Imaginem-se algures numa urgencia de um hospital. Pois bem, aí começa a história do Gonçalo, que acabara de levar a sua esposa por se ter sentido indisposta durante o jantar. Consciente ainda, Rita, a esposa ia dizendo a Gonçalo que provavelmente teria sido de nunca ter ido a um restaurante indiano.
Gonçalo, arquitecto em Coimbra (ainda não tinhamos mencionado a profissão), conhecera Rita quando estudou no Porto, já lá vão 16 anos e 2 filhos em comum.
Conversavam enquanto aguardavam a chamada do médico, que após algumas horas chama. Rita entrou, Gonçalo decidiu esperar, Rita não apresentava sinais de preocupação e ele sempre soube que Rita prezava a sua "privacidade".
Ao fim de umas quantas horas o médico sai e pergunta pelo marido de Rita, que por sua vez ja se sentia incomodado com tanta demora.
Dr: - Sr. Gonçalo, eu sei que aparentemente a sua esposa se encontrava bem, mas no fim de alguns exames de despiste detectamos um problema grave, o que nos levou a operá-la de imediato.
Gonçalo: - Mas doutor, a minha esposa não há muito tempo fez exames e nada apontava para qualquer problema, o que aconteceu?
- Detectamos que a sua esposa tinha um problema de coração, uma insuficiência, o que provoucou este problema durante o jantar.
- Mas ela vai ficar bem não vai? Ainda há pouco falavamos e pensamos que poderia ter sido de nunca ter comido num restaurante indiano. (Um pormenor que não foi mencionado à equipa médica que atendeu. Rita quando entrou perdeu de imediato os sentidos)
- Um restaurante indiano diz você... Eu vou voltar ao bloco a ver como estao a correr as coisas, já volto com mais noticias.
- Sr. Doutor, por favor, veja o que pode fazer, eu so sei viver com ela, tudo o que sou, sou com ela, sem ela não sou nada.
O médico entra para o bloco e depara-se com a equipa em verdadeiro alvoroço. Rita não resistiu à operação delicada. Nada a faria voltar à vida, estava morta, o seu fim chegara. Ditado talvez por um enorme erro, quem sabe.
- Sr. Gonçalo, nunca há uma forma fácil de explicar o que acontece ali dentro, Rita não sobreviveu, fizemos tudo o que estava dentro das nossas capacidades, mas ela estava muito debilitada.
Gonçalo em pânico:
- Mas como não resistiu??!! Ela nunca teve nenhum problema, voces erraram, voces mataram-na!!!
Era uma reacçao já esperada, o médico ignorou as palavraas de Gonçalo e o resto da equipa acalmou-o. Feita a autópsia descobrem que aquela momentanea insuficiencia se devia, de facto, ao jantar.
Gonçalo que decidira ficar cá fora não acompanhou Rita que caíra inconsciente longe de si, a equipa médica não sabendo daquele importante pormenor, nao fez um bom diagnostico, o que levou a paciente à morte. Gonçalo inconsolavel nao se iria conseguir perdoar, nem perdoar ninguem (descobrira com uma consequencia terrivel que os pequenos pormenores, as pequenas escolhas por vezes ditam o destino, o fim). Só o simples facto de tratarem Rita por paciente lhe dava vontade de os matar a todos, parecia que lhe tirava a identidade, logo a ela que ele pensava conhecer tao bem.
Depois do funeral de Rita, depois do desespero, da falta de esperança, do aparente fim de tudo Gonçalo volta ao hospital, mas desta vez consigo levava uma certeza, desta vez quem morreria nao seria mais um paciente, mas sim o "assassino" desse paciente...
Gonçalo entra doido no hospital, nada nem ninguem o conseguiu impedir de chegar ao gabinete do médico (já é hora de lhe dar um nome, Dr. Luis Cunha), ao chegar aponta-lhe uma arma, enquanto um paciente se faz fugir pela porta em panico, e diz-lhe:
- O Sr. matou a minha esposa, não merece trabalhar aqui, nao merece lidar com a vida das outras pessoas, alias nem sequer merece a vida depois de ter morto a minha esposa.
- Calma, eu percebo toda a sua dor, todo o seu desespero, mas eu so fiz o que tinha a fazer, alias toda a equipa que acompanhou a sua esposa concordou que o melhor a fazer era operar.
- Cale-se, a unica coisa que me da a entender é que todos deviam morrer.
- Sr. Gonçalo, pense bem, nem tudo está perdido, o senhor ainda... (foi brutalmente interrompido por 3 disparos que se fizeram ecoar por todo o hospital, este som gélido chegou a todas as salas, a todos os cantos a todo o lado).
A primeira pessoa a ocorrer ao local foi a enfermeira Maria, uma mulher linda, que entrou sem qualquer expressao, estava aparentemente em choque, afinal era o seu marido que se encontrava imobilizado no chao rodeado por uma poça de sangue.
- Mas mas, o que é que voce acabou de fazer?
- Vim fazer justiça, este homem não merecia ter uma vida nas mãos.
- O senhor nao percebe pois nao? Grande parte da culpa foi sua, a operaçao demorou horas e o senhor nao fez nada para nos alertar do que se tinha sucedido, a culpa é sua!!
Maria aproxima-se do marido, deita-se no chão agarrada a ele e chora, chora... Gonçalo que nao queria viver com a culpa dessa sua falha naquela fatidica noite, no fundo sabia que a sua escolha em nao intervir ditara a morte de Rita. Alem dessa dor agora tinha tambem uma morte em maos, mas esta morte nao se deveu a tentar salvar alguem, como fizera o Doutor, pelo contrario esta morte foi um acto de egoismo, a unica coisa que queria era culpar alguem da morte indirecta que provocou e agora tinha duas mortes em maos.
Gonçalo nao sabia o que fazer, sabia que a policia nao tardaria a chegar, nao conseguia suportar a ideia de ter sido o maior culpado na morte da sua esposa e o facto de ver agora ali Maria em desespero agravava a sua dor, decide suicidar-se.
Gonçalo percebera pouco tempo antes de ditar o seu fim que ditara o fim naquele fatidico dia na urgencia, quando nao apoiou a sua amada esposa e a unica coisa que procurava era um culpado para o seu erro, nao o encontrou fora, encontrou-o dentro, dentro de si e sim, vingou-se, vingou-se e matou-o, matou-se.
O que Gonçalo não sabia era que Rita já há um ano e qualquer coisa andava envolvida com outro homem. Não devemos nunca menosprezar o poder da ignorancia. Se Gonçalo soubesse nada disto teria acontecido, estariam todos vivos ainda. De qualquer forma, não cabe a ninguem, a nenhum de nos ditar o fim, resta-nos viver com o fim e com o inicio, resta-nos nao ser culpados do nosso fim, culpados do fim dos outros.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
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