Todos falavam de uma luz. Da luz ao fundo do túnel. Pelo que entendia era quase como que encontrar a solução para todos os problemas. Todos diziam procurá-la, no trabalho, em casa, até no pequeno restaurante de todos os dias a procuravam. Encontravam-se todos envoltos em escuridão, calculou. Via neles uma esperança, quase como que uma veneração por essa luz. Um dia deu consigo a querer encontrar essa luz também. O problema que acabou por se lhe colocar é que a vida dele era só luz. Não havia nada que o puxasse para a escuridão, para conseguir encontrar a luz teria de arranjar forma de transformar o seu mundo em negro. Um mundo que sempre fora luz teria de se tornar em escuro, só para encontrar a "bendita" luz. Não sabia bem como havia de começar esta transformação. Começou por pequenas falhas no emprego, que em pouco tempo se tornaram grandes e ao fim de uns meses insustentáveis, foi despedido. De início perder o emprego não lhe parecia suficiente, teria também de perder alguns amigos. Começou a portar-se como as pessoas que sempre criticou, mesmo assim eles foram ficando, começou a comportar-se pior ainda, aos poucos perdeu-os. Continuava a ter luz na sua vida, a sua mulher continuava a apoiá-lo incondicionalmente, talvez fosse ela que ainda o suportasse. Decidiu trair-lhe a confiança, nada demais, uma mentira aqui, outra acolá. Envenenou-os aos dois, afastaram-se. Mesmo assim o escuro parecia não o atingir. Decidiu desistir da luz ao fundo do túnel. Decidiu voltar à vida que sempre fora sua. Quando voltou a si, voltou sozinho ninguém o esperava como sempre. Os seus amigos tornaram-se meros conhecidos em fuga, a sua mulher aproximara-se de um dos amigos que se afastava, até no trabalho, onde sempre fora considerado um funcionário exemplar o rejeitaram. Agora que desistira da escuridão parecia ter sido abalroado por ela. Mas se no caso dos outros todos que procuravam a luz havia esperança, no seu caso não havia esperança alguma, foi ele que destruiu tudo propositadamente. Não há, agora para onde voltar, nem para onde ir. Destruiu todos os caminhos, tapou todas as portas com aquela cega vontade de entrar no túnel. Antes de se ter perdido completamente no túnel escuro, sombrio e húmido deu por si a pensar que não valia mais a pena a viagem. O seu destino era este, o túnel. Sabia que nunca voltaria a encontrar luz. Deixou-o escrito pouco antes de se ter atirado de um baixo 14º andar, baixo porque não lhe parecera suficientemente alto para ter tempo de abraçar a morte, a morte que brilhava lá ao fundo. Era esta a sua luz, estava tão perdido que o fim da escuridão por fechar os olhos para sempre lhe serviu de luz. Dizem ainda que por um breve momento voltou a ser feliz, soube ali que tudo chegara ao fim. Não se sabe se percebeu que o escuro não se procura, acaba por se encontrar sem querer e acaba por se ficar até não querer mais. Uns aguentam, outros tropeçam, outros fazem por cair.
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