritor, sob meus auspícios, desfruta um feliz delírio, e sem fadiga deixa fluir de sua pena tudo o que lhe passa pela cabeça, sabendo, aliás, que quanto mais fúteis forem suas futilidades, mais aplausos recolherá. Sempre é o mais inepto que encontra mais admiradores. Os jurisconsultos reclamam o primeiro posto (da loucura), pois não existe ninguém mais vaidoso – amontoam textos de leis sobre um assunto sem a mínima importância. Depois deles vêm os filósofos e se declaram os únicos sábios, vendo no resto da humanidade umas sombras flutuantes. Os teólogos. A erudição de todas (suas escolas) é tão complicada que os próprios apóstolos necessitariam receber um outro Espírito Santo para discutir tais assuntos com esses teólogos de um novo gênero. Os monges. O que ambicionam não é se assemelharem a Cristo, mas se diferenciarem um do outro. CITAÇÕES: O número de loucos é infinito. (Eclesiastes) O mundo está repleto de loucos. (Cícero) O louco muda como a lua, o sábio permanece como o sol. (Eclesiástico) A própria loucura faz a alegria do insensato. (Salomão) Quem contribui para a ciência contribui para a dor; quanto mais conhecemos, mais nos irritamos. (Eclesiastes) O coração dos sábios está onde está a tristeza. O coração dos insensatos, onde está a alegria. (Eclesiastes) O louco vai pelo seu caminho, acreditando que todos os outros são loucos como eles. (Idem) Que aquele dentre vós que parece sábio se torne louco para ser sábio. (São Paulo) A loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens. (Idem) FONTE: Elogio da Loucura – Erasmo de Rotterdam
Quebrar?
Era eu a convencer-te de que gostas de mim,
Tu a convenceres-te de que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar p'ra esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade,
Juravas a certeza da mentira,
Mas sem queimar de mais,
Sem querer extingir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro,
Por saber que era o fim da roupa vestida,
Que inventara no meio do escuro onde estava,
Por ver o desespero na cor que trazias.
Afinal...
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxares-me para um lado mais perto,
Onde se contam histórias que nos atam,
Ao silêncio dos lábios que nos mata.
Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.
Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
Porque quebramos como crianças.
Afinal...
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...
É quase pecado que se deixa.
Quase pecado que se ignora.
Tudo vai
E por fim reparas, que não és
bom o suficiente para que esperem
por ti, por fim reparas que tudo
aquilo em que acreditaste durante
tanto tempo nao passa, no fim, de
uma pequena desilusão, que se vai
revelando maior conforme a observamos
a afasta-se de nos por nao ter esperado.
Agora o que resta? Correr atrás de
quem nao ficou o tempo suficiente
para perceber se realmente queria
ir ou nao? Talvez a culpa seja minha
de me fazer esperar demais, talvez
tenha medo de voltar a "cair", talvez...
Por fim reparas que ficaste sozinho,
que quem esperava contigo, preferiu
caminhar sozinha noutra direcçao.
Por fim reparas que ficaste sozinho,
mas estar só nao é assim tao mau,
também nao é assim tao bom, bem o sei.
É um nao sei quê que se suporta, até
porque me apercebo de que realmente é
o fim e devo caminhar, nao atras de ti,
mas para o lado certo do coraçao, talvez...
O que nao quer dizer que caminhar no teu
sentido fosse o lado errado, talvez nao o
fosse, mas nao me parece bem correr atras
do que nao espera... Sim, porque isto nao
é como quem vai atras do comboio que se
apressa ao nosso atraso... O comboio já tem
o seu caminho traçado com barras de ferro,
já tem um horário defenido que nao lhe
permite esperar por mim, mas tu nao tinhas...
Poderias ter tentado ajeitar o tempo de
forma a que eu nao chegasse tarde...
Portanto caminho para outro lado, até porque
ainda nao me traçaram caminhos de ferro,
ainda me acho capaz de moldar o meu caminho
á minha vontade, á minha maneira...
E esse, esse será o meu caminho, o meu e o de
que me acompanhar nessa viagem...
bom o suficiente para que esperem
por ti, por fim reparas que tudo
aquilo em que acreditaste durante
tanto tempo nao passa, no fim, de
uma pequena desilusão, que se vai
revelando maior conforme a observamos
a afasta-se de nos por nao ter esperado.
Agora o que resta? Correr atrás de
quem nao ficou o tempo suficiente
para perceber se realmente queria
ir ou nao? Talvez a culpa seja minha
de me fazer esperar demais, talvez
tenha medo de voltar a "cair", talvez...
Por fim reparas que ficaste sozinho,
que quem esperava contigo, preferiu
caminhar sozinha noutra direcçao.
Por fim reparas que ficaste sozinho,
mas estar só nao é assim tao mau,
também nao é assim tao bom, bem o sei.
É um nao sei quê que se suporta, até
porque me apercebo de que realmente é
o fim e devo caminhar, nao atras de ti,
mas para o lado certo do coraçao, talvez...
O que nao quer dizer que caminhar no teu
sentido fosse o lado errado, talvez nao o
fosse, mas nao me parece bem correr atras
do que nao espera... Sim, porque isto nao
é como quem vai atras do comboio que se
apressa ao nosso atraso... O comboio já tem
o seu caminho traçado com barras de ferro,
já tem um horário defenido que nao lhe
permite esperar por mim, mas tu nao tinhas...
Poderias ter tentado ajeitar o tempo de
forma a que eu nao chegasse tarde...
Portanto caminho para outro lado, até porque
ainda nao me traçaram caminhos de ferro,
ainda me acho capaz de moldar o meu caminho
á minha vontade, á minha maneira...
E esse, esse será o meu caminho, o meu e o de
que me acompanhar nessa viagem...
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Eu que mudo
Este eu que vos escreve agora,
nao é o mesmo eu que acabaste de ler.
Somos seres em constante mudança
e o que eu escrevi neste momento,
provavelmente nao será a
mesma coisa que quero que leias agora.
Todas a ideologias que defendo hoje
amanha poderao nao passar de ideias
parvas e sem fundamento...
Amanha poderei olhar para ontem
e perguntar-me como foi possivel...
E não, nao vou mudar tanto assim
vou provavelmente pensar doutra forma
Ver as coisas com uma experiencia que
hoje ainda nao tenho e reparar que
afinal nao devia ter ido por "ali",
afinal nao escolhi o caminho certo...
Mas isso vai ser amanhã, depois de
descobrir onde o hoje me leva...
E assim nao vou ter de me arrepender,
vou ter de aprender...
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
"nao" destino
O filme falava acerca
de tempo, talvez abordasse
aquela velha máxima:
"Nao importa quanto tempo
dure, o que importa é a
intensidade com que se vive"
(nao sei se é exactamente assim),
Talvez tenhamos algo pre-destinado
talvez independentemente do
tempo que passe, independentemente do
que façamos nos entretantos, o que nos
foi, de certa forma destinado,
acabará por nos cair aos pés...
"isso" que nos cairá aos pés,
será entao o nosso destino.
Ora então o que realmente me
revolta é esse tal "nao-destino",
aborrece-me saber que por muito que
faça, por muito que tente, uma ou
outra coisa, se me estiver "nao destinado"
tudo o que fiz até então foi em vão,
ou sendo optimista, esse tal "vão"
acabou por ser o que acabou por
me levar, áquele que será o meu destino.
No meio disto, esqueci-me de mencionar
que o destino pode ser bom ou mau.
Esse "tal" destino acaba por não ser
mais do que um acumular de opçoes
que foram tomadas ao longo do tempo.
se fizermos as opçoes certas, o final
poderá ser feliz, caso nao haja um ou
outro destino a cruzar o nosso.
Portanto sendo optimista, construimos
o destino de trás para a frente,
como deveria ser, se formos pessimistas
acreditamos que o futuro ja nos foi destinado
á nascença... É realmente muito bom
adormecer agora e pensar que se hoje
cometemos um enorme erro, "amanhã"
não foi um erro, foi o destino que nos
levou a cometer esse disparate, em nome
de toda a felicidade que por aí vem...
Pois bem, isso não é acreditar no destino,
a isso chama-se ser comodista, chama-se
atirar para cima de algo que "pode" nem sequer
existir toda a responsabilidade de um ou´
outro acto impensado, irrefelectido, que
acabaria por nos perseguir até, caso não
houvesse esse tal "destino", ao fim.
