segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Directamente d'os Aristocratas

"Circulava eu pela via, a caminho de casa, enquanto ouvia esse hit entre crescidos e pequenada que é o “(Blow my) Whistle” a pensar em tudo e em nada, como todos nós fazemos no dia a dia, quando me deparei com um cenário familiar no carro ao lado. Um homem a conduzir com um olhar distante e a sua (presumo) esposa a seu lado, também ela com o olhar vago a olhar pela janela do seu lado.

Sorri pois percebi que ia ali um casal chateado, um casal que não se fala. Não sei porquê mas isso faz-me rir, saber que há ali aquele clima, aquela tensão por alguma discussão que tenha acontecido ou apenas (e no pior cenário) por ser o dia a dia daquele casal, gente que está junta mas não se fala, perderam a capacidade de comunicar e pelo caminho, provavelmente, o sentimento que os uniu inicialmente.

Duas coisas que por esta altura estarão a pensar:

1 – És um estúpido por sorrir com essas situações.
2 – Que exagero, aquilo pode ser um milhar de coisas diferentes sem ser necessariamente uma discussão.

Têm razão mas 1º não pedi a vossa opinião, estou a ser honesto, ver um casal zangado faz-me sorrir e sei que se calhar vocês não são muito diferentes. Há ali qualquer coisa que nos faz sentir assim, talvez por ser caricato, talvez nos faça sentir melhor por acontecer também a outras pessoas, pela vergonha alheia, não sei. Mas acontece, porque raio não o devemos admitir?

- Ah, se calhar ficaram chateados comigo por eu dizer que não pedi a vossa opinião, não? Foi? Não fiquem, somos todos amigos. Vá, dêem cá dois beijinhos e para a machesa que já está a dizer “Shô, caralh#!” dêem cá um aperto de mão, à homem.

Já está? Amigos outra vez? Maravilha. Vamos continuar? Vamos. -

E 2º se há coisa que eu sei reconhecer são esses sinais. Um casal, dentro de um carro, cada um a olhar para o seu lado, com um ar sério e sem falar, é tão garantido estarem zangados como quando vão num centro comercial afastados ou quando estão sentados num café/esplanada cada um agarrado ao telemóvel sem trocarem uma palavra.

Quer dizer… pensava eu.

Reparei depois que ele olhou para ela, pôs o braço à volta dela, gentilmente puxou-a para si,
deu-lhe um beijo na testa e ela deitou a cabeça no seu ombro.

Fizeram as pazes, pensei eu.

Depois reparei que seguiam atrás de um carro funerário e percebi. Não estão chateados,
estão tristes. Eu estava enganado. Senti vergonha por ser assim e já não sorri.

No sentido oposto vi um condutor que ia sozinho e sorria… Um sorriso que eu conhecia, que me era familiar. Eu não conhecia o rapaz mas aquele sorriso era igual ao que eu tinha há alguns momentos…

Olhei para o lado e vi a minha namorada, com um olhar vazio a olhar para o lado.

Arrisquei a pergunta: “O que é que se passa?”

Respondeu: “Nada.”

Eu sabia que estava tramado."

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