Sentara-se, fazia já algum tempo, junto à janela de sempre... Era a janela de sempre, mas por alguma razão, oculta ainda, tudo parecia diferente. Não se sentia perdido na escuridão lá de fora, como sempre se sentia... Era como que se a vida tivesse ganhado sentido. Um sentido que não conhecia. Da janela de sempre, não havia nada igual, seria de afirmar que aquela não era a sua janela, aquela janela discreta virada para o céu estrelado quando as nuvens se escondem da lua. Uma incomum nostalgia invadia-o. E, à medida que as horas se iam acumulando à janela, a nostalgia parecia envolvê-lo cada vez mais... Ao fim de algum tempo, o tempo necessário para perceber que aquela nostalgia que abraçava como sua mais não era que a sua imaginação a viajar por um mundo que não era seu, o tempo necessário para perceber que era apenas ele a viajar, talvez, por uma realidade que pertencia a qualquer outra pessoa, sentiu-se invadido por um sentimento de perda, um sentimento de perda que também não era seu. Talvez tivesse apenas sonhado acordado, talvez. Mas foi um sonho que quase conseguia agarrar se a janela não estivesse fechado (raio de chuva miudinha e insignificante).
Dava consigo agora na janela de sempre, onde sempre se perdera, mais perdido ainda. Agora dentro de si, havia além daquela melancolia que o caracterizava já há muito, uma sensação de perda, uma sensação de que, afinal, não vivera. Percebeu que caminhava num sentido errado, talvez tenha até percebido que já alguém caminhava pela "rua" que seria dele. Perdera o caminho de si para outra pessoa qualquer. E agora, ali à janela, nada havia a fazer. Restava-lhe esperar, esperar que outra pessoa qualquer se perdesse de si e o encontrasse. Mas seria sempre mais uma pessoa perdida. Mais não seriam que pessoas à procura delas próprias. E por ali ficou até as horas o terem ludibriado com um sono leve e desaparecerem. Quando voltou a olhar pela sua janela, ela voltara a ser sua. Através dela via o mesmo de sempre, nem mais, nem menos. No entanto ainda dizem, os que conheceram a história do Sol, que a partir desse dia imperou nele a dúvida.
Dizem ainda que vai constantemente perdendo brilho, à medida que caminha perdido num caminho que nunca será seu. Tem para si todo um universo, seria capaz de fazer com que o seu brilho atingisse todo o universo. Mas pelo que dizem, o universo não lhe chega porque é muito, diz-se que quer apenas o seu caminho, o caminho que é seu. Chamam-lhe Lua e diz-se que ele poucas vezes a vê. E quando tal acontece, ela logo se apressa em desaparecer. E quando ela finalmente quer voltar, ele quer partir, talvez porque sinta que aquele caminho, o seu, já não é seu, talvez nunca tenha sido, talvez não tivera chegado a tempo. E quando se não chega a tempo, esperar já não faz sentido.
Quando os caminhos se separam pode ser muito doloroso.
ResponderEliminarEu acho que o eterno desencontro tem um quê de fascinante ;)
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