sexta-feira, 5 de abril de 2013

Do que éramos para o que não somos

Continuas a ser a pessoa que mesmo chegando antes, demorou demais, porque não é no tempo que te espero, espero por ti antes de nós. Continuas a ser tu a fazer-me perder a noção do tempo que os dias nos arrancam à  alma. Quando finalmente chegas, tudo mais não é que saudade, saudade que alimenta as noites, onde o tempo parece ser o espaço que sempre nos há-de separar. És tu que preenches todos os meus dias, todas as minhas noites, ora com a tua presença, ora com a tua ausência. Sim, és sempre tu que me preenches, mesmo quando dizes que me odeias por te perder quando me encontras. Respiro em ti à procura da saída de nós e sinto-me sufocado ao descobrir que a saída somos só nós. Sinto que ao abraçar-te, abraço o universo inteiro, sinto que todo o universo nos envolve, evitando que soframos. E mal desentrelaçamos os braços, para mais um até já, sofremos como se nunca tivesse havido antes. Sabemos que esse "até já" pode ser um espaço intemporal, que se nos irá voltar a impor. E depois de muitos dias e muitas noites, voltarás a encontrar-me e eu voltarei a perder-te, como sempre, como antes. Descobrimos com assombro que embora juntos, não mais somos que solidão. Caminhamos, acompanhados por uma solidão nossa, pelo mundo para nos voltarmos a encontrar, para nos voltarmos a perder. Somos sempre perda que se encontra e se volta a perder. Somos como que uma causa perdida, vamos morrer ainda cheios de vida, de vida que não chegámos a viver. Mas vamos viver como o nada que no fim foi tudo, porque nunca mais fomos do que vontade. E como não somos deuses para tornar eterno o efémero, não seremos mais que vontade de voltar para nos perdermos. Já fomos isto.


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