Acredito seriamente nesse tal "nao destino"
até porque sou optimista e quero pensar
que aquilo que possa vir a acontecer
de bom, caso venha, aconteceu porque eu
lutei, tentei, acreditei, errei, resolvi e
nao porque o destino já tinha feito isto
tudo em minha vez...
Eu comodamente me sentaria á espera do
destino, esqueceria todos os erros que
cometi, isto se lhe podessemos chamar
erros, afinal não passam da forma utilizada
pelo destino para chegar a um objectivo,
então surge-me esse tal de "nao destino".
E eu fico a pensar que só quem
quer ficar comodamente sentado é que
espera pelo que ái vem...
Não sei se vou errar, mas essas pessoas
talvez nao tenham a coragem de enfrentar
a vida de forma cruel e simples e pessoal
e particular e "responsavel".
Eu gostava de acreditar no destino, talvez
acredite um pouco, talvez porque nao tenha
a coragem suficiente, mas ultimamente
tenho-me feito algumas perguntas e o destino
nao me parecer ser a melhor resposta para
muitas delas... E o que mais me assusta é
que não lhes encontro resposta alguma...
Deixei, talvez de acreditar (ou a nao
ter tanta certeza) em (de) muita coisa...
O filme nao é nada de surreal, aliás,
é muito básico... Tem um história
comovente: doença, guerra, amor, tragédia,
"traiçao", perdão... "destino" digamos...
Mas é básico e assim será a vida
ao acreditar no "destino"...
Eu sempre fui um não sei quê mais
complexo, nao me posso permitir
acreditar no destino, é dificil,
bem o sei, mas não e tão monótono,
será um bocadinho mais Interessante.
Ou então será uma enorme dor de cabeça,
e quando assim for acredito que foi o
destino que me obrigou a pensar assim...
Fácil...
Vou contra tudo o que defendi agora.
de tempo, talvez abordasse
aquela velha máxima:
"Nao importa quanto tempo
dure, o que importa é a
intensidade com que se vive"
(nao sei se é exactamente assim),
Talvez tenhamos algo pre-destinado
talvez independentemente do
tempo que passe, independentemente do
que façamos nos entretantos, o que nos
foi, de certa forma destinado,
acabará por nos cair aos pés...
"isso" que nos cairá aos pés,
será entao o nosso destino.
Ora então o que realmente me
revolta é esse tal "nao-destino",
aborrece-me saber que por muito que
faça, por muito que tente, uma ou
outra coisa, se me estiver "nao destinado"
tudo o que fiz até então foi em vão,
ou sendo optimista, esse tal "vão"
acabou por ser o que acabou por
me levar, áquele que será o meu destino.
No meio disto, esqueci-me de mencionar
que o destino pode ser bom ou mau.
Esse "tal" destino acaba por não ser
mais do que um acumular de opçoes
que foram tomadas ao longo do tempo.
se fizermos as opçoes certas, o final
poderá ser feliz, caso nao haja um ou
outro destino a cruzar o nosso.
Portanto sendo optimista, construimos
o destino de trás para a frente,
como deveria ser, se formos pessimistas
acreditamos que o futuro ja nos foi destinado
á nascença... É realmente muito bom
adormecer agora e pensar que se hoje
cometemos um enorme erro, "amanhã"
não foi um erro, foi o destino que nos
levou a cometer esse disparate, em nome
de toda a felicidade que por aí vem...
Pois bem, isso não é acreditar no destino,
a isso chama-se ser comodista, chama-se
atirar para cima de algo que "pode" nem sequer
existir toda a responsabilidade de um ou´
outro acto impensado, irrefelectido, que
acabaria por nos perseguir até, caso não
houvesse esse tal "destino", ao fim.
Acredito seriamente nesse tal "nao destino"
até porque sou optimista e quero pensar
que aquilo que possa vir a acontecer
de bom, caso venha, aconteceu porque eu
lutei, tentei, acreditei, errei, resolvi e
nao porque o destino já tinha feito isto
tudo em minha vez...
Eu comodamente me sentaria á espera do
destino, esqueceria todos os erros que
cometi, isto se lhe podessemos chamar
erros, afinal não passam da forma utilizada
pelo destino para chegar a um objectivo,
então surge-me esse tal de "nao destino".
E eu fico a pensar que só quem
quer ficar comodamente sentado é que
espera pelo que ái vem...
Não sei se vou errar, mas essas pessoas
talvez nao tenham a coragem de enfrentar
a vida de forma cruel e simples e pessoal
e particular e "responsavel".
Eu gostava de acreditar no destino, talvez
acredite um pouco, talvez porque nao tenha
a coragem suficiente, mas ultimamente
tenho-me feito algumas perguntas e o destino
nao me parecer ser a melhor resposta para
muitas delas... E o que mais me assusta é
que não lhes encontro resposta alguma...
Deixei, talvez de acreditar (ou a nao
ter tanta certeza) em (de) muita coisa...
O filme nao é nada de surreal, aliás,
é muito básico... Tem um história
comovente: doença, guerra, amor, tragédia,
"traiçao", perdão... "destino" digamos...
Mas é básico e assim será a vida
ao acreditar no "destino"...
Eu sempre fui um não sei quê mais
complexo, nao me posso permitir
acreditar no destino, é dificil,
bem o sei, mas não e tão monótono,
será um bocadinho mais Interessante.
Ou então será uma enorme dor de cabeça,
e quando assim for acredito que foi o
destino que me obrigou a pensar assim...
Fácil...
Vou contra tudo o que defendi agora.
domingo, 3 de outubro de 2010
Killing me softly
Nunca me tinha dado ao trabalho
de gostar de Alicia Keys...
É mais isso, dá trabalho gostar,
ás vezes...
Comecei por lhe dar o mérito pela forma
como toca piano e como sorri
enquanto se maravilha com o que produz...
Quando descobri que ela também
gosta destas músicas tive de
Aceitar que a miuda é fantastica...
domingo, 26 de setembro de 2010
One way or another
Bom, por vezes dou comigo a pensar
no como seria se...
Se nao tivesse complicado demais,
se tivesse feito tudo de uma outra forma,
se deveria ter realmente, ou nao,
ter ido ali, ou nao ter ido a esse mesmo "ali".
Perguntaram-me, não faz muito tempo,
se tinha medo...
Respondi sem pensar (o que me levou a
dize-lo com a certeza e a convicçao
de que essa era mesmo a minha resposta)
Nao... Isto era o que eu realmente pensava.
O problema é que essa pergunta acompanhou-me
durante mais uns quantos dias...
O que me levou a perceber que abaixo da
superficialidade desse "nao"
Tinha mais medos do que seria possivel adivinhar.
Medos esses que passam por aqueles tais "se".
Nao foram poucas as vezes que me apeteceu
deixar-me levar pela espontaniedade, atirar
tudo o que tinha para correr atrás de algo
"maravilhoso" mas incerto, arriscado digamos.
No fim acabei por reparar que me identificava
perfeitamente no que um dia disse a uma pessoa
que me foi, ou que ainda me é, muito importante.
Disse-lhe: Nao te contentes com tudo o que tens,
se esse "tudo" á beira de tudo o que desejas, não for nada.
Disse-o um dia como se fosse o dono da razão,
como se já tivesse passado por situaçoes
em que larguei "tudo" para correr atrás
do que realmente seria o meu "tudo",
o meu sonho, a minha vontade, o que eu
realmente queria, mas não, no fundo, ao que
parece, nao passaram de palavras ocas.
Só agora dei conta de que nao tinha o direito
de ter dado tal "conselho", porque afinal,
eu nunca larguei nada para correr atrás de algo incerto.
Agora talvez compreenda a razão pela qual
tantas vezes me deixo ficar "comodamente sentado"
a dizer que nao quero.
Afinal o que me falta é mesmo a coragem de
"largar tudo".
Isto tudo porque reparei que passo ao lado de
pessoas que gosto e gostava de ter presentes,
apenas porque disse que "nao".
Se a partir de hoje vou mudar??
Acho que não...
"Sentado comodamente"
Gostei do filme, não é brilhante, mas vi-o
quando era novinho, eheh!!!
E isto é um exemplo de como ultrapassar
uns quantos "se"...
E o que tiver de ser... Será, enquanto isso
"sentado comodamente" espero.
no como seria se...
Se nao tivesse complicado demais,
se tivesse feito tudo de uma outra forma,
se deveria ter realmente, ou nao,
ter ido ali, ou nao ter ido a esse mesmo "ali".
Perguntaram-me, não faz muito tempo,
se tinha medo...
