Soltamos das paredes da imaginação o quadros com os sonhos... Caminhamos por caminhos que nunca tinham sido nossos... Deixamos quem éramos lá atrás e retocamos os quatros ainda há pouco desprendidos. Entorpecidos pelo amor, caminhamos enquanto pintamos, sonhamos enquanto caminhamos, construímos enquanto destruímos. Depois de soltos os sonhos, acabam por se prender em quem amamos. Ali, em quem amamos, residem agora os quadros dos nossos sonhos, as paredes da nossa imaginação, os limites da nossa existência. Ali, ali fica tudo o que já fomos e tudo o que gostaríamos de ter sido. Ali, como quem troca para uma casa maior e mais bonita, procuramos uma parede mais perfeita onde possamos decorar a vida.
Mas, quando por alguma razão o amor nos falha e a vida nos ludibria, deixamos de ser quem já fomos. Há muito deixamos aquelas paredes velhas. E há muito que os sonhos que um dia soltamos das paredes já não são os mesmos. Quando o amor nos falha por qualquer razão voltamos sem sonhos, pelo menos sem os mesmos. Porque aqueles que um dia foram os nossos, já são de outra pessoa, já não pertencem só à parede da nossa imaginação, agora são parte daquelas novas paredes que construímos em conjunto.
Voltados atrás já não somos nada. Já nos traímos, já nos perdemos. Já não somos quem fomos. Somos uma parede vazia, sem coragem, sem imaginação, sem vontade. Quando voltámos somos mais vazios, mais ocos, mais cansados, mais frios, mais tristes, mais sozinhos. Sempre que voltamos perdemos... E sempre que perdemos, perdemos-nos... Acabamos por cair no mais fundo que há de nós. Um fundo vazio, frio e sem sonhos. Soltamos das paredes os sonhos e levamo-los para longe de nós. E somos menos, cada vez menos.
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