domingo, 16 de março de 2014

Vai vento que a tempestade é uma criança

Vivia ao sabor do vento!! Diziam todos os que para ele olhavam com olhos de quem vê passar uma estrela cadente lá no horizonte... Os que viam mais de perto percebiam que às vezes o sabor do vento lhe dava vontade de ir contra ele. Às vezes quando tudo seria mais simples deixando-se levar impunha-se e tentava contrariar a corrente, de nada poderia valer para o mundo, mas fazia-o sentir-se solto no seu... Livre de correntes que prendiam os outros todos ao chão. Às vezes bastava-lhe perceber como seria a vida se a vida não fosse assim! às vezes sentia que tudo seria de uma outra forma qualquer, mas logo percebia que era assim porque os ventos nem sempre levam a sítios seguros e nem sempre levam a tempestades inultrapassáveis... Ficava ali, no meio, entre a felicidade e a tristeza, era como que estar no meio de um rio e olhar para as duas margens e não perceber para onde se devia remar. Era para ele fácil perceber que teria uma vida perfeita daquele lado, ou uma vida miserável do outro lado. Ficava ali, no meio, onde tudo poderia acontecer dependendo do rumo que desse ao barco, à vida, como queiramos chamar-lhe. Estava entre dois mundos, muitos diriam que dividido, poucos compreenderiam que estava decidido e sabia o porquê de não querer sair dali. Ali, naquele sítio, era onde a magia acontecia, era de onde conseguia vislumbrar futuros que nunca seriam.. E dali vivia outra vida, a sua, a única possível, uma vida incompleta, talvez, uma vida inteira de certezas que nunca seriam. Dos ventos pouco se sabia, nem se sabia se existiam, sabia-se que volta e meia o barco se aproximava de uma ou outra margem, mas ele conseguia sempre voltar ao meio, a si, ao seu mundo... Quase se deixava ir uma ou a outra margem mostrava-lhe e provava-lhe que não pertencia ali, que pertencia a outro lado. Não se sabe para onde o vento o levou. O que se sabe agora é que ali nunca houve rio, nunca houve barco, nunca houve margens. Mas sabe-se que existiu, só se não sabe onde, nem como, nem quando. Existiu só... E no fim é o que acontece a todos que se perdem num mar de memórias, de recordações, de doces pedaços de vida eternos. Talvez tenha sido isso, talvez tenha chegado a esse mar, temido por uns, desejado por outros, vivido por tantos. Nem sempre os ventos são bons ventos, nem sempre as tempestades são grandes tragédias, tudo depende da forma como enfrentamos um ou outro... às vezes temos de nos deixar ir, outras vezes temos de aguentar e ficar... Dele dizia-se ter sabido sempre quando ir ou não ir e acredita-se também que muitas vezes foi quando devia ficar e muitas vezes ficou quando devia ir. Podiam apontar-lhe isso, mas não lhe podiam provar que estava enganado. Mesmo que quisessem, já ninguém sabia dele... Perdera-se do mundo, encontrava-se no seu mundo... Imaginava-se...

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