Sentia-se cansado e mesmo assim, embalado pela chuva lá fora, não conseguia adormecer. Viajara pelo mundo inteiro já... Os dias revelavam-se uma loucura, caminhos cruzados, caminhos perdidos, direcções opostas, caminhos sem saída!! Tantos caminhos percorrera, perdera-se tantas vezes que agora, às voltas com o sono que lhe não dá a volta, não sabe bem onde está. No entanto, mesmo não sabendo onde pertence, sabe de todos os sítios onde já pertenceu... Sabe que um dia talvez possa voltar e se não voltar a encontrar, nunca mais... Talvez tenha nascido para se nunca encontrar, para nunca ser encontrado. Julga nunca ter percorrido o mesmo caminho e no entanto sente que já ali passou várias vezes. Talvez num sentido oposto, talvez perdido do caminho que queria que fosse de sempre... Não se encontra, mas também não se perde. Quem se não encontra nunca correrá o risco de se perder. E a noite, como que a pedir desculpa, deixa-o dormir embalado pelo seu silêncio... O silêncio dela para quem julga nunca se ter perdido de si. Os caminhos perdidos não lhe gritam por não ter voltado, sente apenas um leve sussurro, talvez de um caminho que nunca havia percorrido. Adormece... Talvez amanhã se encontre, talvez depois se volte a perder... Hoje está ali, onde não se julga encontrar, onde se não julgar perder. Amanhã, amanhã é só mais um caminho perdido até à noite... Talvez um dia encontrado até outro dia perdido...Mas só amanhã, hoje olha para trás e recorda-se de todos os sítios por onde já passou... E acaba por descobrir que esteve sempre no mesmo por ali pelo mesmo sítio de sempre, umas vezes perdido, outras nem tanto... Talvez amanhã consiga compreender, talvez...
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O tempo dos outros, de todos...
Às vezes o simples entender do andar do tempo e do desenrolar do seu processo fazia-lhe impressão ao olhar para os que lhe eram de perto... Era como que se a cada momento que passava perdesse mais um bocadinho deles, para outros. Era perder bocadinhos seus a cada instante para quem se não sabe... Era um ser destruído constantemente sem perceber. E depois, quando se percebe para onde se caminha, para onde os outros caminham, quando se percebe que todos acabamos por caminhar para longe de nós, ou pelo menos quase todos, percebemos que somos pouco e mais tarde ou mais cedo seremos nada. E os outros serão tudo um dia. E nós teremos de ser tudo noutro sítio. E temos a certeza que nunca seremos. E acabamos por duvidar de que todos os outros sejam tudo, pelo menos durante muito tempo. Acabamos por acreditar que somos nada. E nada faz sentido em tudo! E no fim, quando tudo se acaba, levamos tudo... Tudo o que teria sido e o nada em que se tornou. E vamos cheios de tudo o que não foi e foi noutro sítio qualquer. E devemos ir assim.. Sem sentido, perdidos no tempo, perdidos de nós, perdidos do mundo...
domingo, 19 de janeiro de 2014
Foram
Fez do seu mundo deles... Fez do seu sonho, um sonho deles e para os dois... Fez do seu futuro o futuro deles!! Fez de si eles, perdeu-se dos seus defeitos mais evidentes e afastou os dela como que numa troca onde ficaram os dois sem nada do que não importava... Viu-a no seu futuro, já era o futuro deles... Tinha conseguido criar todo um novo mundo... Um mundo que seria deles e para eles e nunca seria só seu!! Depois acordou e nada fazia sentido, esse futuro nunca existiria!! Voltou a adormecer para poder continuar a acreditar. Às vezes acreditar no que nunca será é melhor que não acreditar em nada... Não viveu... Sonhou... E dizem os poucos que sabem que foi feliz com o que nunca foi e triste com o que era... Nunca foi cheio, nunca foi vazio... Foi sempre assim assim... Mas pelo menos nunca foi o que não quis... Também nunca foi o que sonhou perguntavam-se todos muitas vezes... Eles nunca lhes respondeu, sorriu sempre apenas, com a resposta presa ao coração... "O sonho nunca poderia ser mais que isso, de um ter sido em sonho, de um não poder ser real, de um ser perfeito ali, no sonho... Nunca teria sido outra coisa, só poderia ter sido aquilo!! Foi sempre seu, foi sempre perfeito." Dela nunca se soube grande coisa, dele também não... Só se sabe que nunca foram... Foram uma vida inteira sem saberem, ou pelo menos ela... E serão-no sempre enquanto ele se lembrar e continuar a sonhar... Foram eternos, até onde a memória se lembra!!
domingo, 12 de janeiro de 2014
Listener - There Are Wrecking Balls Inside Us - Audiotree Live
Aconselha-se!! De tal forma que arte há-de ser isto... É como que deitar fora a
alma ao microfone!! É como escrever em pedra com duas penas!!
