Era de madrugada. Acordou, como todos os dias, para volta a adormecer e acordar mais tarde. Por alguma razão que se não sabe, não voltou a adormecer... Ao contrário de todos os outros dias tinha tempo para ponderar toda a sua viagem até ali... Por ali pensava em como se esquecia o que ficou para trás, em como se larga o que se queria e se queria outra coisa que ainda se não queria. Percebia também que não percebia ainda o que poderia vir a querer mais do que o que queria. Talvez nem soubesse ser possível deixar de amar o que se ama para amar o que não se conhece ainda. Convencia-se de que, como a morte, também os amores têm de acabar. E tal como morrer na altura certa, não se deve deixar de amar na altura errada. Não conseguia entender como partira quando só queria ter ficado. Era quase como partir e deixar a alma lá atrás, mal arrumada, e chegar sozinho a outro lado qualquer. Talvez tenha mesmo de esquecer, talvez tenha só deixar de se lembrar. Talvez se não voltasse a ficar acordado a alma voltasse, ou se não voltar, pelo menos não se notará a sua ausência. Há que esquecer devagarinho, pensava. Talvez pudesse construir toda uma nova alma, talvez a alma nunca o tenho abandonado, talvez só tenha deixado para trás o que a tornava brilhante e quente. Bastava talvez voltar a enchê-la, não sabe com o quê... Tentava desesperadamente enchê-la de nada, só para se não sentir vazio. "tenho de aguentar este nada que me leva tudo" dizia de si para a alma distante e adormecida. Será que estaria doente?? Será que, tal como o corpo, a alma ficava mais fraca quando ferida? Voltou a adormecer, quando acordou não se lembrava porque tinha acordado... E tudo o que lhe varreu o pensamento foi perdido ao primeiro gole de café quente. Não se sabe se foi feliz, sabe-se que parte da sua alma ficou, como sangue fica quando se é ferido.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Monotonia
Se não fosse o nascer e o morrer, a vida mais não seria que como ir ao cinema e ver sempre o mesmo filme... Para sempre..
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Dos caminhos diz-se pouco
Ali se encontrava novamente aquele senhor sentado. Sentado naquela paragem frente a um muro alto. Todos os dias ali estava, todos os dias todos passavam indiferentes. "Talvez fosse doido" dizia de si para si toda a gente. "podia sentar-se na paragem à frente, é que nem 50 metros são" dizia uma ou outra pessoa que já não o estranhava ali, naquele mesmo sítio. Naquele dia não teve coragem de o interpelar. Continuou a sua viagem de sempre para o trabalho de algum tempo. Num outro qualquer dia, caminhava com mais tempo e menos orientação, a sua mente viajava para lá do seu caminho. Ali o viu novamente, chovia... Foi então que decidiu questioná-lo e confrontá-lo, afinal já chegava de olhar sempre para o mesmo muro!!
- Olhe, tenho passado cá todos os dias e encontro-o sempre aqui, de olhar parado naquele muro, o que faz aqui se não vê nada para lá do muro?
- Boa tarde rapaz, também te vejo passar todos os dias. Respondeu o senhor num tom meigo.
- Sim, mas eu passo e continuo o meu caminho, não fico a admirar uma parede branca, suja pela chuva e pelo pó.
- Continuas o teu caminho e o que vês para além do mesmo caminho de sempre? Lembras-te da última vez que aconteceu alguma coisa de diferente nessa tua viagem de todos os dias?
- O caminho é sempre diferente, nunca encontro as mesmas pessoas, nunca encontro as coisas no mesmo sítio, há sempre alguma coisa diferente.
- E alguma dessas coisas te prende a atenção, além do tempo que demoras a atravessá-la? Espera, não respondas, não há nada, bem o sei, já fui como tu, mais um "a caminho". Este caminho não mais é que o teu sítio, é como estar aqui, mas a andar. Também não vejo sempre a mesma parede, todos os dias há uma sombra diferente, todos os dias passa um carro que não é o mesmo, todos os dias esta parede é diferente, alguma coisa se atravessa de novo entre mim e ela. Podemos dizer que são formas diferentes de ver coisas diferentes todos os dias. Mas, À primeira vista, esta parede branca suja prende-me tanto a atenção como o caminho aberto que fazes todos os dias meu jovem.
