domingo, 12 de outubro de 2014

Chega

Chega um dia em que deixam de ser os princípios o meio para sermos quem somos. Chega um dia em que sermos quem queremos deixar de fazer sentido. Chega o dia em que o sofrer é inevitável e nem o conforto de se saber que se sofre para um bem maior é suficiente para acalmar uma dor que grita, calada num quarto fechado e escuro de olhos fechados. Chega um dia em que queremos deixar de sentir, chega o dia em que não queremos saber dos nossos princípios, nem dos nossos meios, nem de nós nem de ninguém. Chega um dia em que só queremos fazer parte da multidão, ser igual a toda a gente, O dia em que nos bastar ter o que os outros têm. Chega o dia em que nos sentimos de menos, chega o dia em que sabemos que não valemos a pena. E chega o dia em que só queremos desaparecer. E esse dia chega e fica... E há-de ficar para sempre. Porque quando se é marcado no coração o para sempre corre-nos no sangue até ao fim. Mas chega. Chega de tudo e chega de quase viver. Chega de lutar contra a evidência e contra a falsa verdade, chega de tentar viver o conto de fadas. Chega de acreditar no fim feliz. Chega... Agora é hora de deixar ir, de ser ser o que se for, de aceitar que se não há-de ser nada. Chega,,, Chega de acreditar e de sonhar... E chega de tentar ser diferente, é hora de não ser eu, é hora de ser o que querem que seja. Chega a hora de ser o que se espera, chega a hora de ser o que se pode ser. Chega de acreditar que a felicidade é uma coisa que vai dormir todos os dias à minha beira. Chega.
Já não sou papel branco onde se escreva, já não sou esperança onde se viva, já não sou felicidade que não foge. Chega. Não sou nada. Chega.

* E chega de escrever... 

1 comentário:

  1. «...Chega de acreditar que a felicidade é uma coisa que vai dormir todos os dias à minha beira.»

    ...

    ...Mas a felicidade não adormece nem um dia à beira de quem quer que seja. Talvez a felicidade faça questão de nos acompanhar enquanto não desistirmos de caminhar. Se calhar não a encontramos à nossa espera no final de uma hipotética viagem. Importa muito mais senti-la no dia-a-dia, em vez de procurarmos racionalizá-la e, para isso, é fundamental levarmos a alegria no bolso. Ou nos olhos!...

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