A poesia eternamente sinónimo de melancolia, casou-se obrigada com a tristeza, a mágoa e o pesar. Sinónimo de inteligência da mente e do espírito foi sendo considerada como o género literário mais difícil de compreender e de alcançar.Usada tanto na oralidade como na escrita, a poesia significou sempre um lado triste de alguém, ou o lado sincero.Sempre o compreendi. Sempre me revi na poesia escura e nas palavras duras e sérias e também naquelas vagas, nas metáforas que se compreendem à terceira e no significado que parece ser o nosso. E que e é capaz de ser tão incrivelmente simples.Na vida, não pode ser igual. A poesia não pode estar ligada ao nosso corpo como a nossa figura. Deve sobrepor-se como uma capa e uma mentira se for preciso. A vida não é o que se escreve.Um dia achei que sim quando me entreguei por completo e as palavras eram mais palavras (achava eu) se as sentisse como elas se designam.A morte, o frio, a solidão, a saudade. E tinha que sentir a morte, o frio, a solidão e a saudade.E as palavras chegavam lindas, com um significado imenso, carregadas de sentimento que os outros nunca compreenderiam porque é bom ser-se incompreendido na poesia, e eu chorava e queria morrer e estava bem ali, naquele fundo imenso, naquele abismo cheio de palavras e cheio de sentimentos e sem nenhuma e qualquer vida.Não interessava, porque no caderno tinha tudo e um dia... sempre o sentimento utópico de que um dia, alguém iria saber.Os outros deixaram de ser importantes, não precisava de ninguém para escrever, essa ausência alimentava-me, sustentava-me. E a vida passava. Passava sem que me importasse.Lá fora havia as coisas que escrevia e adivinhava. Havia as pessoas que me amavam como nunca um livro me poderia amar e conheciam-me como nunca um poema meu o poderia fazer.Não interessava, porque o meu buraco escuro conhecia-me, achava eu. E a vida lá fora era fraca, débil, superficial. Na poesia criava o meu mundo e a minha vida tinha interesse e conteúdo e linhas e páginas.Até que um dia, no dia mais triste da minha vida, não fui capaz de olhar directamente nos olhos da minha mãe.E como se eu fosse doente, procurou os meus olhos e não me conhecia.Escrever era um corte que diariamente me aliviava os braços e as pernas e o corpo todo. E os outros não me faziam falta até ali.E nos piores sentimentos que procurei na poesia, encontrei-o ali. À minha frente. Não fui reconhecida por quem estava mais perto.E sem deixar de lado a minha vida, a minha poesia, aquilo que ainda hoje me faz chorar e sorrir, puxei para mim aqueles, que hoje me fazem escrever.
By: Maria Ana
sábado, 26 de setembro de 2009
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