terça-feira, 30 de junho de 2015

Foi ali, naquele momento, que lhe não disse que a amava, que lhe não disse que não via outra mulher no lugar da mãe dos seus filhos, ali, naquele momento em que lhe não pediu para que ficasse, ou que se fosse, o levasse com ele... Foi ali, naquele momento em que não a beijou e não deixou que aquilo que não conseguia dizer chegasse até ela... Foi ali, naquele momento em que não teve a coragem de a ver sofrer, mais uma vez, com histórias do que seria, naquele momento em que nem ele próprio teve coragem para lhe dizer que tinha a certeza de que o mundo deles seria para sempre perfeito, foi ali, naquele momento em que nem ele sabia se seria melhor para ela partir ou ficar... Foi naquele momento em que não lhe consegiu dizer que sem ela o mundo já não fazia sentido... Foi ali, naquele momento do que não foi... Que foi o momento em que a perdeu... E vai te-lá em si para sempre... E nunca a terá... Perdeu-a ali, num momento que não foi

segunda-feira, 22 de junho de 2015

É sempre a adiar... Até ao fim...

Conhecemos as pessoas durante anos, até mesmo dezenas de anos, habituamo-nos a evitar os problemas pessoais e os assuntos verdadeiramente importantes, mas guardamos a esperança de que, mais tarde, em circunstâncias mais favoráveis, se possam justamente abordar esses assuntos e esses problemas. A esperança, sempre adiada, de um relacionamento mais humano e mais completo nunca desaparece completamente, porque nenhuma relação humana se contenta com limites definitivos, restritos e rígidos. Permanece, portanto, a esperança, de que haja um dia uma relação «autêntica e profunda». E permanece durante anos, até mesmo décadas, até que um acontecimento definitivo e brutal (em geral, uma coisa como a morte) vem dizer-nos que é demasiado tarde, que essa «relação autêntica e profunda», cuja imagem tínhamos amado, também não existirá; não existirá, tal como as outras. 

Michel Houellebecq, in 'As Partículas Elementares'

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Sentia-se assim... Uma casa de férias... O sítio onde as pessoas vinham passar uns dias, onde fugiam ao mundo delas... Era assim que se sentia, o sítio que nunca será o sitio, o sítio que nunca mais será que um ponto de passagem, é um sitio bonito... Mas não é um sitio onde seja possível ficar, ali não é possível viver, é longe da vida, é longe da felicidade, fica longe do trabalho e da vida de todos os dias... É bonito, o sítio, mas é impensável ficar mais que 2 semanas... Ali até correm bem as coisas, mas não correriam sempre, é só aquele bocadinho... É uma casa, só uma casa noutro sitio, longe do lar, longe da vida, longe de tudo... Não é nada, é só um espaço desprovido de sentido, é um sítio... Só uma casa levantada do chão, com o único objectivo de ser por uns dias o que não pode ser para sempre... E o coraçao dele é assim, como essa casa... Cheio quando ela volta, vazio quando ela vai para a casa aonde pertence... Um coração que não é nada, uma casa vazia... Um mundo sem sentido...

.P.Q.P.

Tantas vezes ouvira dizer que tinha de sonhar, que tinha de acreditar, que tinha de ser feliz... E que a única forma de ser feliz era acreditar sempre, para sempre, que alcançaria os seus sonhos... Ensinaram-no também a não sonhar alto demais, a sonhar com o que era possível... A sonhar com base no futuro, a sonhar apenas com aquilo em que acreditava ser possível... Sonhou... Sonhou sempre e nunca deixou de acreditar... Até que um dia se cruzou com a realidade... E a realidade ultrapassou de longe o sonho... E foi mais feliz ainda... Foi feliz como nunca imaginara ser possível, foi feliz para lá do sonho e para cá da realidade... Fez deles o mundo dele e dele o mundo deles... Mas como em alguns sonhos, a realidade dele não fazia sentido no mundo dela... E agora?! Perguntava-se... Nunca lhe haviam falado de que a realidade poderia ser maior que qualquer sonho, nunca lhe disseram o que se fazia a partir dali... Não sabia, não sabia nada... Era tudo novo... E a realidade, tal como um sonho, tornou-se maior que ele... Como os sonhos, ele construiu a sua vida à altura de uma realidade que nunca conseguiria alcançar... Foi algures por ali que percebeu que se consegue desistir de um sonho, mas nunca se consegue desistir da realidade... Porque a realidade é a verdade... E perante a verdade não há por onde fugir... Agora... Agora restava-lhe desistir do que era real, desistir de para onde a realidade o levava, de para onde o sonho o trazia... Agora restava-lhe aceitar que a realidade ultrapassou de longe o que seria o mais lindo sonho... Restava-lhe desistir e aceitar que só podia voltar a sonhar... Desistir... Desistir de ser feliz ali, "naquele lugar" que o fazia acreditar que a vida era mais que um sonho, dali, de onde percebia que a vida era o concretizar os sonhos todos ao lado dela... Restava-lhe, por fim e como que numa última tentativa de não morrer ainda, aceitar que não esteve à altura da realidade, só esteve à altura de sonhar... Pode ser que um dia consiga voltar a sonhar... Agora, agora os sonhos já não fazem sentido... A única forma de voltar a si... É abrir mão de ser feliz... É desistir da realidade que o leva a sonhar todos os dias... É aceitar que o sorriso que o faz sentir o mundo na palma da mão não será nunca dele, é aceitar... Aceitar que a realidade se tornou muito grande para ser suportada por si... É aceitar que até agora, crente no que era real, construiu um mundo que não será nunca o seu, nunca o deles... É aceitar que a verdade dele é só dele... E desistir da realidade para voltar a sonhar... Desta vez... Um sonho mais pequeno... Um sonho ao alcance dele... Desistiu, por fim...

