domingo, 14 de junho de 2015

Caminhava, como caminham todos os loucos, sem direcção. Desesperadamente à procura de um futuro que nunca seria, de uma vida que nunca teria, de uma felicidade que nunca alcançaria. Louco, caminhava. Caminhava em círculos, sonhava. Sonhava até onde a imaginação o levava. Julgava ele, o louco, que o mais feliz que conseguiria ser, seria até onde a imaginação fosse capaz de chegar. Caminhava... Sonhava... Não vivia... Perdia... Os dias, os meses, os anos, a vida, a felicidade... Perdia-a todos os dias.... Sabia-o agora, que a encontrara, que a imaginação não pode ir tão longe, que um sonho nunca poderá ser tão brilhante, que uma vida nunca poderia ser tão preenchida como fora até então... Julgara ter sido feliz até ali, àquele momento. No momento em que a realidade ultrapassa o sonho, e o que existe ultrapassa o onírico... Agora, agora percebe finalmente que nunca foi inteiro e que quem não é inteiro não é feliz. Agora, agora que a encontrou, sabe que foi sempre parte de um mundo que ele próprio construiu. Agora ela aparece-lhe e dá forma ao que nunca foi. Agora, agora que sabe o que é realmente viver num mundo de entrega e confiança e sentimento e felicidade e de vitórias e de derrotas e de tudo, agora não pode voltar a sonhar com o que sonhou um dia, agora tem de sonhar com um mundo todo ele novo, todo ele inteiro, todo ele perfeito. Agora, agora que sabe que o que sente é mais do que qualquer sonho, agora que sabe que é possível, agora que ama... Agora não sabe nada, agora não sabe sonhar, agora que não sabe outra coisa senão ser feliz à beira dela, não lhe sabe dizer que o que sempre sonhara nunca passou, na realidade, de um esboço, de um pequeno esboço dela. Agora, agora não lhe consegue explicar que o que sente por ela é tão grande que seria capaz de engolir o universo inteiro e transformá-lo num magnífico, quase mágico, jogo de luzes... Agora, agora não sabe nada... Só sabe que tudo o que antes foi, com a chegada dela desmoronou-se num magnífico palácio de ruinosos lindos sentimentos. Agora, agora sabe que só há um caminho para a felicidade, agora sabe que qualquer outro caminho não o fará feliz. Agora sabe que tem de ir por outro lado, mas agora não pode sonhar, porque o sonho fica preso ali, à beira dela. Para sempre... Sempre... E o seu sonho será sempre, para sempre, aquele sorriso que lhe aquece os dias e lhe incendeia a alma... E a sua luta, o seu sonho... será para sempre aquele sorriso, será sempre lutar por aquele brilho, por aquela magia, por aquele olhar, por aquele toque, por aquele abraço, por aquela partilha... Fica para sempre entregue a ela e ela ficará para sempre como a razão do seu sorriso... E aquele que sempre fora um louco, agora sabe aonde pertence... E pertence-lhe sempre a ela, para sempre... E nunca haverá lado algum que o faça voltar a sonhar depois de ter embarrado na perfeição... E diz-se agora, no fim dos dias... Que sorriu sempre, mesmo sem caminho ou direcção, só sentado na recordação.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...