Chegou o dia que tanto esperava, ali estava ela ao fundo da sala... Anos passaram até àquele momento, o momento em que olharia para ela e iria perceber que iria estar sempre tudo bem!! Estava acompanhada, seria mesmo ela? Não se sabe. Foi ali que sentiu que poderia perder tudo... Deu uns passos na sua direcção e percebeu que não era só companhia e que não era outra, era ela... Foi ali que percebeu que já tinha perdido tudo, porque o se nunca teve nunca foi dele para perder. E o tudo que parecia ter iria perder, mais tarde ou mais cedo... Poderia ter ficado destruído, no entanto sentiu-se leve, desprendido de si, por momentos sentiu os pés soltarem-se do chão!! Caiu extasiado! Ah, como era leve a sensação de não ter nada a perder, a sensação de que já perdeu tudo, a sensação de que, como uma estrela extinta há milhões de anos, poderia ter tudo que no fim não seria nada, mas poderia brilhar até ao fim, sem medo de perder, de se perder. E não era ela, apesar dela ser ela... Poderia admirá-la, pelo menos e viver outra vida que não aquela, mas seria feliz, porque já perdera tudo e nunca ganhará nada. E no fim será igual, quer fosse de uma ou outra forma. No fim será nada!!
domingo, 29 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Uma onda qualquer que não é igual a mais nenhuma
Ele tinha sonhos que não podia contar a ninguém... Todos o iriam julgar um doido, teria de encontrar alguém como ele, alguém que entendesse que barulho era mais que ruído de tudo o que nos envolvia, precisava de encontrar alguém, que como ele, quisesse entender o barulho. Precisava encontrar alguém a quem pudesse contar que ficava sentado à varanda a ouvir o bater das ondas nas pedras, não pelo facto simples de acalmar toda a gente, mas a distinguir a forma como se desfaziam, a imaginar todas as histórias que onda que acabava de se desfazer poderia contar. Teria de encontrar a pessoa a quem poderia contar que muitas vezes ficava acordado a noite inteira a contar estrelas só até cinco e depois se perdia em pensamentos vagos. Tinha de descobrir alguém que compreendesse que a magia existia se acreditássemos nela, se não a tentássemos destruir, queria acreditar com alguém em histórias de fantasmas e ter medo e demorar a adormecer. Mas não, não poderia mostrar isso ao mundo, esse seu lado seria a autoestrada da sua destruição. Não. Vivia atrás de uma máscara, uma máscara de pessoa racional, que não acredita no poder da imaginação, que não se atreve a pensar mais que o vizinho do 3ºESQ. Cumpria tudo o que a sociedade há muito o havia tentado convencer a cumprir sem o atrevimento de questionar. Esquecido já da sua verdadeira essência, enganado pela máscara que criou para os outros, acreditou que era o homem da máscara e casou, diz-se que com uma mulher fantástica, daquelas que têm uma carreira fantástica e cozinham e arrumam a casa e só resmungam ao Domingo porque a novela dá muito tarde. Ele, o homem mascarado que se tornou na máscara um dia descobriu que ainda conseguia sonhar. Mas agora, agora já era tarde para sonhar, o tempo havia passado e sonhar já não fazia sentido. Tirava a máscara de quando em vez na varanda a ouvir as ondas baterem desesperadas contra as rochas, como as suas ideias batiam desorientadas contra a muralha que criou para o seu mundo. Agora, agora é tarde pensava a vizinha do 3ºESQ que também havia descoberto há alguns dias que ainda conseguia sonhar. Diz quem os conhece que nunca chegaram a falar sequer, não deviam gostar da máscara um do outro. Porque sem as máscaras teriam vivido as mais loucas aventuras que já se haviam contado. Juntos teriam voado, teriam acreditado, teriam uma vida mágica. Assim, assim mais não foram que dois desconhecidos, mascarados, longe da essência, longe deles próprios. Ah se eles soubessem que eram iguais e que podiam tirar a máscara um para o outro talvez ainda descobrissem o que aquela última onda teria para contar. É tarde, tão tarde. Mais uma onda, mais uma história, menos tempo, sempre menos tempo a cada onda.
domingo, 22 de dezembro de 2013
Gostar é
"Gostar é tão simples como teres uma caixa vazia e meteres lá alguma coisa... Deixa de estar tão vazia, e quanto mais se gosta, menos vazio há!"
