Dizem por aí, os loucos curados que o nunca serão ou os loucos que se dizem ser e nunca o foram, que o amor não dói, que o amor é um ser feliz para sempre, sem princípio nem fim, apenas com altos, dizem que é um viver em plenitude uma vida inteira, ou duas, para quem tem paciência. Nunca esses tais loucos de amor e crentes da sua inquestionável força, esses que se dizem de tal forma consumidos pela sua indestrutibilidade quando na realidade pouco mais sentem que uma leve comichão no coração disseram, que o amor é fodido, difícil, tantas vezes perto da loucura, tantas vezes maravilhoso. Há alturas em que o amor, daqueles que amam sem grandes gritos e sem grandes loucuras, desejam com todas as forças nunca terem amado. Há dias em que amar é viajar até ao mais escuro e húmido e frio e tenebroso e assustador e sombrio mundo alguma vez imaginado, é ficar quieto apenas com as vozes que nos atravessam o pensamento turvo e nos gritam ao coração que o caminho é sempre para baixo, são os dias em que se cai, em que nada vale a pena, em que nada faz sentido. Em que o único sentido que se encontra é amar sem destino e direcção, amar como quem rema num oceano sem margens, acreditando para sempre, que um dia o amor bate em terra firme. É por isso que se não vive só e apenas para o amor, é por isso que se morre de outras coisas, é por isso que se não morre só de amores e também se morre de gripes. Porque para as gripes ao menos há esperança.
Também, relativamente ao amor, nunca esses tais loucos nos disseram que o bom é o melhor, que os altos, são tão, mas tão altos que nos perdemos de vista, que perdemos de vista a vida e voamos, voamos levemente como quem nunca cairá. Nunca nos disseram que enquanto se ama, se voa sem medo, se viaja sem medo do percurso, sem medo do fim, sem medo de nada. Nunca nos disseram que a viagem seria calma e sossegada, nunca nos disseram que seriam só altos, nem nunca nos disseram que os baixos seriam tão baixos. Nunca ninguém nos disse. Amar é aprender, aprender a ir ou a ficar. E a ficar para sempre quando se aceita, quando se aceita que os altos são mais altos que os baixos, quando se sabe que a vontade de ir embora nunca será maior que a vontade de ficar. Quando se sabe que a vida não será perfeita, mas será sempre uma aventura, quando se sabe que se não vai ter medo de ser ali, quando se sabe que se será inteiro ali, até ao fim... Ali ama-se... Ali sabe-se que se pode cair e que se não pode arrastar o outro, porque será o outro que nos vai voltar a trazer ao cimo da vida, ao cimo da felicidade, ao cimo de tudo. E amar, amar é só isto, um gostar sempre e cada vez mais, um saber que (...) e gostar na mesma...É aceitar o que não é no outro perfeito em nós, é amar assim, sem mais nem porquê. E... Amar não se ensina, aprende-se...
E se um dia o fim chegar, se um dia não houver mais energia para se ser, não se volta, não se volta com pesares e faltas de vontade, no dia em que o fim chegar, guarda-se o que foi perfeito e vive-se o que falta com o sorriso do que antes sobrou.
E disseste tudo. Amar é isso, um somatório de dores que nos dão prazer. Ficamos porque queremos, abdicamos de muita coisa porque sim... sem razão, ou melhor... com a mais importante razão de todas. Porque amar é isso.
ResponderEliminarAdorei este teu texto. Se autorizares gostava de publicar uma parte no meu blog com a devida referência ao autor evidentemente.
Muito. Bom.:))
E já agora... Bom Ano.
Olá AC :) Obrigado pela visita :) Claro que podes publicar :) É um prazer e nem tens de mencionar a autoria ;)
ResponderEliminarUm bom ano para ti também, tudo de bom :)