Pediu-lhe baixinho que o ouvisse, pelo menos desta vez... Não é que desta vez o que tinha a dizer fosse mais importante que de todas as outras vezes, talvez fosse apenas porque sentia que aquele era o momento de dizer tudo o que havia a ser dito, como que se o que fosse dizer desta vez e mais uma vez, fosse ter um efeito diferente do que teve de todas as outras vezes... Esquecera-se, por aquele instante, que se não pode esperar reacções diferentes com a mesma "mistura de palavras" de sempre... Sentia de repente que pouco a pouco seria esquecido, sentia que nunca mais seria procurado, aos poucos sentia-se como se não mais fosse ser encontrado... A inquietude do esquecimento fazia com que a brisa que lhe varria o pensamento de quando em volta se transformasse numa tempestade de proporções nunca antes sentidas... As palavras voavam a uma velocidade incontrolável, o pensamento, esse, perdia-se nas palavras e não se encontrava na razão... Sentia como que, se não dissesse tudo agora, ficaria sempre à margem do coração, à margem da vida, à margem do tempo, à margem do mundo... E as palavras voavam soltas, sem direcção... Perdido em pensamentos e em palavras perdidas deixou-se ficar calado... E pediu-lhe baixinho, como quem já não tem força para dizer nada, como quem se perdeu no meio da tempestade, como quem deixa de acreditar no sentido e se deixa levar por um mar de emoções até bater num oceano de desilusões... "Não me ouças... Sente-me, não há nada que diga que faça mais sentido que sentir"... E sorriu, não havia muito mais a fazer que sorrir... E assim, assim se deixou levar pela tempestade carregada de palavras tontas... Palavras que a tempestade lhe arrancava do pensamento, pensamentos que se perdiam em gritos mudos, à margem do tempo, à margem da vida, à margem deles...
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um texto brilhante que é um grito calado...
ResponderEliminar:(
Mas continua a ser um grito, só não é para ser ouvido ;) É daqueles que se sentem, são muito mais barulhentos... :)
ResponderEliminarBeijo
Belíssimo texto em que as palavras e os silêncios se misturam e nos interpelam....
ResponderEliminarBeijo.
Obrigado pela visita Graça ;) O silêncio diz muita coisa não é?!
ResponderEliminarBeijo*
Muito, muito bom...
ResponderEliminarForte abraço