Boas festas!!!
Em tempos de pouca esperança todos procuram uma saída , saída essa que incessantemente se procura e não encontra. E é nesta ânsia de procura descontrolada que se perdem as coisas mais pequenas e tão maiores. Portanto neste Natal não procuremos a felicidade de olhos fechados, sejamos atentos às pequenas acções, aos gestos tímidos de quem faz mais do que parece poder e lhe parece pouco, recebamos de sorriso aberto as prendas “pequenas” que enchem o coração de quem as dá. Não esperemos muito dos outros, façamos!! Feliz Natal.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Às vezes, quando se tem tudo, não se tem nada
Era um homem poderoso... Dele dizia-se não saber o dinheiro que tinha. Para ele as coisas não tinham valor algum, tinham apenas um valor simbólico na imensidão da sua fortuna. Os amigos, se é que lhe podia chamar assim, pouco mais custavam que um jantar de quando em vez. Dia sim muitos dias não, tinha a casa cheia de convidados vazios de vontade de estarem com ele. Nos outros dias tinha os empregados, perdidos por uma casa suficientemente grande para acolher uma aldeia inteira. Comprara tudo o que tinha e nem queria e no entanto sentia não ter nada. O dinheiro não lhe podia comprar a sincera amizade de alguém e o dinheiro fez com que fosse difícil alguém ser amigo dele. Viveu assim, como que cheio de vazio por dentro e farto de tudo por fora. Sempre que ponderava largar tudo e começar de novo pensava que era tarde demais, quando na realidade teria ido a tempo em qualquer altura que tivesse tentado. Nada fez, assim continuou. De quando em volta dava consigo perdido dentro de 4 paredes. Quando morreu perguntaram ao porteiro «Quanto é que ele deixou?» O porteiro respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos. (frase de António Lobo Antunes) No meio de tudo... viveu sempre sem nada... Acabou por deixar tudo e continuou com o nada que sempre teve.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Dias Diferentes
O dia de repente tornara-se mais escuro... Talvez começasse a anoitecer mais cedo em dias mais vazios, fazia sentido... Era estranho, nada fazia sentido agora... Foi por ali, por aquela altura, que entendeu que ela lhe fazia falta, não precisava de ser muito, bastava estar, atirar-lhe com a culpa volta e meia, dividir o tempo consigo a toda a hora. Sobravam minutos nas horas sem ela. Os caminhos não eram nada mais que sítios por onde se perdia onde antes foi na direcção de alguma coisa. A chuva que se lhe fazia cair nos ombros lembrava-o que um dia já dançara à chuva. Foi ali que percebeu que lhe fazia falta o mundo, o mundo dela, deles e de outros tantos. Foi ali que percebeu que sozinho nunca seria feliz para sempre. Foi ali que percebeu que não havia para sempre... E foi feliz.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Se o tempo fizesse todo o sentido
Num sereno fim de tarde ali se encontrava à porta de casa. Era estranho, sentia que não morava ali, não conseguia perceber porquê mas parecia-lhe fazer sentido morar na casa ao lado. Naquele preciso momento sentiu-se envolvido por uma estranha sensação de que todos os lugares que um dia foram seus, eram agora de outra pessoa qualquer, sentia-se ao lado, ao lado de casa, talvez ao lado de si. No entanto sentia-se perto de todos os sítios, sentia-se até perto de si, até perto de casa. A noite foi-lhe inundando o dia e o dia que antes fora seu desapareceu e passou para um dia de tanta gente. Olhava para si e não parecia ele. Era uma estranha sensação que não o deixava mover, por ali ficou... petrificado, assustado? Não conseguia entender, a única coisa que percebia é que não conseguia sair dali, de frente daquela casa que já não lhe parecia sua. Aos