- Sim, consigo perceber o que quer dizer... Mas podia, por exemplo espera na paragem da frente, é pertinho.
- Podia, podia ver a praia, o mar não era? Podia ver as pessoas a passearem à beira mar, podia ver tanta coisa. No entanto o que quero é ficar só aqui, longe dos olhos dos que poderia ver.
- Então está a esconder-se do mundo? Tem medo que o critiquem por o observar??
- Que me critiquem? Meu jovem, posso estar velho, mas não estou parvo, esteja onde estiver serei sempre criticado, não é isso que me inquieta. Estou bem aqui. Sabes? Vou contar-te algo que poucos sabem e outros tantos nem querem saber. Há muito tempo, há uns 30 anos, talvez... Costumava vir aqui, não havia ainda muro. A mulher com quem partilhei a minha vida murava aqui em frente. Ficava horas a percorrer esta rua até perceber que ela saía ou chegava. Continuava a caminhar, só para que ela não percebesse que a esperava.
- Entendo... Então a senhora de que fala já faleceu, era a sua esposa...
- Não meu jovem, essa senhora é a dona daquele café ali atrás.
- Mas... Essa senhora sempre foi casada com o dono do café, o senhor Joaquim!!
- Eu não disse que não fora, só disse que vinha para aqui para a observar. Acho que perdi tempo demais a escolher a melhor forma de lhe dizer bom dia, quando percebi já ela me tinha dito Adeus! Portanto, estar aqui, ou estar ali é a mesma coisa. A única coisa que devia mudar era a atitude. E como vês aqui estou, continuo sem falar com ninguém. E o resultado é o mesmo. O tempo é um caminho nesse caminho vamos encontrando uma ou outra paragem, ou podemos encontrar a casa. E para percorrer o tempo não precisámos de andar, precisámos de agir. E eu... Sou velho demais para agir e fui inocente durante tempo a mais enquanto jovem. Portanto meu jovem, não caminhes, age!!
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Jardim
Era um homem feliz... Acreditava que o amor um dia o levaria a uma casa... À casa que seria sua por direito, por amor... O que nunca havia compreendido é que o amor era apenas o meio para chegar a uma casa, depois de lá chegado, seria com amor e verdadeira dedicação, talvez algum sacrifício que construiria um lar, o que, ao fim de contas, procurava... Foi tarde que descobriu que o amor não chegava para construir um lar, foi tarde que percebeu que a casa nunca passaria disso só, de uma casa... Independentemente do seu tamanho, da sua fachada, da sua imponência, seria sempre uma casa, sem o amor que esperava como seu, como de direito... E assim foi até ao fim, uma fachada que escondia um amor que nunca seria. um lar que nunca existiria, nunca se percebeu se feliz se triste... Sabe-se apenas que foi sempre construindo mais uma coisa aqui, outra ali. No fim, a casa era um palácio... Tenho para mim que a grandeza exterior servia só para esconder o vazio de dentro. Mas esta é só a minha opinião, os outros quase todos acreditam que foi feliz. Toda a gente adoraria ter um lago no meio da sala. Ainda poucos sabiam que o jardim era a felicidade e que o resto eram só flores!
domingo, 17 de novembro de 2013
"Será chuva, será gente??" A felicidade não será certamente!!