Respondi sem pensar (o que me levou a
dize-lo com a certeza e a convicçao
de que essa era mesmo a minha resposta)
Nao... Isto era o que eu realmente pensava.
O problema é que essa pergunta acompanhou-me
durante mais uns quantos dias...
O que me levou a perceber que abaixo da
superficialidade desse "nao"
Tinha mais medos do que seria possivel adivinhar.
Medos esses que passam por aqueles tais "se".
Nao foram poucas as vezes que me apeteceu
deixar-me levar pela espontaniedade, atirar
tudo o que tinha para correr atrás de algo
"maravilhoso" mas incerto, arriscado digamos.
No fim acabei por reparar que me identificava
perfeitamente no que um dia disse a uma pessoa
que me foi, ou que ainda me é, muito importante.
Disse-lhe: Nao te contentes com tudo o que tens,
se esse "tudo" á beira de tudo o que desejas, não for nada.
Disse-o um dia como se fosse o dono da razão,
como se já tivesse passado por situaçoes
em que larguei "tudo" para correr atrás
do que realmente seria o meu "tudo",
o meu sonho, a minha vontade, o que eu
realmente queria, mas não, no fundo, ao que
parece, nao passaram de palavras ocas.
Só agora dei conta de que nao tinha o direito
de ter dado tal "conselho", porque afinal,
eu nunca larguei nada para correr atrás de algo incerto.
Agora talvez compreenda a razão pela qual
tantas vezes me deixo ficar "comodamente sentado"
a dizer que nao quero.
Afinal o que me falta é mesmo a coragem de
"largar tudo".
Isto tudo porque reparei que passo ao lado de
pessoas que gosto e gostava de ter presentes,
apenas porque disse que "nao".
Se a partir de hoje vou mudar??
Acho que não...
"Sentado comodamente"
Gostei do filme, não é brilhante, mas vi-o
quando era novinho, eheh!!!
E isto é um exemplo de como ultrapassar
uns quantos "se"...
E o que tiver de ser... Será, enquanto isso
"sentado comodamente" espero.
domingo, 12 de setembro de 2010
POEMA AOS AMIGOS
A todos voces que estiveram
comigo ontem, principalmente
uns ou outros que insistiram
para ficar, um muito obrigado.
A todos voces que preenchem
a minha vida, um enorme obrigado
e admitam têm muita sorte
por me conhecerem (e dai talvez nao).
"Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas o temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.
Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.
Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.
As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.
Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.
Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.
Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.
Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.
Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabezas
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.
E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo
Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.
Obrigado por seres meu amigo. "
comigo ontem, principalmente
uns ou outros que insistiram
para ficar, um muito obrigado.
A todos voces que preenchem
a minha vida, um enorme obrigado
e admitam têm muita sorte
por me conhecerem (e dai talvez nao).
"Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas o temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.
Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.
Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.
As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.
Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.
Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.
Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.
Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.
Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabezas
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.
E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo
Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.
Obrigado por seres meu amigo. "
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Só te falta seres mulher
O fim pode ter um fundo bem lindo,
Mas nao vai deixar de ser o fim...
Da mesma forma que, como tu dizes,
fujo do futuro, com "medo",
Mas como te digo, de nada me vale,
porque ele vem já ai atrás, vê-lo?
Só te falta seres mulher...
De uma mulher...
“Não me lembro da identidade da voz que um dia, me confessou junto ao ouvido: “As únicas viagens, são aquelas que fazemos de corpo parado, quando a velocidade da mente nos guia até aos recantos mais obscuros das nossas recordações. Aí, a viagem deixa de ser sonhada para ser vivida a dois corpos.”. Hoje na sombra que vela a minha verdadeira face, concebo fielmente a verdade contida em tal pensamento.
Quando viajamos ao sabor das marés que se desenham contra os cascos dos barcos, sentimos a erupção de um mundo que ergue tiranicamente a nossa volta. Ama-lo ou odiá-lo. Nenhum outro sentimento mediano pode ser despertado do âmago da virtude humana. Ver o mar é ver o mundo. Um novo mundo, de horizontes insondáveis para um espírito atento e questionador como o de Richard. Para mim, apenas um mundo velho e estreito demais para as vontades e desejos de qualquer mulher.
Ao anoitecer cercava-nos um céu estrelado, vulgar e imperceptível para a maioria das gentes, mas perturbador para os que vêem por detrás das estrelas vultos do passado que nos vigiam e sentenciam os nossos actos. Num misto de piedade misericordiosa e impetuosidade sanguinária, pequenos senhores num mar estrelado que nos guia até porto seguro ou até a perdição dos nossos sentidos mortais. Assim são os Antepassados.
Homens medem o céu com instrumentos demasiadamente bizarros para uma mulher presa a terra como eu, mas ao vê-los não pude deixar de intuir que não só mediam as distâncias entre os pontos longínquos da Terra como mediam a distância que separa os mortais da sua imortalidade. A sua silhueta marcada subtilmente pela bruma de um nevoeiro espesso, fazia-os personagens irreais presas a contos infantis em que a realidade e o imaginário se unem e fundem. Naquela magica hora em que as trevas e a luz se edificam, por detrás de uma nuvem graciosa de luminosidade, a cortina entre o passado e o futuro parecia entreabrir-se perante o meu olhar nostálgico.
Com ironia, meditaria, no fim dos meus dias, sobre aquelas noites, para redescobrir uma felicidade escondida nos raios de luz que as estrelas lançavam contra as marés feitas de prata por uma Lua cheia de si. Beijei o mundo na sua face mais bela, em gotas de água salgada e jurei lealdade as brumas que envolvem os homens. Fosse eu para sempre, a espectadora atenta das vidas que se desenrolaram a minha volta, só amando-as poderia admirar a visão final do propósito Humano. Richard no silêncio que nos tornou cúmplices, compactuava com o meu desejo e entre sorrisos prometemos unir esforços na demanda da nossa descoberta. Se outros haviam descoberto oceanos e novos continentes, nós descobriríamos a natureza selvagem presa em cada homem.
Foi aqui que tudo começou e tudo terminou. A Eternidade num momento. Este foi o momento.”
Catherine Valois
Quando viajamos ao sabor das marés que se desenham contra os cascos dos barcos, sentimos a erupção de um mundo que ergue tiranicamente a nossa volta. Ama-lo ou odiá-lo. Nenhum outro sentimento mediano pode ser despertado do âmago da virtude humana. Ver o mar é ver o mundo. Um novo mundo, de horizontes insondáveis para um espírito atento e questionador como o de Richard. Para mim, apenas um mundo velho e estreito demais para as vontades e desejos de qualquer mulher.
Ao anoitecer cercava-nos um céu estrelado, vulgar e imperceptível para a maioria das gentes, mas perturbador para os que vêem por detrás das estrelas vultos do passado que nos vigiam e sentenciam os nossos actos. Num misto de piedade misericordiosa e impetuosidade sanguinária, pequenos senhores num mar estrelado que nos guia até porto seguro ou até a perdição dos nossos sentidos mortais. Assim são os Antepassados.
Homens medem o céu com instrumentos demasiadamente bizarros para uma mulher presa a terra como eu, mas ao vê-los não pude deixar de intuir que não só mediam as distâncias entre os pontos longínquos da Terra como mediam a distância que separa os mortais da sua imortalidade. A sua silhueta marcada subtilmente pela bruma de um nevoeiro espesso, fazia-os personagens irreais presas a contos infantis em que a realidade e o imaginário se unem e fundem. Naquela magica hora em que as trevas e a luz se edificam, por detrás de uma nuvem graciosa de luminosidade, a cortina entre o passado e o futuro parecia entreabrir-se perante o meu olhar nostálgico.
Com ironia, meditaria, no fim dos meus dias, sobre aquelas noites, para redescobrir uma felicidade escondida nos raios de luz que as estrelas lançavam contra as marés feitas de prata por uma Lua cheia de si. Beijei o mundo na sua face mais bela, em gotas de água salgada e jurei lealdade as brumas que envolvem os homens. Fosse eu para sempre, a espectadora atenta das vidas que se desenrolaram a minha volta, só amando-as poderia admirar a visão final do propósito Humano. Richard no silêncio que nos tornou cúmplices, compactuava com o meu desejo e entre sorrisos prometemos unir esforços na demanda da nossa descoberta. Se outros haviam descoberto oceanos e novos continentes, nós descobriríamos a natureza selvagem presa em cada homem.
Foi aqui que tudo começou e tudo terminou. A Eternidade num momento. Este foi o momento.”
