domingo, 20 de abril de 2014

Verdes, as cortinas

Encontraram-se pela primeira vez, pelo que se lembra o tempo, num quiosque de uma estação de autocarros. Ambos à procura de alguma coisa que lhes ocupasse as mãos e o pensamento durante a viagem, como que se conhecessem a viagem tão bem que a paisagem já lhes não trouxesse nada de novo, se calhar fizeram muitas vezes a mesmo viagem, mas sozinhos. Eram dois, cada um a seu canto, e talvez um dia fossem eles um só no mesmo canto (há coisas que se sentem e não se sabe). A medo aproximou-se dela. Falaram durante algum tempo. E agora? O que vem agora? O que acontece depois do inicio, onde será suposto chegarem? Ainda eram apenas dois desconhecidos e já teriam mil cenários possíveis. Pediram um café. No espaço entre o café e o virar de duas folhas de jornal poderiam ter sido tudo, poderiam nunca ser nada. Foram, durante este bocadinho, alguma coisa, dois desconhecidos que se cruzaram por acaso. Enquanto mexia o café perguntou-se como seria o próximo encontro, como seria a próxima viagem, como seria a primeira casa, como seriam todos os dias, como seria uma vida inteira.. Viram-se os dois, viram o que seriam, viram o que não seriam, viram tudo o que poderia haver um no outro. Ficaram, os dois, com a nítida sensação de que a vida é uma festa e que nunca se sabe quando acaba. Restava-lhes viver aquele bocadinho como se fossem um só que nunca seriam. Viveram um Domingo à tarde, daqueles que demoram a passar, daqueles em que um cobertor envolve dois corpos e os leva a passear até ao passado, bem agarrados para se não perderem, abriram uma garrafa de vinho enquanto a lareira lhes aquecia os pés, que a alma já estava quente. Ainda era Domingo, por ali se deixaram ficar, chovia lá fora. Quando o início chegou ao fim e o autocarro se aproximou para os arrastar por mais uma viagem, foram cada um para o seu canto. Viveram ali, naquele bocadinho, tudo o que tinham a viver, não havia mais possibilidades, não havia nada que os pudesse surpreender. Teriam assim uma vida... perfeita... Acabou tudo ali, naquele início, perceberam os dois... Entraram para o autocarro e sentaram-se um ao lado do outro. Tudo aquilo que imaginaram podia não fazer qualquer sentido, poderiam ser qualquer coisa, poderiam não ser coisa nenhuma, mas ainda não se conheciam, e nunca se sabe o que esperar de alguém que faz da realidade um misto de sonho e magia. Deixaram-se ir juntos, diz o tempo, que se deixaram ir assim para sempre e nunca souberam para onde iam. Nem se sabe se têm cobertor para os embalar pela vida! Mas agora viajavam juntos e e sabiam que o mundo era infinito!! Será que as janelas têm cortinas verdes?

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