À noite custava-lhe adormecer... Parecia ouvir passos na casa vazia, casa essa que já foi cheia, até o tempo lhe ter levado a alegria. Todas as noites ouvia os passos, era como que se alguém andasse por ali, perdido, desorientado. Os passos eram incertos, umas vezes mais seguros, outras vezes "assustados", como que se quem caminhava não tivesse a certeza de onde ia colocar o pé. Às vezes, durante o dia, tinha a mesma sensação. Por entre o silêncio daquela casa vazia estranhos barulhos faziam-se ouvir. Chegou, algumas vezes, a chamar os vizinhos que ficavam ali algumas horas, em silêncio, a tentar ouvir os barulhos. Nada ouviam. Nem os vizinhos nem ele. Era quase como que se quem por ali andava tivesse vergonha, ou só se sentisse à vontade com ele. Ou então, quem sabe, só queriam que o julgassem doido. Fantasmas... Talvez. Peritos foram chamados, nada encontraram. Mudou de casa. Os mesmos barulhos na outra casa. Aos poucos foi percebendo que era o passado que o atormentava e se fazia passear pela casa. Era o arrependimento a bater portas por todas as vezes que ele não as abrira. Era a felicidade, agora triste, a chapinhar na água da banheira. Era o amor a morrer a cada bocadinho. Era a chama da vida a apagar-se com o vento frio da sua alma que não chorava para fora. Eram os seus fantasmas a passearem-lhe pelo pensamento. Restava-lhe viver com eles ou não viver. Viveu assim até morrer, ou... talvez os tenha enfrentado, porque dele diz-se que meia e volta sorria e volta e meia parecia um sincero sorriso.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
"aquele que se..."
Mas o que enfim se não entende é que aquele que se prende a nós é quem nos prende a nós . ...
Em: oui je suis...noir:
Em: oui je suis...noir:
domingo, 10 de novembro de 2013
Era um político
Ele só poderia ser boa pessoa. Não o conheciam bem, mas não havia por onde questionar a sua bondade!! Todos sabiam que já havia comprado um daqueles presentes da missão sorriso, isto porque se fazia passear com ele na parte de cima da mala do carro. Volta e meia aparecia lá na Igreja e rezava junto com os outros, com a concentração de quem absorve cada palavra. Era visto constantemente no banco alimentar. Era visto muitas vezes a carregar o saco da D. Carlota quando voltava das compras. Não se sabia bem o que fazia, mas seria, com toda a certeza, um trabalho muito honesto e bem remunerado, a sua aparência não deixava margem de dúvida, era de certeza alguém socialmente importante e no entanto carregado de bondade. A forma como tentava ajudar todos os outros voltava a evidenciar esse aspecto...
E ao fim de tantos e tantos anos as pessoas voltavam a enganar-se, voltavam a acreditar na aparência deste senhor que poderia perfeitamente ser o pior de todos os homens. Dele sabiam que dava sempre uma moeda ao sem abrigo lá do sítio e que oferecia roupa velho a gente nova. O que nunca entenderam que isto era uma imagem que se poderia vender... Enganou toda uma sociedade cansada, toda uma sociedade que se diz ilumunada, toda uma sociedade inteligente. Toda uma sociedade que não foi capaz de ir mais longe que do óbvio. Ninguém desconfiou da sua perfeição, ninguém reparou na sua falta de carácter. Ninguém duvidou, todos se deixaram levar. E quando, por fim, roubou todas as casas de todos os habitantes daquela cidade, deram conta que já lhes haviam roubado o orgulho, a dignidade, o dinheiro, esse pouco importava agora. Roubaram tudo o que tinham de importante e agora ficavam sem nada. Até os seus mais queridos foi roubando, incentivando-os a deixar esta cidade e a ir para outro país. Foi um sem vergonha o que os roubou, enganou-os a todos com a imagem das boas acções que vendia a cada esquina. Agora era tarde e estes, os que se achavam muito inteligentes, estavam agora completamente perdidos. E aquele homem, nunca mais o viram. Juraram não se voltar a deixar enganar. E agora sabem que não vai acontecer, agora anda ali um jovem que lhes prometeu não deixar o outro fugir impune. A D. Carlota também está muito feliz, este até a leva de carro à farmácia comprar pomada para o joelho!!
