terça-feira, 29 de julho de 2014

E o tempo do tempo

Com o passar do tempo, vem o tempo certo, o tempo de perceber se fomos, se vamos ser, se devíamos ter sido ou ido... Chega o tempo certo de perceber se o caminho foi o certo ou o errado. Com o passar do tempo percebemos se vale a pena, se valeu a pena, se teria valido a pena.

Com o passar do tempo percebemos que aquele "Adeus" que nos demorou mais a sair era como que uma forma de percebemos que queríamos ter ficado Ou então percebemos que o "Adeus" se tornou mais prolongado porque se não sabia para onde ir. Ficamos apenas o tempo suficiente para deixar de ter medo de não haver outro sítio.

Com o passar do tempo vamos sentido o poder do querer, do sentir, o poder da vontade. vamos sentindo o poder da vontade de querer ter ficado ou ter ido, poder de não querer ter ficado ou o poder de não querer ter ido Com o tempo ganhamos o poder de decidir se foi bem ou mal escolhido e com este poder surge o peso da derrota do saber, do saber que deveria ter sido diferente.

Com o passar do tempo começamos a ganhar o poder de ser livres, presos ao que queremos, a quem gostamos e ao que gostamos e ao "onde" queremos estar. Com o passar do tempo percebemos que liberdade é poder ficar preso ao que é "nosso", ao que nos hão-de tirar sem querermos. Liberdade é aceitar que queremos e aceitar que nos pode ser tirado. Com o passar do tempo, liberdade é deixar ser até quando for. 

Com o passar do tempo ganhamos o direito à loucura, o direito a sermos quem não somos, o direito a sermos para quem nos conhece, completamente desconhecidos. Podemos, porque já sabemos quem somos e já sabem quem somos, podemos ir e depois voltar a quem somos, como se nunca tivéssemos sido "outro". E percebemos, com o passar do tempo, que a única forma de não enlouquecer é ser louco de quando em volta.

Com o passar do tempo percebemos que saudade é não fazer ideia do que se sente falta, é um perceber que com o tempo os dias se tornam maiores e o tempo deles não chega para nós e os dias vão muito depressa. Com o passar do tempo deixamos de querer saber, de querer entender. Com o passar do tempo deixa-se de querer saber onde se falhou, se falhamos realmente. Com o tempo começamos a ter saudades e não sabemos bem de quê e de quem, talvez os dias se tenham apenas tornado demasiado grandes e a vida pouco preenchida e pensar demais levou-nos a demasiadas recordações, do que foi, do que poderia ter sido, do que não foi e no meio de tanta recordação perde-se a noção do que foi real e do que queríamos que tivesse sido. Acabamos só por ter saudades de quem fomos e do que fomos noutra altura.

Com o passar do tempo começamos a aceitar o que não queremos, como que, se do preço a pagar pelo que queríamos ter e não conseguimos, se tratasse. Com o passar do tempo aceitamos que a felicidade foi desde sempre uma utopia, um sonho que se não concretizaria nunca. Com o passar do tempo olhamos em vota, para tudo o que queríamos ser, para quem queríamos ter e percebemos que não seremos nada, nunca... Que independentemente de tudo nunca seremos inteiros, que nunca nada nos completará. E, convencidos de que não podemos ser completos, tentamos encher-nos de nada e vamos tentando agarrar tudo e aceitamos não ser infelizes e viver, viver até ao fim. E com o passar do tempo, abrimos mão da felicidade e tentamos agarrar tudo o que de nós não faça miseráveis.

Com o passar do tempo deixamos que percebam que sentimos. que sentimos com profundidade, que gostamos intensamente, que nos arrancam pedaços quando nos magoam, que pedaços de nós ficam onde os outros nos deixam e aos poucos vamos ficando pequenos, muito pequenos, porque aos poucos todos nos vão deixando... Com o passar do tempo tudo parece demais e nada parece chegar.