domingo, 14 de junho de 2015

Caminhava, como caminham todos os loucos, sem direcção. Desesperadamente à procura de um futuro que nunca seria, de uma vida que nunca teria, de uma felicidade que nunca alcançaria. Louco, caminhava. Caminhava em círculos, sonhava. Sonhava até onde a imaginação o levava. Julgava ele, o louco, que o mais feliz que conseguiria ser, seria até onde a imaginação fosse capaz de chegar. Caminhava... Sonhava... Não vivia... Perdia... Os dias, os meses, os anos, a vida, a felicidade... Perdia-a todos os dias.... Sabia-o agora, que a encontrara, que a imaginação não pode ir tão longe, que um sonho nunca poderá ser tão brilhante, que uma vida nunca poderia ser tão preenchida como fora até então... Julgara ter sido feliz até ali, àquele momento. No momento em que a realidade ultrapassa o sonho, e o que existe ultrapassa o onírico... Agora, agora percebe finalmente que nunca foi inteiro e que quem não é inteiro não é feliz. Agora, agora que a encontrou, sabe que foi sempre parte de um mundo que ele próprio construiu. Agora ela aparece-lhe e dá forma ao que nunca foi. Agora, agora que sabe o que é realmente viver num mundo de entrega e confiança e sentimento e felicidade e de vitórias e de derrotas e de tudo, agora não pode voltar a sonhar com o que sonhou um dia, agora tem de sonhar com um mundo todo ele novo, todo ele inteiro, todo ele perfeito. Agora, agora que sabe que o que sente é mais do que qualquer sonho, agora que sabe que é possível, agora que ama... Agora não sabe nada, agora não sabe sonhar, agora que não sabe outra coisa senão ser feliz à beira dela, não lhe sabe dizer que o que sempre sonhara nunca passou, na realidade, de um esboço, de um pequeno esboço dela. Agora, agora não lhe consegue explicar que o que sente por ela é tão grande que seria capaz de engolir o universo inteiro e transformá-lo num magnífico, quase mágico, jogo de luzes... Agora, agora não sabe nada... Só sabe que tudo o que antes foi, com a chegada dela desmoronou-se num magnífico palácio de ruinosos lindos sentimentos. Agora, agora sabe que só há um caminho para a felicidade, agora sabe que qualquer outro caminho não o fará feliz. Agora sabe que tem de ir por outro lado, mas agora não pode sonhar, porque o sonho fica preso ali, à beira dela. Para sempre... Sempre... E o seu sonho será sempre, para sempre, aquele sorriso que lhe aquece os dias e lhe incendeia a alma... E a sua luta, o seu sonho... será para sempre aquele sorriso, será sempre lutar por aquele brilho, por aquela magia, por aquele olhar, por aquele toque, por aquele abraço, por aquela partilha... Fica para sempre entregue a ela e ela ficará para sempre como a razão do seu sorriso... E aquele que sempre fora um louco, agora sabe aonde pertence... E pertence-lhe sempre a ela, para sempre... E nunca haverá lado algum que o faça voltar a sonhar depois de ter embarrado na perfeição... E diz-se agora, no fim dos dias... Que sorriu sempre, mesmo sem caminho ou direcção, só sentado na recordação.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

"Posso vir a ter outros amores

na hora do tédio

recusado.

Posso vir a ter outro passado

e inventar-me
em formas de viver.

E posso transgredir-me de emoção


renavegar na margem

de outros corpos.
E transmitir de mim
para outras mãos
a chama do sagrado.

E posso várias vezes repetida

condescender-me em gesto

dizer coisas que sei

e que não quero.
E ser imensa
até ao desespero.
Absoluta.
Enorme.

E encher de palavras outros nomes.


Mas é a ti que pertenço."

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...