Não foram tão poucas as vezes que lutara contra a perda. Era inconcebível no pensamento dele que perder fosse uma possibilidade, pelo menos uma perda sem luta, sem raiva, sem garra. O perder, perder de braços baixos, de olhar preso ao chão, aquele perder de quem não luta não fazia sentido, nunca o havia feito em si. No entanto, via-se diante da perda, depois de lutar, depois de se vencer a si, depois de tentar vencer o mundo, depois de tentar vencer a razão... Nada a fazer, pensava... A cada minuto que passava a perda ganhava força e forma, era inevitável. "Seria então uma perda?" perguntava-se. "Não teria sido apenas uma vitória durante todo o tempo em que lutara contra o impossível, contra a sonho não realizável?" E, no meio de toda a confusão entre vitória e derrota, de decisão e não decisão, de tristeza e a alegria... O sentimento era o mesmo, era um saber perder sem razão, era um saber não ganhar o que sempre seria... E o sentimento de vazio, quer tenha sido uma pequena vitória ou uma grande derrota, era o mesmo... Era como que se arrancassem a cor ao mundo, era como que se o mar corresse acima das nossas cabeças e a areia nos ficasse sempre entre pés... Era como que se o sol brilhasse abaixo do chão e o céu fosse sempre escuro... Era como que se tivessem cortado a a magia no céu e as estrelas desaparecessem como que por "não magia"... O mundo tornara-se frio, escuro, tornara-se num sítio onde se vivia a peso, a medo, a pena... E nem o sol que lhe aquecia os pés lhe consolava a alma... Perdera-se a ilusão, perdera-se a vontade de voltar a acreditar. Perdera-se o sentido, perdera-se tudo... E no entanto sabe que ganhou, que ganhou o suficiente para tudo a partir dali ser perda. E é o saber do que se nunca saberá que apaga o céu e não mistura as cores.
domingo, 30 de novembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
Nunca serás... Até ao fim
E... À noite, quando a luz se vai e os medos e o escuro e a verdade te surgem e te acordam do dia que sonhavas, Percebes que lutas e lutarás sempre por um nunca será, que chega a ser enquanto não encostas o corpo à cama e à alma à verdade. Quente pelo sonho, deitaste ainda morno, para começar a gelar no calor que só se faz sentir à superfície... O futuro, esse, há-de vir cheio de nada, cheio do que nunca foi... E vais deitar-te assim, até ao fim dos dias, com quem nunca foste... Vais crescer como quem nunca cresceu realmente. Vais viver como quem já viveu mil anos e hás-de morrer como quem ainda não nasceu. Envolto em sonhos serás sempre feliz, à luz da realidade serás vazio. E no fim quando a luz e o escuro se misturarem, serás só mais uma sombra que vagueia sem norte, sem razão, sem rumo, sem um porto seguro... Sem casa, à procura do que nunca seria, mesmo quando encontrado. À procura do que nunca foi, e do que nunca será serás sempre mentira. Serás a farsa que te não viu viver, tão pouco nascer... Serás vazio, serás nada, serás só a sombra de quem nunca foste.
sábado, 15 de novembro de 2014
Serás?
Entregue ao que nunca será, vive como se fosse para sempre... Entregue ao impossível, vive como se sempre tivesse sido, sem nunca for... Entregue ao que não é, ao que não são, vive como se ser já fosse!! Perguntar-lhe-iam se serão felizes com o que nunca será... Teria como resposta um "foram" enquanto forem... Novamente entregue a si e ao que é, quer voltar a não ser.. Porque o que nunca será, será sempre perfeito. Porque se sabe sempre como é e como seria o que nunca será... Perguntar-lhes-iam como se vive hoje sem amanhã e teriam como resposta que se vive como quem é feliz agora e não se importa de não ser amanhã. Porque, como se só pode ser feliz hoje sem pensar na dor de amanhã, tem de se viver com o impossível de amanhã como o possível de hoje. Sabe que não serão para sempre, sabe que nunca serão. Mas também sabe que não sabe nada. E o impossível de ontem já foi possível hoje e pode ser amanhã. E os dias vão passando e o impossível que será sempre, não o foi até ali. E se nunca se perder na viagem, se nunca se esquecer de quem foram, serão sempre para sempre. Porque nunca se consegue esquecer que se viveu o impossível.