Catherine Valois
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Lembro-me
Lembro-me daquelas noites de Verao
em que saia sem aquele peso do que
aí viria... Beber com os amigos,
sem ter receio de que no dia seguinte
poderia acordar de ressaca ao lado
de um papel que correspondia a uma
avultada multa passada pelos senhores
de fatiota verde...
Sair sem o receio de que no outro dia
as horas perdidas "hoje" fossem fazer
para lá de muita falta...
Tenho saudades desses dias, em que
saimos so os dois... so nos...
Tenho saudades daquelas noites em que
podia correr para todo o lado sem o receio,
esse receio miudinho, de encontrar quem
no meio de tanta gente, nao queria...
E isso leva-me a nós... Um nós que
corria para todo o lado sem medo de tudo...
Esse nos cansou-se... Mas eu vou sozinho!!
E vai ser hoje, ou amanha... Que vou correr
sem esse "medo" que te atormenta...
Hoje ou amanha...
em que saia sem aquele peso do que
aí viria... Beber com os amigos,
sem ter receio de que no dia seguinte
poderia acordar de ressaca ao lado
de um papel que correspondia a uma
avultada multa passada pelos senhores
de fatiota verde...
Sair sem o receio de que no outro dia
as horas perdidas "hoje" fossem fazer
para lá de muita falta...
Tenho saudades desses dias, em que
saimos so os dois... so nos...
Tenho saudades daquelas noites em que
podia correr para todo o lado sem o receio,
esse receio miudinho, de encontrar quem
no meio de tanta gente, nao queria...
E isso leva-me a nós... Um nós que
corria para todo o lado sem medo de tudo...
Esse nos cansou-se... Mas eu vou sozinho!!
E vai ser hoje, ou amanha... Que vou correr
sem esse "medo" que te atormenta...
Hoje ou amanha...
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Aceitem!
Eu sei que nos acostumamos. Mas não deviamos.
Habituamo-nos a viver no apartamento dos fundos
e a não ter outra vista que não a das janelas á volta.
E porque não temos uma vista, acostumamo-nos a nao olhar para fora.
E porque não olhamos para fora, acostumamo-nos a não abrir a cortina.
E porque não abrimos a cortina, acostumamo-no a acender a luz mais cedo.
E a medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar, esquecemos a grandiosidade.
Acostumamo-nos a acordar de manhã exaltados porque está na hora.
A tomar café a correr porque estamos atrasados.
A ler o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A comer porcaria porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é de noite.
A adormecer no autocarro por estarmos cansados
A ir dormir pesados porque acabamos de nao viver mais um dia.
Habituamo-nos a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E ao aceitar a guerra, aceitamos os mortos e que haja um número para os mortos.
E ao aceitar os números aceitamos não acreditar em negociações de paz,
aceitamos ler todos os dias acerca de guerras, dos números, da longa duração.
Acostumamo-nos a esperar o dia inteiro, a ouvir pelo telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso em troca.
A ser ignorados quando precisavamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos a pagar por tudo o que desejamos e por tudo que necessitamos.
A lutar para ganhar dinheiro a fim de pagar esse "todo".
E a ganhar menos do que precisamos.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagarremos mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter como pagar nas filas onde se tem de pagar.1
Acostumamo-nos a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver publicidade.
A ir ao cinema e ver promoçoes.
A ser levados, dirigidos, quase obrigados a cair na infindável lista de produtos.
acostumamo-nos à poluição.
As salas fechadas com ar condicionado e cheiro a tabaco.
A luz artificial de ligeiramente tremula.
Ao choque que os olhos levam com a luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Acostumamo-nos a não ouvir o passarinho, a não ter o galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta da arvore, a não ter sequer uma planta.
acostuma-nos a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e corremos a lengeda.
Se a praia está contaminada molhamos apenas os pés e suamos no resto do corpo.
Se o trabalho nao vai bem, consolamo-nos a pensar no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, vamos para a cama cedo
e ainda ficamos satisfeitos porque precisavamos mesmo dormir.
Aprendemos a aceitar tudo, para preservar a pele.
Acostumamo-nos para evitar feridas, sangramentos, para nos esquivarmos
da faca para salvar o coraçao.
Habituamo-nos a tudo para poupar a vida que aos poucos se perde, que se perde de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Fodasse!!!!!
Baseado numa Marina qualquer coisa... Mas é uma boa imagem de tudo aquilo que fazemos todos os dias...
Habituamo-nos a viver no apartamento dos fundos
e a não ter outra vista que não a das janelas á volta.
E porque não temos uma vista, acostumamo-nos a nao olhar para fora.
E porque não olhamos para fora, acostumamo-nos a não abrir a cortina.
E porque não abrimos a cortina, acostumamo-no a acender a luz mais cedo.
E a medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar, esquecemos a grandiosidade.
Acostumamo-nos a acordar de manhã exaltados porque está na hora.
A tomar café a correr porque estamos atrasados.
A ler o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A comer porcaria porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é de noite.
A adormecer no autocarro por estarmos cansados
A ir dormir pesados porque acabamos de nao viver mais um dia.
Habituamo-nos a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E ao aceitar a guerra, aceitamos os mortos e que haja um número para os mortos.
E ao aceitar os números aceitamos não acreditar em negociações de paz,
aceitamos ler todos os dias acerca de guerras, dos números, da longa duração.
Acostumamo-nos a esperar o dia inteiro, a ouvir pelo telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso em troca.
A ser ignorados quando precisavamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos a pagar por tudo o que desejamos e por tudo que necessitamos.
A lutar para ganhar dinheiro a fim de pagar esse "todo".
E a ganhar menos do que precisamos.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagarremos mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter como pagar nas filas onde se tem de pagar.1
Acostumamo-nos a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver publicidade.
A ir ao cinema e ver promoçoes.
A ser levados, dirigidos, quase obrigados a cair na infindável lista de produtos.
acostumamo-nos à poluição.
As salas fechadas com ar condicionado e cheiro a tabaco.
A luz artificial de ligeiramente tremula.
Ao choque que os olhos levam com a luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Acostumamo-nos a não ouvir o passarinho, a não ter o galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta da arvore, a não ter sequer uma planta.
acostuma-nos a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e corremos a lengeda.
Se a praia está contaminada molhamos apenas os pés e suamos no resto do corpo.
Se o trabalho nao vai bem, consolamo-nos a pensar no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, vamos para a cama cedo
e ainda ficamos satisfeitos porque precisavamos mesmo dormir.
Aprendemos a aceitar tudo, para preservar a pele.
Acostumamo-nos para evitar feridas, sangramentos, para nos esquivarmos
da faca para salvar o coraçao.
Habituamo-nos a tudo para poupar a vida que aos poucos se perde, que se perde de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Fodasse!!!!!
Baseado numa Marina qualquer coisa... Mas é uma boa imagem de tudo aquilo que fazemos todos os dias...
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Nao tem de ter um título... tem?
Nao tinha acerca do que escrever, dizia...
Olhava em volta e nao mais via que
um computador, nao muito moderno,
nao muito antigo... Descrever o quê?
Paredes vazias, cheias de nada...
Estantes cheias de objectos sem significado,
até que te aproximas, reparas em livros,
livros que contam uma história, que já
te roubaram uma ou outra noite...
Livros esses que tenho plena noçao que
nao são todos meus, ou melhor, são, mas
nao fui eu que os escolhi, além da
história interior ainda têm o como
cá teriam chegado...
Mais... Que haverá mais por aqui?
Ahhh Uma janela... Rectangular,
nada demais... A paisagem aparente
também ela nada demais... Mas por esta
janela consigo imaginar um mundo inteiro
lá fora... Vou sair... Foi um prazer!!
Salvo por uma janela de madeira...
Quem diria??
Olhava em volta e nao mais via que
um computador, nao muito moderno,
nao muito antigo... Descrever o quê?
Paredes vazias, cheias de nada...
Estantes cheias de objectos sem significado,
até que te aproximas, reparas em livros,
livros que contam uma história, que já
te roubaram uma ou outra noite...
Livros esses que tenho plena noçao que
nao são todos meus, ou melhor, são, mas
nao fui eu que os escolhi, além da
história interior ainda têm o como
cá teriam chegado...
Mais... Que haverá mais por aqui?
Ahhh Uma janela... Rectangular,
nada demais... A paisagem aparente
também ela nada demais... Mas por esta
janela consigo imaginar um mundo inteiro
lá fora... Vou sair... Foi um prazer!!