poucos e à medida que conseguia abrir espaço na mente, foi abraçando a noite. Talvez a noite lhe trouxesse respostas que o dia acabou por levar consigo. E por ali ficou até ser dia e a noite lhe fugir por entre os braços. Perdeu a noite... Em vão? Não... Durante a noite percebeu que aquele dia que foi e que lhe deixou a sensação de que ele não era ele, de que a casa dele não era sua, de que as suas memórias lhe não pertenciam. Esse tal dia que o deixou ali, à frente da porta da casa que fora dele, mostrou-lhe que estava à frente da sua casa, da que fora sempre sua. O que simplesmente desapareceu e lhe dava a sensação que nada era seu como já fora foi o passado. Entrou com coragem e encontrou o passado em gavetas pequenas, aconchegadas para serem esquecidas. Foi ali, naquele momento que se tornou imortal, foi ali que percebeu que as suas memórias eram passado, foi ali que percebeu que aquela era a sua casa de hoje e de amanhã. E de repente abriram-se todas as gavetas e perdeu-se na confusão. Confundiu o ontem com o hoje e amanhã já era tarde para ir dormir. Adormeceu. Ontem vai acordar e perceber que tudo não mais é que um sonho ou então vai perceber hoje que o sonho sempre foi real amanhã. Não se sabe, talvez ontem tudo faça sentido. Por agora deixa-mo-lo descansar até ontem e perguntamos-lhe o que aconteceu aos sapatos. Por amanhã fica assim descalço de memórias, ontem é um novo dia!!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
É só
Para ele escrever mais não era que ficar sempre que partia, era viajar pelo mundo inteiro sentado ao lume que lhe aquecia os pés frios, era voar sem tirar os pés do chão, era estar onde nunca estivera, era sair de onde sempre esteve. para ele escrever mais não era que amar sem nunca ter amado, era morrer e acordar amanhã. Para ele escrever era descansar quando estava cansado e cansar-se quando ainda não o estava. Era pensar sem pensar e esquecer de escrever e pensar porque escrevia. Era viver uma vida que não era sua, se calhar nem era a do vizinho, era inventar o mundo que nunca ninguém vivera. Escrever mais não era que ocupar o espaço vazio no papel, era um fugir do mundo sentado numa nuvem que se não via nem ouvia, era chover ao sol escaldante. Escrever, escrever era viver o que jamais poderá viver. Escrever não era muito mais que viver numa vida que era mais feliz, outras vezes mais triste, era manter o equilíbrio, escrever era o que o prendia ao chão. Escrever era o que o fazia voar até nunca ninguém voara, escrever era cair para cima. Era ir ao centro do mundo e voltar antes do pequeno almoço. Escrever era não acordar antes de adormecer. Era um viver sem limites, era limitar a imaginação. Escrever, escrever era só isso. Uma outra forma de vida que não é, tal como não ser, escrever não era nada.Também ele não seria nada. Se a escrita não o fizesse ser alguma coisa, todos os dias. Escrever é ser, é ficar, é existir para lá do tempo, para lá do mundo, para lá do amor e para lá de tudo o que se sabe. Escrever é só de um, mesmo quando é de muitos. Escrever é perder-se nas palavras e não se encontrar em pontos finais. Escrever... Ah... Escrever, escrever é cansar a alma até sossegar o desassossego. E escrever, escrever é só isso. Não morrer todos os dias.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Do medo sabe-se muito depois de se perder