Não sabia muito
Era um senhor... Os cabelos grisalhos faziam perceber que já algum tempo havia passado por ele. Carregava consigo toda a felicidade do mundo, sabia-o porque se notava o mais sincero e aberto sorriso que se lembra ter visto e começou aos poucos a perceber que esse sorriso se carregava mais de alegria quando se aproximava a visita de uma menina... Saltitante, estacionava o carro à sua porta e entrava, o senhor lá a esperava, de sorriso rasgado no rosto. Talvez adivinhasse de antemão que seria mais um momento perfeito na presença daquela enigmática menina. De lá, de longe, parecia-lhe uma menina discreta, parecia bonita, parecia querer passar pela vida sem dar nas vistas dos que não interessam, sabia-o pela forma como o senhor ficava antes da sua chegada. Para os outros, os que não a conheciam, nada simbolizava, para ele era como se mais a perfeita e harmoniosa pessoa do mundo entrasse por aquela porta, era como que se a solução de todos os seus problemas entrasse aos pulinhos alegres e contagiantes. À medida que o tempo foi passando, não se foi aproximando do senhor, afinal nunca o havia visto, só o havia imaginado. Mas foi conhecendo a menina discreta que lhe incendiava a felicidade. Agora percebia a alegria do senhor que nunca vira. Ela era capaz de transformar mais um dia no dia mais incrível de sempre, fazia-o fazendo pouco, sorrindo só, brincando com as palavras, arrancando o sentido bom de tudo o que os rodeava. Esta menina que queria passar ao lado dos olhares que lhe pouco importavam tinha a capacidade de nos fazer querer viver mais, cada vez mais, tinha a capacidade de nos fazer acreditar de que se poderia sonhar como outrora, fazia com que o mundo não parecesse apenas um lugar escuro e sombrio que nos arrastaria sempre para um buraco... Um simples abraço dela conseguia abrandar a velocidade a que a terra girava, um pequeno sorriso tímido fazia com que se fizesse parar o tempo ali, naquele momento, a leveza da sua genialidade fazia-nos andar para trás, até quando se acreditava na inocência. Era para ele evidente, para o senhor de cabelo gasto pelo tempo, que de cada vez que estacionava o carro à sua porta, nem que fosse para lhe dar um beijinho fugaz, todo aquele tempo, que poderia aos outros parecer quase nada, fosse mais um pedaço de felicidade que o alegraria até uma próxima visita. E seria sempre feliz enquanto soubesse que ela voltava... Dele sabia apenas que era mais feliz por ela... E sabe-se agora que continuará a ser feliz enquanto a vida o deixar e ela voltar... E sabe que hoje voltou a ser mais feliz.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
São os pilares.
E aos poucos foi-se apercebendo de que os pilares que sustentavam o seu mundo eram fortes, muito fortes. Seriam, talvez os únicos pilares capazes de o aguentar. E foi também aos poucos que se apercebeu que, apesar da força dos pilares, o seu mundo ia ruindo, devagarinho, quase como que a escorregar. Não caía, descia levemente, quase como se o mundo nunca tivesse sido pesado. Talvez tenha percebido nessa altura que tentava atirar o seu mundo para cima de pilares que não eram para o seu mundo. Mesmo assim, noutro qualquer mundo, os pilares nunca o deixaram cair desamparado, sustentaram e suportaram a sua queda e lá se mantiveram, fortes, indestrutíveis, inabaláveis. Eram sem dúvida pilares muito fortes, os mais fortes, só não eram seus.