Salvo por uma janela de madeira...
Quem diria??
terça-feira, 10 de agosto de 2010
"The man from earth"
E se um homem tivesse vivido o
tempo suficiente para ser o Homem?
E ainda andasse por ai para contar?
Brilhante brilhante brilhante...
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Desafio
A ti meu caro...
A ti que enfrentaste todos os medos
com uma força indomavel,
A ti que tantos sorrisos roubaste
aos que tinhas perto, aos que te "tinham perto",
A ti que nunca desististe...
A ti que "nunca deixaste nada
por dizer, nem nada por fazer"...
A ti agradeço o esforço que fizeste
pelo teatro, pela cultura, enfim,
por todos nós...
Nao te disse, porque acabei por
deixar algo por dizer...
Obrigado!!
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Ser grande
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O Homem de hoje
E aí andas tu...
Vestido com aquilo que essa
merda de sociedade te ensinou
ser de qualidade e bom gosto.
Rodeado por uma massa uniforme
que te incentiva a seres esse
"nada" bem vestido, sim porque
nao passas de um merdas bem vestido
para aqueles que conseguem ver
através dessa máscara ridicula
com que orgulhosamente te passeias
pelo mundo daqueles que nada conseguem ver...
Essa merda de sociedade que te educa
e que faz de ti essa puta dessa futilidade
que te consome até á alma...
Aí andas tu...
Perguntaste, acaso, o real preço
dessa merda que te caracteriza?
Teoria do caos
Corremos atras de todas as respostas
Nao sei se só para ter espaço
para mais umas quantas perguntas
Se para tentar perceber o porque
de as coisas nao poderem ser
"á nossa maneira"
E quando por fim chegamos á
espera resposta, partimos
em direcçao a mais uma pergunta
só porque nao podemos viver
com a ausencia de porques.
Porque quem nao tem duvidas
tem mesmo mesmo muito pouco...
"Não me inquieto
quando não recebo as respostas
das perguntas que não fiz.
Eu me conformei
em reservar alguma coisa
de ti para saber depois.
Um pouco de nosso amor
será póstumo.
É recomendável
não descobrir todos os segredos"
Fabrício Carpinejar
Nao sei se só para ter espaço
para mais umas quantas perguntas
Se para tentar perceber o porque
de as coisas nao poderem ser
"á nossa maneira"
E quando por fim chegamos á
espera resposta, partimos
em direcçao a mais uma pergunta
só porque nao podemos viver
com a ausencia de porques.
Porque quem nao tem duvidas
tem mesmo mesmo muito pouco...
"Não me inquieto
quando não recebo as respostas
das perguntas que não fiz.
Eu me conformei
em reservar alguma coisa
de ti para saber depois.
Um pouco de nosso amor
será póstumo.
É recomendável
não descobrir todos os segredos"
Fabrício Carpinejar
terça-feira, 29 de junho de 2010
A vida é muito importante para ser levada a sério.
Dizia aquele senhor, o Oscar Wilde...
E sim, a vida é realmente muito importante...
Mas porque nao a levar a sério?
Deixei tantas vezes "isto, ou aquilo"
Para trás apenas para aproveitar
Uma ou outra coisa que me ia proporcionar
Uma sensaçao qualquer, ressaca,
No dia seguinte que fosse,
Imediatamente.
Fui deixando nao menos que
Muitas vezes, o futuro,
No qual havia de ter investido
Algum desse tempo "bem deitado fora"
Se me arrependo??
Mas é que nao me arrependo nadinha!!
E agora... Tento levá-la
Um bocadinho mais a sério
Só para me lembrar de como
Foi tao bom ter feito de conta
Que o futuro podia esperar
O tempo que eu quisesse...
Esse futuro nao esperou...
Esperei por outro.
Ainda nao chegou...
E sim, a vida é realmente muito importante...
Mas porque nao a levar a sério?
Deixei tantas vezes "isto, ou aquilo"
Para trás apenas para aproveitar
Uma ou outra coisa que me ia proporcionar
Uma sensaçao qualquer, ressaca,
No dia seguinte que fosse,
Imediatamente.
Fui deixando nao menos que
Muitas vezes, o futuro,
No qual havia de ter investido
Algum desse tempo "bem deitado fora"
Se me arrependo??
Mas é que nao me arrependo nadinha!!
E agora... Tento levá-la
Um bocadinho mais a sério
Só para me lembrar de como
Foi tao bom ter feito de conta
Que o futuro podia esperar
O tempo que eu quisesse...
Esse futuro nao esperou...
Esperei por outro.
Ainda nao chegou...
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Ao senhor prémio Nobel
"Na ilha por vezes habitada
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste."
Do senhor prémio nobel português,
José Saramago
Que tenhas mordido a vida até aos ossos!
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste."
Do senhor prémio nobel português,
José Saramago
Que tenhas mordido a vida até aos ossos!
quinta-feira, 10 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Medo?
Será que nao foi aquele medo,
aquele medo que nos consome,
quando nos surge a ideia de
que alguém poderá ser feliz
com aquilo que era "nosso",
aquilo que já nao me chegava,
que me fez caminhar tão lentamente
para longe de nós?
aquele medo que nos consome,
quando nos surge a ideia de
que alguém poderá ser feliz
com aquilo que era "nosso",
aquilo que já nao me chegava,
que me fez caminhar tão lentamente
para longe de nós?
Comparo-te
Comparo-te áquele momento fantástico
aquele momento preso á memória
como conceito do que de melhor
do que de melhor me podia ter acontecido...
Até que lá volto, "hoje", e reparo
que afinal tudo nao passava
da maneira mágica como te vivi...
Agora posso, finalmente, soltar
essa tal memória presa...
E voltar... Voltar a olhar para "lá"
com a certeza de que a magia, presa também,
a essa tal memória, pode agora ser minha
e só minha novamente!!
Foi como um pouco de mim que ficou
lá atrás, á espera, á espera
do que teria acontecido se o resto de mim
nao tivesse continuado em frente...
aquele momento preso á memória
como conceito do que de melhor
do que de melhor me podia ter acontecido...
Até que lá volto, "hoje", e reparo
que afinal tudo nao passava
da maneira mágica como te vivi...
Agora posso, finalmente, soltar
essa tal memória presa...
E voltar... Voltar a olhar para "lá"
com a certeza de que a magia, presa também,
a essa tal memória, pode agora ser minha
e só minha novamente!!
Foi como um pouco de mim que ficou
lá atrás, á espera, á espera
do que teria acontecido se o resto de mim
nao tivesse continuado em frente...
Perfeito
O tal conceito de perfeiçao
que tantas vezes se tenta,
em vão encontrar nao existe.
E porquê perguntas-me...
Imagina a melhor noite,
os melhores amigos,
sao esses que podem fazer da noite a melhor,
música, essa melodia que nos embala
pela noite dentro, fazendo com que
o silencio se consiga tolerar,
Umas quantas bebidas (porque já pertenco aquele grupo, fraco,
que quando sai com a intençao de se
divertir até mais nao já se auxilia nesse
complemento alcoólico de quem já
nao consegue divertir-se apenas com a sua sobriedade.)
Imaginem toda esta noite...
Mas hoje, especialmente, nao queria estar ali...
Queria um cantinho, um cantinho sossegado,
um cantinho onde nao houvesse ninguem,
onde ninguem conseguir notar
a minha ausencia presente naquele sitio.
a perfeição nao está ali, nem acolá,
nem em lugar algum.
A perfeiçao, a perfeiçao encontrámo-la diariamente
quando estamos, finalmente presentes
no sitio que esperavamos, com todo o ser...
A perfeiçao está em nós
e na maneira como lidamos com o que nos rodeia...
que tantas vezes se tenta,
em vão encontrar nao existe.
E porquê perguntas-me...
Imagina a melhor noite,
os melhores amigos,
sao esses que podem fazer da noite a melhor,
música, essa melodia que nos embala
pela noite dentro, fazendo com que
o silencio se consiga tolerar,
Umas quantas bebidas (porque já pertenco aquele grupo, fraco,
que quando sai com a intençao de se
divertir até mais nao já se auxilia nesse
complemento alcoólico de quem já
nao consegue divertir-se apenas com a sua sobriedade.)
Imaginem toda esta noite...
Mas hoje, especialmente, nao queria estar ali...
Queria um cantinho, um cantinho sossegado,
um cantinho onde nao houvesse ninguem,
onde ninguem conseguir notar
a minha ausencia presente naquele sitio.
a perfeição nao está ali, nem acolá,
nem em lugar algum.
