sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tempo

Quase não chegavam atrasados, se todos os outros não tivessem chegado a tempo! Porque é assim, o tempo é relativo, é feito de maratonas de distâncias, obstáculos que se nos impõem, que nos atrasam, acabamos por fazer sempre o mesmo caminho e não saber bem a distância que percorremos, porque o tempo, esse que nos faz chegar na altura certa, por vezes faz-nos chegar na altura errada. Quase como o senhor que se esqueceu de calçar os sapatos quando saiu e quando voltou a casa reparou que só tinha chinelos para calçar e que ao sair é abalroado por um caixote do lixo desgovernado, solto pelo outro senhor, o do lixo que enquanto consultava o relógio para contar os minutos que faltavam para o almoço descobriu com assombro que faltavam horas, e que afinal faltavam muitos minutos. Enquanto fazia estas contas de cabeça o caixote do lixo soltou-se e ganhou logo velocidade, porque o senhor que na altura fez a rampa estava com pressa para ir buscar o filho à escola e deixou a rampa muito acentuado para correr pelo tempo. Enfim, o senhor do lixo atirou-se ainda, mas nada pôde fazer, o caixote já havia traçado o seu destino, o seu alvo. Atirara-se a toda a velocidade em direcção ao senhor que só tinha chinelos (destino... Talvez... Se tivesse sapatos não teria voltado para trás). No preciso momento em que o senhor do lixo se atirou em direcção ao coixote do lixo (que não era mais que isso e ninguém correria atrás de lixo só porque sim) bate contra uma senhora que caminhava pelo seu caminho de sempre, o que sempre a levava a casa. Entre desculpas e cortesias de quem se não conhece lá se perderam durante algum tempo, lá prolongaram a distância que separava a senhora de casa. Do senhor que fora abalroado pouco se sabia, sabia-se só que não tinha sapatos. Resta a história dos outros dois que se "esbarraram" no caminho de sempre e se perderam no tempo, no caminho de sempre, na distância. Ficaram horas a falar e o senhor nunca mais contou minutos. E os outros, os primeiros, por não terem chegado a tempo, chegaram apenas atrasados e perderam os rissóis pequeninos.

2 comentários:

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...