domingo, 2 de novembro de 2014
Pura Magia
Por magia entendia-se, na maioria das vezes, uma ilusão... Um truque, uma forma de enganar o público menos atento... A partir dai passou a chamar-se de ilusionismo e o impacto da ilusão foi destruindo aquilo que se entendia como mágico. A magia deixou de existir simplesmente. Tudo mais não era que um truque, uma farsa, uma ilusão. A magia, aos poucos, perdeu-se na mentira da ilusão... Poucos seriam os que ainda descobriam magia... Verdadeira magia, magia que não mentia... Algures no meio de milhares de pessoas ainda se podia encontrar uma ou outra pessoa capaz de não fazer truques, capaz de não "mentir", capaz de ser verdadeiramente magia. Algures no meio de uma multidão conseguia ver-se alguém capaz de não fazer truques, de ser magia apenas, de não temer enfrentar o mundo com verdadeira magia. Muitos não conseguiriam ver para além da simplicidade de um gesto óbvio, que não engana. Poucos foram os que perceberam que era pura magia...
Palavra
"Vou escrever-lhe" pensou... Depois entendeu, e bem, que as palavras nunca chegariam para lhe dizer tudo. Não havia nada tão maior que o que tinha para lhe dizer... E, no entanto, as palavras mostravam-se raras, insuficientes, pequenas... Restava-lhe acreditar, acreditar que tudo o que não dizia fosse ouvido e compreendido. Afinal, as palavras não são assim tão importantes... E diz-se que palavras leva-as o vento... E eles eram isso, eram vento, eram tempestade, eram brisa, eram suspiro, eram respirar. Dentro deles tinham o mundo inteiro... As palavras chegariam para dizer que traziam nos seus mundos mares e oceanos, que eram tempestade, que trovoavam de quando em volta, que gritavam mudos, que sorriam um com o outro... Sim as palavras diriam isto... Mas as palavras nunca seriam suficientes para descreverem o que sentiam juntos, para descrever o poder de dois mundos diferentes a chocar um no outro... As palavras nunca seriam capazes de perceber a forma como seguravam o mundo... O mundo um do outro, as palavras seriam sempre poucas ao tentarem contar a forma como eram felizes com tudo ou sem nada, seriam sempre poucas para descreverem o medo que os invadia sempre que se lembravam que existe um universo inteiro e que eles são apenas dois mundos, dois pequenos mundos.
Quase
Tantas vezes ficamos à beira do quase fizemos que acabamos por nos contentar com o que quase foi feito. Acabamos por ter uma vida que nunca será perfeita porque lutar pela vida que sempre quisemos há-de custar mais que ficar com o futuro que já se tem como certo. Arriscar torna-se cada vez mais sem sentido, a vida, essa, já nos ensinou que o tempo nos consome a alma e o corpo. Somos muitas vezes consumidos pelo passado, tantas vezes consumidos pelo presente, que nos consome o futuro que se nunca alcançará. Caminhamos cheios de histórias de"teria sido fantástico" e por quase ter sido tantas vezes quase se consegue ser feliz, quase se consegue ser inteiro. E ao fim, consumidos por tudo o que não fomos, por tudo o que não tivemos, há-de chegar o último dia, o que nos consome a alma, o que nos diz que independentemente de todos os cenários possíveis, o fim chegaria sempre. No fim não se pergunta se se foi ou não feliz, se valeu ou não a pena, no fim aceita-se apenas que ser feliz teria sido outra forma de ter chegado ao fim. Como tantas histórias que terminaram antes de começarem, tantos acabam antes de serem felizes. Tantas vezes esbarramos de frente com a felicidade e fugimos-lhe, como que se ficar não fosse mais que destruir a felicidade que seria, tantas vezes nos escondemos para não provarmos o que seria ter sido feliz. Tantas vezes corremos do que teria sido fantástico com medo de que não seja, que de todas as vezes o que acabamos por aproveitar é mais uma oportunidade de não sermos felizes. E aceitamo-lo de ânimo leve, porque se diz que se não pode ser feliz para sempre. E quando se diz que não agarrámos as oportunidades, agarramo-las todas, agarramos todas as possibilidades de não sermos felizes... Outros agarrarão, com toda a certeza, todas as oportunidades de serem felizes. E no fim, nem uns nem outros, desperdiçaram oportunidade alguma, apenas as aproveitaram de formas diferentes.
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