Às vezes partimos de nós, deixamos quem éramos numa mala e escondemos no sótão e esperamos que nunca ninguém nos encontre. Ele partiu naquele dia, no dia em que achou que havia chegado a altura de largar tudo e ir atrás de outra coisa qualquer. Fechou-se na mala e deixou outro "eu" dele sair, um "eu" que nunca foi ele, mas que a partir daquele dia teria de ser. Um eu que aceitara perder tudo para sempre, e que voltaria a conquistar-se a si e a tudo noutro dia qualquer. Seria como que transformar toda uma vida em coisa nenhuma e fazer de conta que o passado nunca foi dele. Julgava ser possível abandonar tudo o que fazia dele quem era, as pessoas, as ideias, os princípios, os pensamentos. Tudo lhe parecia fazer sentido naquele dia. O que ainda não tinha percebido é que podia largar tudo, podia recomeçar sem ninguém, poderia voltar a ser nada. O que nunca conseguiria era ser feliz, nunca conseguiria ser inteiro sem aqueles que fazem dele quem ela, sem aqueles que lhe conhecem todos os erros e conseguem ainda olhar para ele sem pena. Desistiu de si, dos outros, desistiu de tudo e queria voltar como um herói derrotado e voltar a ganhar tudo o que julgava poder ter perdido. E tudo mais não foi, afinal, que uma vitória com cheiro a derrota, quando julgava ir de encontro ao início de um capítulo novo, deu conta que poderia estar de frente com o princípio do fim, do fim dele. Aquele morrer devagarinho e sem esperança, aquele ir desaparecendo daqueles que o fazem aparecer como um herói. Sabia poder perder-se e sabia nunca poder encontrar-se. Agora restava-lhe esperar, esperar que desistir nem sempre fosse uma derrota e que desistir, apesar de não ser vitória, não fosse um perder tudo. Esperou e esperará até ao fim. Já era tarde para voltar atrás e ainda não era tempo de ir para a frente. Sabe que partiu inteiramente naquele dia e apesar de voltar partido, ainda tinha em si a esperança de que alguém o salvaria de si e do outro "eu" que inventara. Agora caminhava a passo incerto, sem nunca pisar chão que o segurasse...
segunda-feira, 16 de junho de 2014
domingo, 8 de junho de 2014
Para sempre
E depois vem a vida... E ensina-te que tudo o que queres não é teu, que por muito que lutes nunca terás o teu sonho, que por muito que corras não alcanças essa felicidade. E depois vem o dia em que decides desistir de tudo, o dia em que não queres saber, o dia em que dizes que dali em diante será sempre a perder. E depois vem o dia a seguir, o dia em que percebes que tudo o que não tinhas seria sempre maior do que aquilo poderás vir a ter, o dia em que não ter era melhor que ter outra coisa qualquer. E agora é sempre tarde demais, porque tudo o que não tinhas, era só isso, o que não tinhas e agora, agora sabes que nunca terás... E assim terás de viver, sem nada, para sempre. Desisti ontem de hoje e amanhã.
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