A perfeiçao, a perfeiçao encontrámo-la diariamente
quando estamos, finalmente presentes
no sitio que esperavamos, com todo o ser...
A perfeiçao está em nós
e na maneira como lidamos com o que nos rodeia...
Errar
"Não fica,
no limite, nada por fazer,
dissemos a quem amamos
o que tínhamos de dizer,
escolhemos entre dúvidas
sempre a resposta certa,
e sempre errámos,
mas
se errar é adormecer
aconchegado por um novo dia
pelo qual toda a noite esperámos -
os cães ladrando
na distância, a bruma assentando na terra,
e um último carro na estrada
a caminho de casa -
gostava de poder errar
outra vez,
para no limite
poder olhar para as horas vincadas
pelo sono e achar que foram
a única vida que tive."
Roubadinho ali ao lado
ao arquivo fantasma...
Autor: Desconhecido, por enquanto
no limite, nada por fazer,
dissemos a quem amamos
o que tínhamos de dizer,
escolhemos entre dúvidas
sempre a resposta certa,
e sempre errámos,
mas
se errar é adormecer
aconchegado por um novo dia
pelo qual toda a noite esperámos -
os cães ladrando
na distância, a bruma assentando na terra,
e um último carro na estrada
a caminho de casa -
gostava de poder errar
outra vez,
para no limite
poder olhar para as horas vincadas
pelo sono e achar que foram
a única vida que tive."
Roubadinho ali ao lado
ao arquivo fantasma...
Autor: Desconhecido, por enquanto
terça-feira, 18 de maio de 2010
Para onde?
Desengane-se quem
julga estar certo
porque haverá sempre
alguma coisa,
alguma coisa que
por muito que queiramos
nos irá sempre ultrapassar.
E repara-se, por fim,
que caminhamos sem sentido.
Descobre-se que nem tudo
tem realmente de ser "assim".
E nessa altura tudo se
torna mais leve, levezinho.
Porque caminhar sem rumo
nao é dificil, mas acaba
por nao dar em nada.
E se nao dá em nada
nao se torna pesado!
Vou longe ao menos
nas asas do meu pensamento,
nao compreendo, ás vezes,
mas fica-me a esperança,
a esperança, que há afinal
um "sitio" onde ficar.
Porque ficar parado não é,
como muitos dizem, um erro
Ficar parado no sítio errado,
isso sim, parece-me
um atraso importante.
julga estar certo
porque haverá sempre
alguma coisa,
alguma coisa que
por muito que queiramos
nos irá sempre ultrapassar.
E repara-se, por fim,
que caminhamos sem sentido.
Descobre-se que nem tudo
tem realmente de ser "assim".
E nessa altura tudo se
torna mais leve, levezinho.
Porque caminhar sem rumo
nao é dificil, mas acaba
por nao dar em nada.
E se nao dá em nada
nao se torna pesado!
Vou longe ao menos
nas asas do meu pensamento,
nao compreendo, ás vezes,
mas fica-me a esperança,
a esperança, que há afinal
um "sitio" onde ficar.
Porque ficar parado não é,
como muitos dizem, um erro
Ficar parado no sítio errado,
isso sim, parece-me
um atraso importante.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Cançao de madrugar
ah e tal ouves susana felix?
(realce-se o tom crítico)
ouço pois
(realce-se o orgulho)
Ora porque?
Ora vejam lá a menina a cantar!
Cavalo á solta - Ary dos santos
E eu nao sou destas coisas
mas o homem escreve bem
ela nao canta nada
mas mesmo nada mal
a combinaçao pode ser perfeita?
pode pois!!
Eu
"Preciso que
me reconheçam
que me digam Olá
e Bom dia
mais que de espelhos
preciso dos outros
para saber
que eu sou eu"
adília lopes
me reconheçam
que me digam Olá
e Bom dia
mais que de espelhos
preciso dos outros
para saber
que eu sou eu"
adília lopes
Acerca de gavetas
"Gavetas" fechadas
Ora cheias, ou pouco vazias
ora quase vazias
pelo cheio que esperavam,
fechadas a sete chaves
atiradas para o que de
mais longe há em nós
Hao-de la estar sempre
para nos lembrar que
o passado nao nos deixará
avançar sem receio de que
um dia por engano
abramos a gaveta errada
para de lá tirar
o que nao mais havia de ter saido
apenas porque fomos caminhando
exactamente para o que
de mais longe há em nos,
é esse tal medo
dessa tal caminhada
que nao poucas vezes
nos obriga a caminhar devagar
para que possamos evitar
as gavetas mal fechadas.
O que me tranquiliza
é que em cada gaveta
dei o que de melhor eu tinha
sem a noçao de que
no futuro teria sido mais
mas o futuro nao vale de nada
ás gavetas fechadas lá atras
porque nessas gavetas
nesse tal passado
nao me era possivel vislumbrar
o armario do presente.
E por isso caminharei
sem receio algum
para o que de mais longe há em mim
mas nao demais, apenas o racional
porque nao quero trair o que fui
o que sou
por aquilo que poderia ser se...
Ora cheias, ou pouco vazias
ora quase vazias
pelo cheio que esperavam,
fechadas a sete chaves
atiradas para o que de
mais longe há em nós
Hao-de la estar sempre
para nos lembrar que
o passado nao nos deixará
avançar sem receio de que
um dia por engano
abramos a gaveta errada
para de lá tirar
o que nao mais havia de ter saido
apenas porque fomos caminhando
exactamente para o que
de mais longe há em nos,
é esse tal medo
dessa tal caminhada
que nao poucas vezes
nos obriga a caminhar devagar
para que possamos evitar
as gavetas mal fechadas.
O que me tranquiliza
é que em cada gaveta
dei o que de melhor eu tinha
sem a noçao de que
no futuro teria sido mais
mas o futuro nao vale de nada
ás gavetas fechadas lá atras
porque nessas gavetas
nesse tal passado
nao me era possivel vislumbrar
o armario do presente.
E por isso caminharei
sem receio algum
para o que de mais longe há em mim
mas nao demais, apenas o racional
porque nao quero trair o que fui
o que sou
por aquilo que poderia ser se...
Já nao és
Serás, amanhã, notícia no jornal
e isso de que te importa,
se já nao vou querer saber de ti?
será uma folha morta de nós,
já não te acompanho no silêncio
das portadas,
já de nós não há memória
ao descermos estas escadas.
fomos rio impetuoso
que esbarrou sem liberdade,
na barragem construída
entre rugas de saudade,
fomos vento que passou
tão leve e ledo,
que o amanhã tornou-se um ontem
feito medo.
Fomos alma, fomos cor,
ou coisa breve,
e fomos morrendo os dois
cheios de neve
nos meandros da memória
que nos serve esta liquefeita
angústia que se bebe.
e isso de que te importa,
se já nao vou querer saber de ti?
será uma folha morta de nós,
já não te acompanho no silêncio
das portadas,
já de nós não há memória
ao descermos estas escadas.
fomos rio impetuoso
que esbarrou sem liberdade,
na barragem construída
entre rugas de saudade,
fomos vento que passou
tão leve e ledo,
que o amanhã tornou-se um ontem
feito medo.
Fomos alma, fomos cor,
ou coisa breve,
e fomos morrendo os dois
cheios de neve
nos meandros da memória
que nos serve esta liquefeita
angústia que se bebe.
A idade...
"Com a idade,
um homem ganha vícios
e virtudes de que nem desconfiava quando novo;
e a noite é a necessária testemunha
destas consequências,
vai-se perdendo cabelos e o sono,
engodos e canções de infância;
nem a leda companheira de sempre,
melancólica e servil, a querida morte,
consegue aquecer o coração,
tomado pelo transtorno.
Não vale a pena puxar pelo cansaço,
usá-lo como desculpa para a fuga do costume;
é essa a decisão, preferir não erguer
o cerco à vida, deixar-se dormir
fora de tempo, sonhar com o dia
em que se entende que tudo o que os livros ensinam
é o início de um fogo - a sabedoria
o combustível eficaz da entropia.
Se não se aproximar de outra forma,
o vento nocturno é como a história, repetida,
e vai chegando com o fim do verão e o previsível frio,
circulando pelos ramos nus das árvores como
o tema que conduz esta barca ou o sangue
que sobe ao rosto no declinar dos confessados vícios
a que submeto a sublime amargura.
Ele por aqui está, e na companhia dele
regresso ao lugar onde o tempo se perdeu,
ao primeiro golpe da gadanha.