Saudade
Sentado à lareira de sempre sentia-se invadido por uma nova saudade... Desorientado no desconhecido de uma saudade que nunca fora tão sua por ali ficou a pensar no que poderia fazer... Não poderia fazer nada... Ali se deixou continuar até sentir a saudade tão sua... Abraçou-a e deixou-se embalar por um sono deles... Fez o melhor partilhou com ela os seus sonhos e pelo menos enquanto dormia sabe-se ter sido feliz!!
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
O vento há-de ajudar
A vida dava-lhe tantas voltas que a dada altura deixou de perceber como poderia dar a volta à vida. E todas as noites encontrava uma solução e ao acordar a solução perdia-se, talvez no sono e consequente sonho absurdo tantas vezes, que parecia fazer ainda mais sentido que uma solução que nunca o seria. Perdido no caminho de sempre tentava dar a volta. Uma volta que nunca conseguiria dar depois de tantas voltas dadas. Queria voltar ao princípio e de repente percebia que depois de crescer se não pode voltar à caixinha pequena de sempre. Depois de crescer a vida ganhou um tamanho que temia não suportar sozino. Dali nem conseguia ver quem fora. Parece que foi sempre assim, não se apercebeu que a vida o mudara e o moldara ao que é hoje. Entre um e outro traço de sempre nao conseguia encontrar-se. Mais que perdido, não tinha para onde ir. Caminhava sem sentido e sem retorno. Só podia ir para a frente e para a frente assusta. Sentia-se como uma daquelas folha que cai, seca de uma qualquer árvore em Outono, ao sabor do vento que a guiava. Sentia que não poderia voltar à árvore, só lhe restava chegar ali, ao chão, ao seu inevitável destino. Sentia que o vento o poderia levar para qualquer lado, mas do chão nunca fugiria, a menos que uma daquelas pessoas que se apaixonam por coisas que passam invisíveis aos olhos de toda a gente o tentasse apanhar, mesmo que já tivesse caído ao chão. O chão não teria de ser o fim, bastava que alguém o visse, ali, caído, quieto, parado, ao sabor do que o leva. Folha sem esperança, ao sabor do vento, perdido da árvore que o viu crescer e lhe podia lembrar como foi, como foi sempre e como se tornou assim. Não podia voltar. Nunca mais. Deixou-se ficar ali mais do que o tempo julgava ser possível. Dizem que ficou ali até morrer e permaneceu. A ver as folhas caírem sem esperança numa dança descoordenada e sem sentido. E nunca nenhuma folha caía da mesma forma, em mil anos que se diz ter ali ficado, todas elas se deixavam ir à sua maneira para onde nunca saberiam. Eram só folhas. Era só uma estátua. E o vento fazia-se sentir, talvez fosse vento de mudança. Talvez fosse só inquietação.
sábado, 4 de janeiro de 2014
chuva
Mais uma manhã de chuva, daquelas manhãs que dá vontade de não deixar ir embora porque nos embala num sono em que se fica acordado e se parece sonhar, quando, no fundo, o que acontece é pensar com o coração... Por ali se deixou ficar, a imaginar, a deixar-se levar pelo que o faria feliz, por entre a chuva que se atirava à janela com vontade de lhe calar a vontade... Durante esta tempestade pequena pensava como seria se simplesmente não pensasse do outro lado, se por momentos pensasse em si, se por um instante conseguisse dizer o que sentia sem pensar nas repercussões do que seria dito... Seria feliz com toda a certeza, mesmo que o que dissesse não surtisse qualquer efeito!! Poderia dizer para não ir, podia dizer o que ir significaria para ele, poderia explicar como seria o mundo se... Poderia tentar pelo menos... Por entre a chuva caiu um trovão, todos estes pensamentos idiotas de quem gosta e não pensa se foram embora e saiu daquele transe!! Continuou a gostar calado pela tempestade, ficou ali, a olhar apaixonado, a pedir baixinho que tudo corresse bem, pelo menos àquele lado, ficou a ouvir a chuva que se não calava, mesmo com os gritos dos trovões... E ele, calado com o medo à felicidade que poderia nunca ser, ficou ali deitado até adormecer... Com medo de não a fazer tão feliz como ela merecia, deixou-a ser feliz como já era antes dele. E por entre os trovões que lhe gritavam ao ouvido percebeu que era o que deveria fazer, porque acima dele estava a felicidade de outra pessoa, que poderia ser uma pessoa qualquer, mas não, era a felicidade de quem queria mesmo ver feliz, ver brilhar pelo mundo como só ela poderia. E isso, isso também o faria ser feliz com toda a certeza. Assim adormeceu, embalado pela ideia de que pelo menos lhe se lhe não atravessou à frente e nunca foi um entrave ao seu brilho que o cativava ainda mais de cada vez que sorria. Era como que se o seu sorriso para ele fosse como a sua felicidade, e sentia que a cada sorriso gostava ainda mais. E sabia que pelo menos nunca silenciara aquele sorriso, nunca calara aquela alegria. Podia dormir, por fim, descansado. Ela seria feliz e ele, se tivesse sorte, poderia continuar a vê-la ser todos os dias.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Bom Ano
"Recomeça…Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel Torga, Diário XIII
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel Torga, Diário XIII
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