Era uma vez (é assim que devem começar todas as histórias de enganar) uma menina chamada Alicia, que se apaixonara por um menino chamado Héracles, que vinha passar férias à sua humilde aldeia todos os anos. A primeira vez que se cruzaram não teriam mais de 4 anos. Como é normal nas aldeias pequenas não abundam as crianças, portanto desde tenra idade brincavam juntos. Acabaram por se "descobrirem" um ao outro, antes que outros o fizessem. Com o passar dos anos Héracles, habituado aos prazeres mundanos oferecidos pela cidade começou a menosprezar as férias passadas com a família no campo e ficava em casa na internet a falar com os seus amigos da cidade e a queixar-se da monotonia que o assolava todos os anos por esta altura.
Alicia por sua vez começara a estudar numa universidade na capital e para si nada de mais importante e de valor havia que estes meses passados junto à sua família, à sua rotina.
O tempo foi passando, ambos tinham vidas diferentes, ambos tiveram relacinonamentos com pessoas mais parecidas com eles. Ambos ignoraram o facto de terem crescido juntos, ambos se esqueceram como foi bom aprenderem o que um tinha para ensinar ao outro. Ambos se formaram, ambos tiveram uma carreira profissional de sucesso, porque a inteligência lhes era inerte.
Ambos foram infelizes, até porque nem todas as histórias têm de acabar bem. E as que começam bem e se lhes altera o rumo para algo que se procura a uma determinada altura, em detrimento de tudo o que se poderia ter, se mantivessemos o mesmo rumo, têm uma certa tendência a terminarem mal.
Podemos tentar encontrar um culpado, podemos ignorar os factos que levaram a este "afastamento". Podemos até imaginar o discurso derrotista que ambos tiveram naquela tarde em que ambos voltaram às "Origens". Sim, ela voltou à sua aldeia, dizem que voltou para morrer em "casa" (isso foi o que disseram, tenho cá para mim, que veio com uma ultima gota de esperança de encontrar o destino às portas do fim), ele voltou porque tinha um negócio a fechar com uns quaisqueres estrangeiros que lhe iam comprar a quinta dos seus pais (outros dizem também que o destino lhes quis dizer o que teria sido correcto e o trouxe até ela).
Eu não creio muito nessa teoria, nao me parece que o destino seja de se arrepender.
Mas, de qualquer forma, dizem que a conversa teria sido algo deste género (há conversas que as pessoas fazem questão de imaginar, independentemente do que realmente se trata):
- Héracles: Alicia, sabes que só no fim da estrada te vais apercebendo da viagem e do sentido, ou da falta dele, que ela fez. Algo me diz que se tivessemos ficado juntos a minha vida teria sido muito diferente. Não sei se teria sido melhor, se teria sido melhor, mas não teria de ter vivido com este sufoco que me não deixa respirar desde sempre.
- Alicia: Agora, que sei que não tenho muito tempo decidi fazer as pazes com o passado e aceitar o que me foi dado, que nao foi assim tão pouco, sem questionar o "como teria sido se ele naquele Verão viesse falar comigo".
- Héracles: Mas tu consegues viver com essa incógnita?
- Alicia: Para mim nunca foi uma questão... Para mim sempre foi uma opção tua... Tu é que largaste aquilo que era nosso, aqueles espaços que partilhamos, eram meus, tu partilhaste-os comigo. A partir do momento que deixaste de o fazer percebi que tinhas feito a tua opção... Todos os Verões voltei, mesmo depois de ter feito a vida como a conheço hoje, na esperança de saber o porquê, mas tu nunca voltaste...
- Héracles: Então porque é que nunca me procuraste, porque é que deixaste que tudo acontecesse desta forma?
- Alicia: Porque desde sempre me ensinaram que o que é nosso e a nós pertence conosco virá ter.
- Héracles: Nunca devias ter acreditado nisso, isso é um cliché!!
- Alicia: Não será um cliché maior do que " perdemos muito tempo no passado, mesmo depois de nada haver a fazer. Erro teu, eu voltei, porque sabia que virias antes de eu partir, afinal, alguma coisa terias de fazer depois de 32 anos sem cá voltar.
-Héracles: Nem sempre nos damos conta da efemeridade da vida, fui adiando sempre o meu regresso até que quando dei conta, já era tarde demais.
-Alicia: E agora apercebes-te de que afinal nunca foi tarde de mais e se nao fosse, como disseste, a efemeridade, ainda íamos a tempo de reconstruir o que nunca foi destruído.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
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