Não sei o que mudou - quando acordo,
tudo recomeça."
No arquivo fantasma
um homem ganha vícios
e virtudes de que nem desconfiava quando novo;
e a noite é a necessária testemunha
destas consequências,
vai-se perdendo cabelos e o sono,
engodos e canções de infância;
nem a leda companheira de sempre,
melancólica e servil, a querida morte,
consegue aquecer o coração,
tomado pelo transtorno.
Não vale a pena puxar pelo cansaço,
usá-lo como desculpa para a fuga do costume;
é essa a decisão, preferir não erguer
o cerco à vida, deixar-se dormir
fora de tempo, sonhar com o dia
em que se entende que tudo o que os livros ensinam
é o início de um fogo - a sabedoria
o combustível eficaz da entropia.
Se não se aproximar de outra forma,
o vento nocturno é como a história, repetida,
e vai chegando com o fim do verão e o previsível frio,
circulando pelos ramos nus das árvores como
o tema que conduz esta barca ou o sangue
que sobe ao rosto no declinar dos confessados vícios
a que submeto a sublime amargura.
Ele por aqui está, e na companhia dele
regresso ao lugar onde o tempo se perdeu,
ao primeiro golpe da gadanha.
Não sei o que mudou - quando acordo,
tudo recomeça."
No arquivo fantasma
Outono
Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados, dizendo aos pais que era uma árvore. Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas. Mas os pais disseram olha é outono.
Russel Edson
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas. Mas os pais disseram olha é outono.
Russel Edson
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Existe...
"Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia..."
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia..."
Deftones...
Lá atras, num tempo distante, onde tudo se adivinhava ser facil porque diziamos ser pessoas melhores que os que nos rodeavam (inocentemente)... Onde tudo se adivinhava ser diferente, onde se faziam promessas de tentar marcar pela originalidade, onde uns prometiam lutar por isto ou por aquilo, onde outros diziam revolucionar o que entendiamos por real, onde sem querer nos arrastavamos para um futuro bem diferente do imaginado, bem mais parecido com tudo o que já tinha sido inventado, ouvia-se isto...
E curtia-se milhoes!!
The Gathering
"My emotional outlet
Is consuming the better part of me
And apart from the wrong words
A tortured cry is making me see"
quinta-feira, 22 de abril de 2010
sábado, 17 de abril de 2010
We believe
"Another day for all the suits and ties
Another war to fight
There's no regard for life
How do they sleep at night"
Hold On
"This world, this world is cold
But you don't, you don't have to go
You're feeling sad you're feeling lonely
And no one seems to care
Your mother's gone and your father hits you
This pain you cannot bare"
"Hold on...if you feel like letting go
Hold on...it gets better than you know"
Para todos aqueles que decidiram terminar as suas vidas,
para aqueles que nao podiam aguentar mais...
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Miudo
Poemas
O poema são fogueiras levantadas na garganta
ou um sono inclinado sobre as facas.
Alguém diz, a prumo
todos os nomes queimam,
e há uma deflagração assombrosa,
a palavra acende-se
com uma árvore de sangue ao centro.
Jorge Melícias
in A Luz nos Pulmões
ou um sono inclinado sobre as facas.
Alguém diz, a prumo
todos os nomes queimam,
e há uma deflagração assombrosa,
a palavra acende-se
com uma árvore de sangue ao centro.
Jorge Melícias
in A Luz nos Pulmões
Real?
"Quando leio um poema em voz alta
sinto que as pessoas me olham
como se esperassem uma revelação.
Como se estivessem à espera dos milagres.
E hoje, finalmente, quase cedo à
tentação de explicar os mecanismos
dos milagres. Por exemplo:
eu posso fazer gelo escrevendo apenas
a palavra «gelo». E isso mesmo
faria neste momento
se não temesse que os mais distraídos
usassem o gelos nos copos
altos do gin tónico."
José Carlos Barros
sinto que as pessoas me olham
como se esperassem uma revelação.
Como se estivessem à espera dos milagres.
E hoje, finalmente, quase cedo à
tentação de explicar os mecanismos
dos milagres. Por exemplo:
eu posso fazer gelo escrevendo apenas
a palavra «gelo». E isso mesmo
faria neste momento
se não temesse que os mais distraídos
usassem o gelos nos copos
altos do gin tónico."
José Carlos Barros
É verdade que sinto
"É verdade que sinto um imenso desprezo
pelos poetas. Por todos os poetas.
Esses seres ignóbeis que escrevem
a palavra «estrela» e uma estrela, de súbito,
nos queima os dedos distraídos. Uma
vez esteve aqui um poeta. Escreveu
a palavra «labareda». E ainda hoje as manchas
do fogo sujam as paredes e os
mosaicos vidrados da sala de reuniões
do Conselho de Administração."
De José Carlos Barros
pelos poetas. Por todos os poetas.
Esses seres ignóbeis que escrevem
a palavra «estrela» e uma estrela, de súbito,
nos queima os dedos distraídos. Uma
vez esteve aqui um poeta. Escreveu
a palavra «labareda». E ainda hoje as manchas
do fogo sujam as paredes e os
mosaicos vidrados da sala de reuniões
do Conselho de Administração."
De José Carlos Barros
Grito
"Aqui a acção simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhes destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco."
Paul Éluard, in "Algumas das palavras" dom quixote, 1977
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhes destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco."
Paul Éluard, in "Algumas das palavras" dom quixote, 1977
quarta-feira, 31 de março de 2010
Pode...
"Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar numa caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada"
Pode-se não escrever.
Pedro Oom
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar numa caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada"
Pode-se não escrever.
Pedro Oom
Florbela Espanca
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"
Florbela Espanca
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"
Florbela Espanca
O vinho do solitario
"O olhar singular de uma mulher galante
Que desliza para nós como o raio branco
Que a lua ondulosa envia ao lago trémulo
Quando quer banhar nele a beleza preguiçosa;
O último saco de escudos nas mãos de um jogador;
Um beijo libertino da magra Adeline;
Os sons de uma música enervante e carinhosa,
Semelhante ao grito distante da dor humana,
Tudo isto não vale, ó garrafa profunda,
Os bálsamos penetrantes que a tua pança fecunda
Reserva ao coração sedento do poeta piedoso;
Tu deitas-lhe a esperança, a juventude e a vida,
— E o orgulho, tesouro da indigência,
Que nos torna triunfantes e iguais aos Deuses!"
Charles Baudelaire
Que desliza para nós como o raio branco
Que a lua ondulosa envia ao lago trémulo
Quando quer banhar nele a beleza preguiçosa;
O último saco de escudos nas mãos de um jogador;
Um beijo libertino da magra Adeline;
Os sons de uma música enervante e carinhosa,
Semelhante ao grito distante da dor humana,
Tudo isto não vale, ó garrafa profunda,
Os bálsamos penetrantes que a tua pança fecunda
Reserva ao coração sedento do poeta piedoso;
Tu deitas-lhe a esperança, a juventude e a vida,
— E o orgulho, tesouro da indigência,
Que nos torna triunfantes e iguais aos Deuses!"
Charles Baudelaire
A pior actualidade
"Tenho 31 anos e estou cansado.
Todos os sítios me vão parecendo, finalmente,
igualmente maus.
Todas as pessoas, incluindo as que gostam de mim,
insuportáveis.
Não encontro sentido nem para o que faço
nem para as coisas que deixo por fazer.
Olho para os outros
com a absoluta certeza de quem vê
não semelhantes,
serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.
Olho para mim
e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar.
Para onde quer que eu olhe,
a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila
este tempo, este país, este modo de viver
a que chamam
progressista, tolerante, solidário, democrático,
avançado, europeu, e melhor e melhor
que todos os existidos,
que todos os possíveis.
Este modo de viver
onde falta tudo o que foi nomeado.
Que desfez a classe trabalhadora sem uma única bala,
que encarcerou as consciências sem uma única grade,
que me afasta sem um único cassetete,
que me exclui sem um ferro candente,
sem sequer uma estrela amarela na lapela.
Este tempo
de fatos novos,
de Imperadores."
Antonio Orihuela
Todos os sítios me vão parecendo, finalmente,
igualmente maus.
Todas as pessoas, incluindo as que gostam de mim,
insuportáveis.
Não encontro sentido nem para o que faço
nem para as coisas que deixo por fazer.
Olho para os outros
com a absoluta certeza de quem vê
não semelhantes,
serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.
