Sinto-te ir, aos poucos, de um sítio que julguei que fosses querer para sempre. Quando chegaste, ainda sem ideia de se ficarias ou não, foste-te instalando em mim, como quem vai partir dali a nada. E o tempo, aquele que tanto nos ensinou que nos ensina tudo, foi-te fazendo ficar. Sem querer criaste em mim o teu jardim, criaste em mim o teu mundo. E eu, sem me aperceber, deixei-te ir ficando, até ser tarde demais para te deixar ir. Espalhaste em mim a magia que já há muito havia julgado perdida, mesmo em mim. Sei que há magia lá fora, mas não acreditava que ainda alguem me faria acreditar. E tu, chegaste e abriste janelas do meu coração para o teu, fizeste pontes do meu pensamento para o teu, abriste estradas entre o meu sentir e o teu. Foste espalhando em mim pedaços de ti, pedaços de nós. Em cada canto de mim existe um pouco de ti. Até nos sítios mais inacessíveis em mim há parte de ti já. A sonoridade do teu sorriso espalhou-se em mim e a alegria de te ver sorrir faz parte do meu sorrir, para sempre. Nunca haverei de sorrir sem que parte do meu sorriso tenho uma parte de ti. E agora vais, aos bocadinhos. Deixas tudo de ti para trás, em mim. Ou te esqueceste, ou não queres levar a tua parte de mim. Nem que quisesses, jamais conseguirias levar tudo, ficarias para sempre. Saíste, levaste apenas o sorriso que trazias no corpo, levaste apenas aquele, aquele último sorriso, deixaste ficar todos os momentos, sem lhes tocar sequer, deixaste-os no mesmo sítio. Como que se ao tocar no que já foi perfeito tudo se desmoronasse. Até o virar de costas foi perfeito, soube a "até já" e nunca mais voltaste. Tenho em mim tudo o que é teu e não tenciono arrumar num canto só. Fica bem em mim o mundo que construímos.
Um dia, se te lembrares de vir buscar o que é teu, leva-me a mim que vou cheio de ti.
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