"A vida dá muitas voltas" dizia ela, enquanto afagava os longos cabelos castanhos, dizia-se que em algumas dessas voltas teria sido preto. Dizia isto com a leveza de quem diz que vai estar sol se não chover. Parecia fácil, na altura também me parecia leve... Era quase como que uma frase sem sentido que encaixava bem em todos os momentos menos bons... Até que um dia dei conta que, de facto, a vida dá mesmo muitas voltas, ou nós damos muitas voltas à vida, vai do ponto de vista, pelo que dizem, enquanto temos os pés bem assentes no chão, ao mesmo tempo que nos julgamos extremamente seguros, a terra gira a uma velocidade estonteante, é coisa para dizer que se levantarmos um bocadinho demais os pés iremos parar a uma cidade vizinha, diria até, se fosse um bocadinho mais maluco, que a outra dimensão... Pois bem, a terra dá todas estas voltas, pelo que e ainda me apoiando em teorias ouvidas às escondidas dos que vão à missa, todos os dias a terra dá uma volta, chamam-lhe pelo que entendi rotação. E nem com todas estas voltas a terra perdeu a essência, perdeu o rumo, se desorientou, nem com todas as voltas das vidas que com ela viram se perdeu... E não me parecem bem, que agora, enquanto calmamente culpas a vida e as voltas, não me parece bem que te tentes segurar com um "a vida dá muitas voltas", porque essa, essa justificação estará sempre longe do que é verdade. E não é que o aquilo que inventas como sendo a tua realidade me incomode ou me faça ponderar a minha, incomoda-me sim que te deixes viver sem culpa, porque quem assim vive, acaba por não viver, acaba por ficar pendurada nessas justificações e quem vive é sempre culpado, para o bem e para o mal, não me parece que ao tentares encontrar outros culpados consigas viver aquilo que é teu, porque viver é assumir, é arriscar, é ser culpado!
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Não precisas nada de inspiração, na minha opinião, já tens qb. :)
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