Era qualquer coisa maior que ele, tinha a certeza. Pelo menos mais pesada que a sua existência. Sentia o peso a empurrá-lo para trás, como que se aquilo, o que era maior que ele, não quisesse que fosse tão para a frente. De todas as vezes que tentava atirar-se para um lugar desconhecido aquela coisa impedia-o, puxava-o para cima e deixava-o cair antes num chão pouco longe do que conhecia. Aos poucos foi aceitando aquele peso, aquela coisa que não conhecia. Mesmo ao deitar-se para descansar as pernas já adormecidas de tanto peso dava conta de que aquilo ia com ele para a cama e se fazia pesar agora no seu peito. Mal conseguia respirar. Aquela coisa começava a afirmar-se em todos os sítios que outrora foram leves. Antigamente só o impedia de ir mais longe, agora não o deixava sequer estar perto de si. Os momentos bons começaram a assumir a figura do peso que carregava. Os amigos começavam a ficar para trás, ou escondidos atrás daquela coisa enorme que se não via mas não deixava ver. O trabalho, esse ficou cada vez mais automático até o perder. A rotina foi trocada por outra, uma mais pequena, afinal agora não podia fazer tanto, carregava aquilo consigo e não podia ir tão longe. Com o passar do tempo a coisa maior que Ele tornou-se gigante. Não sabia o que era. Talvez aquela coisa tivesse sido sempre assim pesada. Se calhar já fora mais forte... Não conseguia entender. Ficou muitas vezes acordado a tentar ver o que nunca conseguira. Como seria possível ser tão maior que ele e ser invisível? Há muito deixara de acreditar na invisibilidade. Aos poucos foi-se questionando, começou a aceitar que poderia haver fantasmas, vidas mortas que vagueiam pelo seu caminho perdidas. Seria o cansaço do que carregava que já o obrigava a ponderar todas as possibilidades, mesmo as que nunca as seriam. Aos poucos a sua vida limitou-se a um ir assustado ao supermercado e a um tímido bom dia à vizinha da frente. Perdera tudo menos aquele peso que a cada dia se mostrava maior e mais insustentável. Um dia qualquer, já sem forças nem opções conseguiu ver o que o esmagara contra a realidade, conseguiu perceber o que o prendeu ao chão com correntes de ar. Correntes de ar daquelas que se ouvem quando se deixa a janela aberta e se não fecha a porta. Percebeu que aquela coisa maior que ele, maior que o mundo, maior que tudo era só o seu medo, a sua culpa. Não sabia por onde começar, mas sabia que havia uma saída. Aos poucos ensinou o caminho aos fantasmas que encontrou perdidos, aos outros disse para desistirem e aceitarem que não havia caminho com saída para eles. Aos poucos ficou leve, aos poucos voltou a aprender a viver. Aos poucos voltou a criar fantasmas que lhe alimentavam o medo. Mas agora já percebera que a vida é uma estada de um sentido só e deixava que os fantasmas o seguissem até se perderem. Sabia que o único peso que carregava era o seu. O medo e as decisões já não lhe pesavam nada. Os fantasmas não tinham peso, eram só isso, fantasmas pesados, perdidos, mortos.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Portishead - Roads
E todos por aí nos acusam de sermos a geração, dita, rascas. O que nem todos entendem é que, até hoje, fomos a melhor geração de sempre. O que nem todos entendem é que somos simplesmente as vítimas de umas gerações anteriores que não nos quis aproveitar, ou, no mínimo, não nos conseguiu garantir um futuro à nossa altura. Teríamos sido a geração mais capaz e mais eficaz num mundo, agora perdido, num mundo onde tudo o que se aprende tem de ser esquecido pelo caminho. Num mundo onde tudo o que se fez não serve de muito para o mundo onde nos querem inserir. Não somos maus. Somos bons, naquilo em que seria suposto sermos. Talvez nos pudessem criticar por não sermos capazes de aceitar o básico e o implementado socialmente, talvez... Mas... assim sendo, porque nos deram tanto acesso à informação? Bastava limitarem-nos e não seríamos mais do que o que os outros foram. Só não nos peçam para sair, quando somos mais capazes do que os que nos impedem de ficar.
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