Mais uma tarde no parque
Sentou-se, como há muita fazia, no banco de jardim gasto pelo tempo e pelo tempo que as pessoas ficavam por lá sentadas, a observar o mundo que se lhes atravessava à frente. Era um banco que teria histórias de gente nova, gente mais velha, gente que já não era e daqueles que nunca chegariam a ser gente. E era seu também, pelo menos por enquanto, sabia que não seria para sempre, mas durante aquele momento seria seu e aquele momento poderia prolongar-se por quanto tempo quisesse. Dali via uma criança a brincar com uma senhora, talvez fosse mãe, dali não se percebia. De mais perto também não, não os conhecia. Pareciam felizes mesmo quando a criança caía e chorava até a alma da mãe gritar de pânico mudo. Mais perto de si um senhor, rico imaginava, vestia-se bem e mexia freneticamente no telemóvel, como que se estivesse a fechar mais um grande negócio. Volta e meia ouvia-o gesticular e via-o falar e não, não era ao contrário, o barulho que fazia era gestual, as palavras saiam quase como que gestos discretos, daqueles que não se deve prestar atenção. Dali, de longe, tudo parecia perfeito, mesmo o não senso daquelas 3 pessoas. Dali a vida parecia o milagre que muitos dizem ser. Dali não ser percebia que era só um casal e o seu filho. Um casal que se não ouve, um casal distante próximo de uma criança. Dali não se imagina que fala ao telemóvel com os amigos, uma amiga, quem sabe, para combinar mais uma noite fora de casa, para compensar o tempo que passou ali, no jardim, longe da sua família. Não passava de uma forma de estar ainda mais distante deles. Dali não se conseguia perceber que a criança chorava sozinha e os gritos mudos da mãe nada tinham a ver com o choro ensurdecedor da criança. Eram gritos pelas palavras gestuais do seu marido, que não eram camuflados pelas palavras mudas dele. E assim crescerá mais uma criança perto dos pais e longe do afecto. Assim crescerá mais uma criança com um pai ausente, presente no trabalho e na vida dos amigos. Assim crescerá uma criança com os olhos postos na mãe sufocada por gestos que ainda não compreende e que um dia mais tarde virá a repetir, como se nunca os tivesse visto. E assim cresce o mundo à velocidade que se impôs.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Somos tudo, somos nada!!
Foram indestrutíveis durante tempo demais. Juntos formavam uma gota do tamanho do oceano. Juntos eram uma estrela do tamanho do universo. Era quase como que se todos lhes pudessem tocar e ninguém os conseguisse alcançar. Era como que olhar de longe e perderem-se na imensidão dos dóis. Assim foram até ser tarde demais. Afastaram-se do mundo, tornaram-se maiores, superiores pensavam, tornaram-se os donos da razão sem querer, enfim, tornaram-se insuportáveis. Diriam os mais distraídos que foram vítimas da sua própria intangibilidade. Cansaram-se um do outro, como o oceano se cansa de cada gota e o universo se perde por cada estrela. Aos poucos foram caindo, sozinhos, longe um do outro. Já não eram um oceano, agora mais não seriam que uma gota pequena, insignificante, perdida. Não seriam mais que uma estrela que ainda parecia brilhar lá ao longe, mas que ali ao perto era um pedaço de pedra em decomposição, uma implosão para fora que ninguém via. E assim... Sozinhos... Perderam-se num universo que nunca teria sido demais para eles se se não tivessem deixado afundar num pequeno oceano que não engolia o universo.
sábado, 2 de novembro de 2013
É para ganhar
Fazia de conta que não se importava com o que o rodeava. Era um fazer de conta tão bom que até a si se convencera. Parecia que não queria saber, parecia que não queria lutar, ouvia-se dizer muitas vezes que gostava de dar tempo às coisas e o que fosse seu a si viria. E assim viveu até dar conta de que se não lutasse haveriam coisas das quais nunca conseguiria chegar perto. Sempre fez de conta que não lutaria por amor, até perceber que o amor sente paixão por guerreiros. Sempre quisera esperar, nunca quis provocar. E ao que parece, assim quis continuar a viver. Voltava a ver-se numa situação igual e a fazer o mesmo de sempre, a perder, a deixar ir até perder de vista. Mais uma vez a ficar. Dele diz-se que nunca ganhou, mas também se diz que nunca perdeu. Ninguém consegue entender porquê, mas ele continuava a sorrir como se sempre tivesse ganho, quando todos sabem que sempre perdera. E de cada vez que olham para ele não entendem que sorri porque não tem mais nada a perder.
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