domingo, 30 de novembro de 2014

.f

Não foram tão poucas as vezes que lutara contra a perda. Era inconcebível no pensamento dele que perder fosse uma possibilidade, pelo menos uma perda sem luta, sem raiva, sem garra. O perder, perder de braços baixos, de olhar preso ao chão, aquele perder de quem não luta não fazia sentido, nunca o havia feito em si. No entanto, via-se diante da perda, depois de lutar, depois de se vencer a si, depois de tentar vencer o mundo, depois de tentar vencer a razão... Nada a fazer, pensava... A cada minuto que passava a perda ganhava força e forma, era inevitável. "Seria então uma perda?" perguntava-se. "Não teria sido apenas uma vitória durante todo o tempo em que lutara contra o impossível, contra a sonho não realizável?" E, no meio de toda a confusão entre vitória e derrota, de decisão e não decisão, de tristeza e a alegria... O sentimento era o mesmo, era um saber perder sem razão, era um saber não ganhar o que sempre seria... E o sentimento de vazio, quer tenha sido uma pequena vitória ou uma grande derrota, era o mesmo... Era como que se arrancassem a cor ao mundo, era como que se o mar corresse acima das nossas cabeças e a areia nos ficasse sempre entre pés... Era como que se o sol brilhasse abaixo do chão e o céu fosse sempre escuro... Era como que se tivessem cortado a a magia no céu e as estrelas desaparecessem como que por "não magia"... O mundo tornara-se frio, escuro, tornara-se num sítio onde se vivia a peso, a medo, a pena... E nem o sol que lhe aquecia os pés lhe consolava a alma... Perdera-se a ilusão, perdera-se a vontade de voltar a acreditar. Perdera-se o sentido, perdera-se tudo... E no entanto sabe que ganhou, que ganhou o suficiente para tudo a partir dali ser perda. E é o saber do que se nunca saberá que apaga o céu e não mistura as cores.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...