Com o passar do tempo...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

À medida

E à medida que o tempo passava questionava-se sobre e onde a vida o levaria. à medida que os anos iam passando iam ficando menos dias... Iam ficando mais coisas por fazer... As escolhas de um qualquer dia iam reflectidas pelo futuro em diante, um futuro que tinha cada vez menos dias, cada vez menos escolhas, cada vez menos opções, cada vez menos vida, cada vez menos magia, cada vez menos verdade... Não é que fosse velho... Ainda... Não é que se tivesse arrependido... Ainda... Mas já passaram muitos dias, muitas decisões, muitas dúvidas e demasiadas certezas incertas... À medida que o tempo lhe fugia da vida percebia que já não podia errar tanto, que já não podia alegar não saber das consequências... E o tempo, esse que nunca pára, esse de que tudo se lembra, esse de que dizem curar tudo... O tempo que antes parecia demais, hoje torna-se de menos... Errar já não é possível, viver o impossível já é só gastar dias... Continuar a sonhar é um gastar de horas... Acreditar na mentira é tentar enganar o tempo que nunca nos enganou, e que nunca se engana... À medida que os dias se tornam meses e as noites grandes em dias difíceis é tempo de parar, de ponderar, de decidir, de acreditar em alguma coisa, diz que à medida que os meses se tornam anos e os anos se tornam décadas fica uma vida para trás... Não fica mais nada, fica o que se fez, as decisões que se tomaram, as pessoas que se conseguiram cativar, ficam as oportunidades que nos fugiram, as oportunidades que deixamos fugir, as oportunidades que não pareceram sê-lo a tempo de o serem... Fica um corpo enrugado... E se os dias forem deitados fora, anos serão perdidos, vidas serão desperdiçadas... Agora, agora que ainda se podia questionar tentava perceber se o caminho que sempre tomara seria o correcto, tentava perceber até onde seria possível acreditar, ponderava parar... Parar para respirar, para perceber, para entender... Mas o tempo, o tempo dizia-lhe que se não podem perder dias, que um dia perdido é um pouco de vida não vivido... Lutando contra o tempo foi perdendo sempre, o tempo tinha sempre razão... As decisões de trás já lhe haviam ensinado que muitas histórias acabam de maneiras iguais mesmo com personagens diferentes e que as mesmas personagens poderiam acabar de formas diferentes... E enquanto o tempo passa e nos leva a vida com ele... Resta-nos tentar ficar com o que nos significará alguma coisa amanhã... Amanhã, quando o tempo nos provar que já não podemos continuar e teremos de parar... E ele, ainda que perdido no tempo e não encontrado na vida, procura o seu espaço... Um espaço onde o tempo se não atreva a entrar e a perguntar se valeu a pena... Um sítio seguro, onde se possa sentar a olhar para trás e agradecer todas as escolhas feitas... Procura-se a si numa vida que mais lhe não trará que a morte. E tenta encontrar-se, tenta encontrar-se nas decisões já tomadas, nas oportunidades já perdidas e na verdade... Na realidade que esteve sempre à sua frente escondida... À medida que o tempo passa não nos restam anos, restam-nos dias... E à medida que os dias lhe parecem menos só quer viver de verdade, não quer viver de mentira, do que não é... Quer viver... E se ser feliz lhe parece impossível, tenta pelo menos ser ele próprio agora... E por um breve momento... E o tempo que se diz nunca parar, de quando em volta pára para lhe ver o sorriso no rosto, o sorriso de quem conseguiu aqui e acolá ser feliz para lá do tempo, para lá do espaço... Para quem conseguiu viver um momento, para quem durante um bocado conseguiu ser perfeito. E esses momentos só são verdadeiros e reais quando partilhados... E ele sentia-se assim, completo e inteiro de quando em volta... E diz-se que seria assim até ao fim, até quando o tempo se não lembrasse mais e o deixasse ir sossegado, sem lhe colocar mais dúvidas e mais incertezas e o deixasse ser até sempre...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Fica o que seria

Um dia, enganado pelo seu próprio sonho e enganado pela errada ideia de que podia controlar o seu futuro, deixou-se ir, acreditando que conseguiria sempre guiar a sua vida através do sonho que um dia imaginara. Crente em todos os ideais que julgava ter, confiante nos princípios que lhe haviam dito ter foi caminhando, a medo... às vezes... Convicto noutras tantas foi sempre... Foi sempre até onde julgava ser possível. E até ali, onde um dia percebeu que às vezes os sonhos são pequenos quando se encontra algo tão maior e não mais pequeno que o amor, o amor sincero, o amor sem limites, o amor em todo o sentido da palavra, Palavra essa que um dia também lhe haviam explicado o significado. Explicaram-lhe, mas nunca lhe explicaram que o amor, por si só era um sonho, um sonho de dois, um sonho muito maior do que qualquer sonho que pudesse alguma vez perseguir sozinho. Ainda confiante nos seus princípios e ideias, deixou-se levar pelo amar, pelo gostar, pelo querer estar. Por não querer estar em mais lado nenhum... E de pés bem firmes no chão deixou-se voar, deixou-se ir pelo que era tão maior que ele. E mesmo depois de conhecer "amar" continuou, convicto, ainda mais convicto, de que seria feliz e poderia partilhar essa felicidade. Não estava sozinho, sonhar já não fazia sentido, agora podia viver. E, nunca deixando de amar, mas também nunca abandonando quem sempre fora foi destruindo o amor, aos poucos, foi-o diminuindo, acreditando que seria sempre maior que tudo. E mesmo depois de lhe terem explicado tudo, mesmo depois de ter percebido como era, nada o impediu de o perder, de perder o amor. Nada o impediu de se perder do sonho, do amor, de si, de tudo. Restava-lhe pouco agora, pouco mais que voltar a começar, que voltar a sonhar, que partir de onde, afinal, nunca havia saído. Agora, embora triste, embora desmotivado, embora sem acreditar, sabia que havia sempre algo maior, algo que seria sempre mais que a vida, ou que duas. Sabia que podia sonhar, que podia amar e que podia voar... Mas ao longo da viagem foi percebendo que amar não se escolhe e sonhar não mais é que uma ilusão. Ao longo da viagem percebeu que foi ali que se perdeu de si, do sonho, dos ideais e dos princípios. Solto de tudo, perdido de si... Vagueou... Não se sabe se voltou... A si... Não se sabe se voltou a sonhar, só se sabe que viveu e sabe-se também que provou o mais doce dos sentimentos. sabe-se que a partir dali nada foi tão doce como seria. Tudo lhe pareceu mais azedo, mais pequeno, mais nada. Dali em frente sabia que se perdera para não mais se encontrar. Restava-lhe vaguear e acreditar, acreditar que um da as recordações lhe encheriam a memória e que um dia seria feliz só por recordar tudo o que poderia ter sido e não foi. Um dia sentado... Ouviria a sua música e tê-la-ia ali tão perto. 

Era uma vez... Um menino muito pequenino, sentado à janela do seu quarto. Dali via um pequeno riacho, umas escadas, daquelas que já não há, ...