Olho para mim
e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar.
Para onde quer que eu olhe,
a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila
este tempo, este país, este modo de viver
a que chamam
progressista, tolerante, solidário, democrático,
avançado, europeu, e melhor e melhor
que todos os existidos,
que todos os possíveis.
Este modo de viver
onde falta tudo o que foi nomeado.
Que desfez a classe trabalhadora sem uma única bala,
que encarcerou as consciências sem uma única grade,
que me afasta sem um único cassetete,
que me exclui sem um ferro candente,
sem sequer uma estrela amarela na lapela.
Este tempo
de fatos novos,
de Imperadores."
Antonio Orihuela
Um outro tanto
"Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia
é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia
perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto"
Teresa Horta
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia
é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia
perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto"
Teresa Horta
Fim?
Traço comum
terça-feira, 16 de março de 2010
terça-feira, 9 de março de 2010
Tempestade
“E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.”
In: Kafka a beira mar - Haruki Murakami
In: Kafka a beira mar - Haruki Murakami
segunda-feira, 8 de março de 2010
The years burn
E no fim, aquilo que fica é um sorriso, uma aventura, uma noite, uma loucura... Irrepetivel, inesquecivel... Se somos bons?? Claro que somos... Todos? alguns...
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Nothing really ends
"And touch we touched the soul
the very soul, the soul of what we were then
With the old schemes of shattered dreams
lying on the floor
You looked at me
no more than sympathy
my lies you have heard them
My stories you have laughed with
my clothes you have torn"
Finding neverland
A verdade é apenas aquilo em que acreditas ou te fazem acreditar... Se tiveres a sorte de te contarem uma realidade fantastica, corres o risco de sonhar em vida...
O filme é brilhante...
Dói!!
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Nunca foi uma questão muito dificil
A pergunta é simples:
Porque é que o frango atravessou a estrada?
As respostas são várias:
PLATÃO
Porque ia em busca do bem.
ARISTÓTELES
Está na natureza dos frangos atravessar a estrada.
DESCARTES
O frango atravessa a estrada, logo existe.
MARX
Era uma inevitabilidade histórica.
MOISÉS
E Deus desceu dos céus e disse ao frango: "atravessa a estrada". E o frango atravessou a estrada, e todos se regozijaram, e louvaram o Senhor.
BUDA
O frango ia em busca da iluminação para chegar ao Nirvana.
JESUS
Apenas quem se faz frango e atravessa estradas pode entrar no Reino dos Céus.
GEORGES W. BUSH
Quando um frango quer dominar o petróleo tem que atravessar estradas para o conquistar!
SADDAM HUSSEIN
A acção do frango imperialista constituiu uma acção INACEITÁVEL de espionagem!
Mas o povo iraquiano ergueu-se em justa autodefesa e esmagou a força inimiga atingindo gloriosamente o frango com 20 mísseis Al-Samoud e 50 toneladas de gás tóxico!
FREUD
A preocupação com o motivo que levou o frango a atravessar a estrada revela um recalcamento da libido ao nível do subconsciente, possivelmente associado a insegurança sexual originada pelo receio de tendências homossexuais latentes.
DARWIN
Ao longo da evolução, a acção da selecção natural sobre os frangos favoreceu os mais aptos a atravessar a estrada, de forma que só esses sobreviveram.
EINSTEIN
Se o frango atravessou a estrada ou se estrada se deslocou sob o frango, depende do ponto de vista do observador.
NEIL ARMSTRONG
Foi um pequeno passo para o frango mas um grande passo para os Galináceos.
MARTIN LUTHER KING
Vejo um mundo no qual todos os frangos serão livres para atravessar a estrada sem que sejam questionados os seus motivos,
eu tenho um sonho...
PAULO COELHO
O frango ia em busca da sua "lenda pessoal" nem que para isso tivesse que atravessar todas as estradas até Santiago de Compostela.
ARTHUR ANDERSEN CONSULTING
A desregulação do lado da estrada onde se encontrava o frango estava a ameaçar a sua posição dominante no mercado. O frango enfrentava importantes obstáculos para criar e desenvolver as competências necessárias para encarar a competitividade do mercado. A Andersen Consulting, numa relação de sócio e cliente, colaborou com o frango, desenhando a sua estratégia de distribuição física e respectivos processos de implantação. [...] Para este projecto, a Andersen Consulting convocou uma equipa multidisciplinar de analistas de estradas e melhores frangos que, junto com outros consultores da Andersen com profundas habilidades na indústria do transporte, promoveram durante dois dias uma série de reuniões com o objetivo de aproveitar o seu capital pessoal de conhecimento, tanto explícito como implícito, e de lhes permitir obter sinergias entre si para conseguir as metas implícitas da entrega e modelo óptimo e implementando um marco de valores de empresa através da continuidade de processos avícolas. [...]. (O frango veio mais tarde a morrer atropelado devido à demora em atravessar a estrada)
BILL GATES
A Microsoft acaba de lançar o Microsoft Chicken 2003, que não só atravessa estradas, como também põe ovos, arquiva documentos importantes e faz contas. É também melhor que o MSChicken 2000 que por vezes bloqueava a meio da travessia da estrada.
Porque é que o frango atravessou a estrada?
As respostas são várias:
PLATÃO
Porque ia em busca do bem.
ARISTÓTELES
Está na natureza dos frangos atravessar a estrada.
DESCARTES
O frango atravessa a estrada, logo existe.
MARX
Era uma inevitabilidade histórica.
MOISÉS
E Deus desceu dos céus e disse ao frango: "atravessa a estrada". E o frango atravessou a estrada, e todos se regozijaram, e louvaram o Senhor.
BUDA
O frango ia em busca da iluminação para chegar ao Nirvana.
JESUS
Apenas quem se faz frango e atravessa estradas pode entrar no Reino dos Céus.
GEORGES W. BUSH
Quando um frango quer dominar o petróleo tem que atravessar estradas para o conquistar!
SADDAM HUSSEIN
A acção do frango imperialista constituiu uma acção INACEITÁVEL de espionagem!
Mas o povo iraquiano ergueu-se em justa autodefesa e esmagou a força inimiga atingindo gloriosamente o frango com 20 mísseis Al-Samoud e 50 toneladas de gás tóxico!
FREUD
A preocupação com o motivo que levou o frango a atravessar a estrada revela um recalcamento da libido ao nível do subconsciente, possivelmente associado a insegurança sexual originada pelo receio de tendências homossexuais latentes.
DARWIN
Ao longo da evolução, a acção da selecção natural sobre os frangos favoreceu os mais aptos a atravessar a estrada, de forma que só esses sobreviveram.
EINSTEIN
Se o frango atravessou a estrada ou se estrada se deslocou sob o frango, depende do ponto de vista do observador.
NEIL ARMSTRONG
Foi um pequeno passo para o frango mas um grande passo para os Galináceos.
MARTIN LUTHER KING
Vejo um mundo no qual todos os frangos serão livres para atravessar a estrada sem que sejam questionados os seus motivos,
eu tenho um sonho...
PAULO COELHO
O frango ia em busca da sua "lenda pessoal" nem que para isso tivesse que atravessar todas as estradas até Santiago de Compostela.
ARTHUR ANDERSEN CONSULTING
A desregulação do lado da estrada onde se encontrava o frango estava a ameaçar a sua posição dominante no mercado. O frango enfrentava importantes obstáculos para criar e desenvolver as competências necessárias para encarar a competitividade do mercado. A Andersen Consulting, numa relação de sócio e cliente, colaborou com o frango, desenhando a sua estratégia de distribuição física e respectivos processos de implantação. [...] Para este projecto, a Andersen Consulting convocou uma equipa multidisciplinar de analistas de estradas e melhores frangos que, junto com outros consultores da Andersen com profundas habilidades na indústria do transporte, promoveram durante dois dias uma série de reuniões com o objetivo de aproveitar o seu capital pessoal de conhecimento, tanto explícito como implícito, e de lhes permitir obter sinergias entre si para conseguir as metas implícitas da entrega e modelo óptimo e implementando um marco de valores de empresa através da continuidade de processos avícolas. [...]. (O frango veio mais tarde a morrer atropelado devido à demora em atravessar a estrada)
BILL GATES
A Microsoft acaba de lançar o Microsoft Chicken 2003, que não só atravessa estradas, como também põe ovos, arquiva documentos importantes e faz contas. É também melhor que o MSChicken 2000 que por vezes bloqueava a meio da travessia da estrada.
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