"No princípio" julgavam-se parecidos. Ambos frequentavam os mesmos sítios, o que os levara a pensar que gostavam das mesmas coisas. De início parecia não haver diferenças. Com o passar do tempo começaram a descobrir algumas. Um dia deitaram-se cá fora, as horas foram caindo e rapidamente o dia se transformou em noite. Ela via as estrelas, a lua, imaginava as outras galáxias, os outros planetas, tentava entender vida em outros sítios, longe dali. Um mundo todo ele novo, cheio de coisas que se não conheciam. Imagina outros seres, muito diferentes de nós, a tentarem ver vida para além deles. Imagina outros seres à procura da mesma coisa que ela. Imaginava como viveriam, o que comeriam, se comeriam, se respiravam, se não. A sua imaginação não encontrava obstáculos. Voava por esta noite encandeando a escuridão com o brilho da sua curiosidade. Ele só vi escuridão, falta de luz, sentia-se agoniado por não perceber como iria chegar a casa se a única coisa que os seus olhos viam era escuro. Não pensava em mais nada, não queria olhar para cima, os seus olhos queriam habituar-se ao escuro para conseguir voltar para casa. Ele sabia que se ficasse muito tempo no escuro, aos poucos ia conseguindo encontrar os contornos da natureza que os rodeava. Ela tentava explicar-lhe que a escuridão era o que se via quando se não olhava para longe, quando a imaginação se prendia a um bocadinho de musgo. Ele tentava convencê-la de que se calcassem esse bocadinho de musgo poderiam cair e magoar-se, talvez até perderem-se para sempre. Foi ali, naquele momento, que perceberam que olhavam para sítios muito diferentes. Viram, mas não quiseram saber, os velhos hábitos continuavam a colocá-los no mesmo sítio. E, pelo que se diz por lá, nunca foram muito felizes, mas viveram bem, tristes, mas bem. No entanto, os dois equilibravam-se. Ele sempre muito preso ao chão, ela sempre muito agarrada às nuvens. E ficavam ali, no meio. Não foram felizes... Foram... Eles nunca quiseram contar se lhe chegou existir apenas, mas diz-se que ele foi mais feliz. Conseguiu tirar os pés do chão, coisa que nunca conseguiria sem ela. Diz-se que ela não foi tão feliz, diz-se que passou uma vida inteira presa à vida. Quando o que queria era descobrir o universo. Diz-se que o seu fim começou ali, naquela noite em que não caíram no musgo. Mas é o que se diz e nunca ninguém poderá ter a certeza.
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